Apresentação

José Arbex Jr.
Editor

“Divulgar” significa tornar algo conhecido do público. A palavra é formada pela partícula latina dis (indicativa de movimento em sentidos diversos, de dispersão) e pelo verbo vulgare (que significa “espalhar”, “publicar”), segundo informa o professor e tradutor Gabriel Perissé. “Divulgação científica” significa, portanto, uma atividade que tem por objetivo tornar conhecido do público aquilo que se produz em termos de pesquisa e ciência.

Dito dessa forma, elaborar uma revista de divulgação científica aparenta ser uma tarefa simples: bastaria compilar e dar publicidade a tudo o que é produzido por determinada instituição (uma universidade, por exemplo, ou um laboratório). Mas o problema começa quando se considera que a mera atividade de “espalhar” a informação científica não coincide, necessariamente, com torná-la acessível a um público leigo, ao vulgo.

Se a ciência existe e é necessária apenas por não haver transparência entre fenômeno e essência (é preciso desvendar e explicar a relação entre ambos), por outro lado o próprio texto científico apresenta-se, não raro, como enunciado hermético aos “não iniciados”. Para divulgar ciência não basta, por isso, simplesmente publicar um texto científico. É necessário assegurar que ele porte condições mínimas de legibilidade. É aí que se encontra o desafio: como divulgar um texto científico sem abandonar a informação exata e o rigor metodológico?

Sem pretender, no espaço de um editorial, discorrer sobre um tema tão complexo, partimos do pressuposto geral de que a legibilidade de um texto – qualquer que seja o seu conteúdo – só pode ocorrer como uma construção, como um compromisso estabelecido entre autor e leitor, no sentido de buscar a objetividade que deve dar base à pesquisa. Apenas por meio de um processo contínuo de reflexão crítica, ancorado na avaliação dos inevitáveis erros e apreciação correta dos acertos, uma revista de divulgação científica pode atingir o tom adequado, a qualidade do registro necessária e suficiente para, de fato, comunicar algo ao seu público.

Caso se pretenda estabelecer um processo genuinamente democrático, é, portanto, necessário que a revista se abra às observações críticas dos leitores. A divulgação científica, nessa perspectiva, não é e não pode ser entendida como o simples “espalhamento” de um enunciado definitivo, elaborado por um autor que detém o suposto saber e endereçado a um público percebido como mero “receptor”. O melhor sinônimo para “divulgação”, no caso, é “interlocução”.

Em outros termos, a nossa revista será bem-sucedida se conseguir provar-se motor e veículo de um debate sobre a produção científica, tanto a realizada no âmbito da própria Unifesp quanto a que se desenvolve no panorama nacional e mundial. Temos pela frente um longo caminho para sedimentar esse processo. Caso logremos êxito, teremos contribuído para construir uma identidade universitária própria à Unifesp; o fracasso redundará apenas em mais uma publicação que divulga dados em profusão, sem um claro sentido social. Vamos enfrentar o desafio.