Bandar Live Casino
Terça, 31 Mai 2016 15:40

Edição 6 - Entreteses

banner entreteses 06

Versão em PDF

Junho 2016

Nessa edição, Entreteses apresenta um amplo debate sobre a problemática das drogas lícitas e ilícitas em nosso país. Pesquisadores da Unifesp abordam, entre outros temas, a dependência, o tratamento, os impactos, já verificados, criados pela legalização total ou parcial do comércio da maconha, o mercado bilionário do tráfico, as mortes e doenças associadas ao consumo do álcool e tabaco – e que poderiam ser evitadas –, a importância da atuação das universidades na elaboração de políticas públicas nessa área e na capacitação de profissionais para lidar com a questão e quebrar o estigma que a envolve.

A edição também aborda o combate ao mosquito Aedes aegypti e a proliferação de doenças como dengue, zika e chikungunya. À frente dos estudos preparatórios para a introdução da vacina da dengue no Brasil, o infectologista e professor da instituição Marcelo Nascimento Burattini explica os motivos pelos quais a luta contra o mosquito – erradicado no Brasil em 1955 e reintroduzido 12 anos depois devido ao relaxamento das medidas de combate – é tão difícil.

A seção “perfil” é dedicada ao hematologista Michel Pinkus Rabinovitch. Sua paixão pela ciência e sua busca pela cura do câncer faz com que, aos 90 anos, ainda pesquise moléculas com efeito antitumoral.

As mais de 40 páginas seguintes divulgam pesquisas de diversas áreas do conhecimento e abrangem temas de várias áreas do conhecimento, incluindo câncer, igualdade de gênero, engenharia tecidual, nanotecnologia, toxicologia, dependência de redes sociais, além de um vírus ainda pouco divulgado: o HTLV (vírus T-linfotrópico humano). Considerado “primo” do HIV, seus impactos no organismo podem ser cruéis e levar o indivíduo a desenvolver até mesmo leucemia.

Expediente

Editorial :: Pesquisadores enfrentam os desafios de nossa época

Carta da reitora :: As drogas e a universidade pública

APG :: Quando a ciência provoca deslumbramento

Entrevista • Marcelo Burattini  :: “Só a vacina não resolve, temos que mudar a atitude”

Perfil • Michel Rabinovitch :: “Na ciência, é preciso ser anarquista”

História e filosofia da ciência  :: Contágio, miasmas e microrganismos

Especial • Drogas :: Um desafio do século XXI

Álcool :: Problemas causados pelo consumo custam 7,3% do PIB

Maconha  :: Um mercado de 300 bilhões de dólares

Tabaco :: Principal causa de mortes evitáveis no mundo

Drogas sintéticas  :: Uma nova ameaça à saúde pública

Políticas públicas :: Participação da universidade é decisiva no país

Prevenção :: Educação continuada capacita profissionais

Assistência :: Microrregulação do acesso aos serviços das UBSs ainda é um desafio

Câncer :: Nova esperança para o diagnóstico

Zika vírus :: Muito além da microcefalia

Mal dos tempos :: Jovens desenvolvem dependência de redes virtuais

Neurologia  :: Enxaqueca em crianças está associada a déficit de atenção

Nutrição :: Crianças brasileiras consomem mais frutas

Síndrome metabólica :: Tratamento de obesidade demanda cuidado interdisciplinar

DST • HTLV :: Doença negligenciada

Toxicologia :: Manganês: um risco invisível

Farmacologia :: Pesquisadores apostam em nanotecnologia verde

Polímeros :: A incorporação de biocerâmica em polímeros anuncia novidades na engenharia tecidual

Feminismo :: Preconceito distorce luta pela igualdade de gênero 

 


Outras edições da Entreteses:

banner entreteses 07
banner entreteses 05
banner entreteses04
Publicado em Entreteses

Dificuldades escolares, problemas nas relações familiares e sociais são reflexos da doença, que acomete entre 3,76 e 17,1% das crianças no Brasil; com tratamento apropriado é possível reverter o quadro

Mariane Santos

Desenho de uma menina triste, ela tem sinais de dor na área da cabeça

A queixa de dificuldades escolares é comum em crianças com enxaqueca. Uma pesquisa realizada pelo Setor de Investigação e Tratamento das Cefaleias (SITC), da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo, constatou que crianças que nunca fizeram o tratamento da doença apresentaram déficit de atenção seletiva e alternada, além de expressarem altos níveis de impulsividade durante os testes realizados.

Presente na vida de muitas crianças brasileiras, entre 3,76% e 17,1%, a patologia prejudica as atividades cotidianas dos menores, incluindo o desempenho das tarefas escolares, as relações familiares e sociais. Thais Rodrigues Villa, neurologista chefe do SITC e autora do estudo, explica que as pesquisas sobre a relação entre a atenção visual das crianças e a incidência de enxaqueca foram motivadas pela crescente demanda registrada pelo setor.

Os pesquisadores do SITC decidiram estudar a atenção visual de crianças recém-diagnosticadas e em tratamento preventivo da enxaqueca e compará-las a um grupo controle saudável. Foram analisadas 82 crianças de 8 a 12 anos de idade, divididas em três grupos: 30 crianças com enxaqueca sem tratamento, 22 crianças em tratamento e 30 crianças controle saudáveis.

