Ana Cristina Cocolo, com colaboração de Lu Sudré
Setenta e um por cento da superfície terrestre é coberta por água. Destes, cerca de 97% estão nos oceanos. Os menos de 3% de água doce disponível estão distribuídos, em sua maioria, na forma de geleiras e calotas polares (68,9%) e somente 29,7% estão em aquíferos (incluindo rios e lagos). A maior concentração de água doce é subterrânea. Os ínfimos 1,4% restantes estão nas nuvens e vapores d’água.
Desde a década de 1970, se discute, em nível internacional multilateral, a questão do esgotamento e da exploração insustentável das reservas de água do planeta. A partir dos anos 1990, o problema se agrava, com a crescente privatização e mercantilização dos recursos hídricos. Estudos apontam que 29 países já apresentam problemas com a falta de água, entre eles estão os do Oriente Médio e da África, além de China e Índia. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013, cerca de 770 milhões de pessoas em quase todos os continentes do mundo não tiveram acesso à água potável. Previsões da instituição são claras: se as políticas públicas não mudarem, dois terços da humanidade sofrerão alguma restrição do recurso em 2025 e 50 países enfrentarão crise no abastecimento até 2050.
A água, juntamente com a exploração mineral, o desmatamento e a disputa por terras, já é motivo de conflito em vários países. Um mapa sobre conflitos ambientais no mundo, divulgado, em março de 2014, pela organização não governamental Environmental Justice Organisations, Liabilities and Trade (EJOLT), juntamente com a Universidade Autônoma de Barcelona, mostra que, empatado com a Nigéria, o Brasil ocupa a terceira posição no ranking que mede regiões que sofrem com conflitos e atividades que colocam em risco os recursos naturais do planeta, ficando atrás apenas da Índia e da Colômbia (http://ejatlas.org/).
O Brasil, apesar ser privilegiado – já que possui cerca de 12% da água doce superficial do planeta –, não passa imune à crise hídrica. Apesar de abundante - a Amazônia é a maior bacia fluvial do mundo e detém 70% da água doce do país -, nosso potencial hídrico é mal distribuído. Apenas 30% desse recurso atende aos 93% da população e, nas capitais com maior concentração populacional, sua oferta não atende à demanda.
A Agência Nacional de Águas (ANA) diagnosticou, em seu último Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, de 2013, que 55% dos municípios brasileiros (70% do consumo total de água no país) poderiam ter problemas de abastecimento de água até 2015. Esse percentual representa 71% da população urbana (125 milhões de pessoas). Mas, quando há abundância, a preocupação com o desperdício parece se esvair. Segundo o Ministério das Cidades, em média, 39% da água tratada no Brasil é desperdiçada antes mesmo de chegar à torneira dos consumidores.
O significativo processo de crescimento econômico e melhoria nos indicadores sociais não foram acompanhados por medidas de melhoramento da qualidade dos serviços de saneamento básico. O desenvolvimento deveria ter como objetivo ampliar a oferta, enfrentar os períodos de estiagem, evitar o desperdício e manter a qualidade da água.
Nesta edição, reunimos algumas das pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – em parceria com outras universidades e institutos – que abrangem desde a análise da qualidade da água e a presença de microrganismos até a busca de soluções para descontaminação do recurso e a possibilidade de seu reuso.
São Paulo (e o mundo) pede água
Represa Guarapiranga
Mudança de parâmetros
Represa Billings
Opção questionável
Biorremediação
Bactérias tratam água poluída por refinarias de petróleo