Juliano Quintella Dantas Rodrigues
Aluno de doutorado do programa de pós-graduação em Farmacologia
Henrique Camara
Aluno de mestrado do programa de pós-graduação em Biologia Molecular
Gabriel Andrade Alves
Jornalista, com doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina
As recentes medidas econômicas da presidente Dilma para manter as contas equilibradas afetam, e muito, as universidades federais. A verdade é que não é possível ter ideia do atraso que será causado com o grande corte de verbas proposto pelo governo no ano de 2015.
A Unifesp é uma universidade em pleno processo de expansão. Para que sua estrutura e funções possam ser mantidas, são gastos cerca de R$ 680 milhões anualmente. No entanto, os recursos recebidos todos os anos são defasados em algumas dezenas de milhões de reais, e isso faz com que a universidade precise, repetidamente, de complementação de verba. Então vem a notícia do Palácio do Planalto de que haverá um corte na educação. Se não bastasse a tristeza que é receber tal novidade, imagine que o corte orçamentário do MEC está em 600 milhões por mês. Traduzindo, é como se o país perdesse, apenas em 2015, todo o empenho e a produção de uma universidade como a Unifesp durante mais de dez anos.
Claro, isso é mais grave se considerarmos que a Unifesp passa por um processo de expansão que ainda não chegou a seu auge. O que era prioridade para o governo (expandir o alcance das universidades federais) terá agora de ser feito de maneira capenga, após um corte em torno de 30% do orçamento. Será que chegaremos, de fato, à zona leste da capital?
Na área de pesquisa, vamos fazer um replanejamento no orçamento dos projetos. Os animais de experimentação terão de ser bancados e mantidos com o dinheiro para custeio do pesquisador, o que antes era garantido por verbas da universidade. O dinheiro que seria direcionado, por exemplo, para a compra de reagentes e a participação em congressos agora será investido na criação e manutenção dos animais.
Entre as áreas que prioritariamente sofrerão cortes estão as diárias e os contratos de prestadores de serviço. Sem o pagamento daqueles valores não é possível ter pesquisadores visitantes e, sem a prestação de serviços, como garantir o mínimo de estrutura necessária para fazer pesquisa? O ministro Aldo Rebelo (da Ciência, Tecnologia e Inovação) prometeu empenho em restaurar as verbas. Vamos, então, aguardar seus próximos pronunciamentos.
Por que brigar pela manutenção de verbas em um momento delicado das contas públicas como este? A verdade é que o Brasil ainda está muito atrasado. A educação insiste em permanecer entre as piores do mundo. No ranking do Fórum Econômico Mundial, o ensino de Matemática e Ciências no Brasil ocupa o 112º lugar entre 122 países avaliados.
Apesar da melhora sentida e reconhecida ao longo das últimas décadas na pesquisa científica, estamos entre os mais ineficientes do mundo. No ranking elaborado pela revista Nature, nossa eficiência (trabalhos publicados em revistas de prestígio em proporção ao dinheiro investido) é pior que a de países como o Paquistão e o Irã.
O Brasil só será uma potência econômica quando nossos dirigentes e a sociedade civil aceitarem a ideia de que ciência e educação são investimentos, e não gastos.
Perder verbas na educação e no sistema de ciência, tecnologia e inovação para ganhar “leveza orçamentária” é a mesma coisa que serrar uma perna para perder peso. Como vamos ganhar a corrida em busca de um país desenvolvido se dar um passo já é tão difícil e doloroso?
A melhor atitude que Dilma poderia tomar é ser menos autoritária e discutir com os representantes de associações e movimentos sociais a maneira correta de conter verbas, e não atrasar – em “medida imensurável” – o desenvolvimento do país.