Os 30 participantes do grupo sem tratamento haviam sido recém-admitidos no Ambulatório de Cefaleias na Infância do SITC. As crianças apresentaram uma média de cinco dias de dor de cabeça por mês, sem uso prévio de qualquer tratamento preventivo para enxaqueca.

Já os participantes do grupo que estava realizando tratamento preventivo da doença eram pacientes regulares do ambulatório, com média de 6 dias de dor de cabeça por mês antes da intervenção, que teve início de 4 a 6 meses antes da avaliação. Ela foi realizada com medicações indicadas para prevenção das crises de enxaqueca, que foram tomadas diariamente. As crianças em tratamento tinham que estar livres de dor e sintomas de enxaqueca nos dois meses anteriores à avaliação.

Já o grupo formado por crianças sem dor de cabeça foi selecionado por meio de questionários preenchidos pelos pais em duas escolas públicas de São Paulo.

Metodologia 

A médica Thais rodrigues villa está sentada atrás de uma mesa, à sua frente estão uma adolescente e sua mãe

Thais Rodrigues Villa durante o atendimento à paciente em tratamento de enxaqueca

A análise das crianças foi realizada entre fevereiro de 2008 e janeiro de 2012. Elas estavam livres de dor e sintomas de enxaqueca nos três dias que antecederam à verificação e foram submetidas a avaliações médicas e neuropsicológicas (veja box na página anterior). 

Os critérios de exclusão estabelecidos foram: qualquer outra doença sistêmica concomitante; anormalidades reveladas no exame neurológico; QI (quociente de inteligência) inferior a 80; distúrbios psiquiátricos; dificuldades de aprendizagem; histórico de epilepsia; traumatismo craniano ou uso de drogas que atuam sobre o sistema nervoso central, incluindo o consumo de álcool, cigarro e drogas ilícitas; utilização anterior de profilaxia de enxaqueca (no grupo de enxaqueca não tratada); e histórico de episódios de dor de cabeça primária (no grupo controle). 

Todos os participantes foram avaliados pela Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC-III), realizado por psicólogos do setor. O teste é um instrumento clínico, de análise individual, que mede a capacidade intelectual de crianças e adolescentes.

Desenho de uma menina, ela está feliz e segura balões coloridos

Menos impulsividade e mais atenção

As crianças com enxaqueca sem tratamento tiveram um desempenho significativamente pior em testes de atenção visual (Trail Makink Test A and B e Test of Visual Attention 3rd Edition – veja o box) em comparação com o grupo controle e o grupo de crianças submetidas ao tratamento preventivo da doença. Já o desempenho em tarefas de atenção foi dentro da normalidade em todos os grupos. Os participantes que nunca trataram a doença apresentaram déficits de atenção seletiva e alternada.

Durante os testes de atenção, crianças com enxaqueca apresentaram altos níveis de impulsividade. Já aquelas em tratamento apresentaram níveis inferiores de impulsividade e ansiedade e o desempenho de atenção semelhantes ao grupo controle saudável, destacando o benefício e eficácia para as crianças.

Em comparação com crianças que não receberam nenhum tratamento, as crianças que receberam melhoraram seu desempenho escolar e receberam menos queixas de pais e professores sobre déficits de atenção.

“É necessário investigar o déficit de atenção em crianças com enxaqueca e procurar ajuda especializada para o tratamento preventivo da dor de cabeça, quando este for indicado. Com um tratamento eficaz, é possível que o equilíbrio cerebral seja restabelecido e observamos melhora dos sintomas da enxaqueca e, consequentemente, dos déficits de atenção associados à doença”, conclui Thais.

 

Testes neuropsicológicos complementares do estudo

Trail Making Test A and B: A - explora a atenção visual, flexibilidade mental, varredura visual e velocidade psicomotora por meio da conexão de números espalhados em uma folha de papel com uma sequência ascendente de um a 15. B – explora a atenção alternada também por meio de uma sequência ascendente de oito números e oito letras alternadas. O desafio é, em ambas as tarefas, executá-las no menor tempo possível e sem erros. A execução em segundos é a principal variável analisada.

Letter Cancellation Test: avalia a atenção seletiva e sustentada em que o sujeito tem que marcar todas as letras A, juntamente com outras letras aleatórias, em uma folha de papel, em um curto período de tempo e com o mínimo possível de erros. Nessa avaliação foram analisados o tempo de execução em segundos e a quantidade de letras omitidas.

Test of Visual Attention 3rd Edition: é um teste computadorizado que consiste em avaliar três tarefas: 1) atenção seletiva; 2) atenção alternada; 3) atenção sustentada. Nele, o avaliado utiliza um joystick (espécie de controle, semelhante ao de um computador ou videogame), para responder ao que o teste solicita. Nesse foram avaliados o tempo de reação (tempo necessário para empurrar o botão do controle em resposta a cada estímulo), a falta de resposta ao estímulo selecionado e o número de erros de ação (a resposta a um estímulo não selecionado).

Artigo relacionado:
VILLA, Thaís R. ; Agessi, Larissa M.; MOUTRAN, Andréa R. C.; GABBAI, Alberto A.; CARVALHO, Deusvenir S. Visual Attention in Children With Migraine: The Importance of Prophylaxis. Journal of Child Neurology, 31 ago. 2015. Disponível em: < http://m.jcn.sagepub.com/content/early/2015/08/27/0883073815601498.full.pdf >. Acesso em: 15 dez. 2015.

Publicado em Edição 06
Página 2 de 2