Ana Cristina Cocolo
A maioria das ações de responsabilidade da Enfermagem, como o banho no leito, pode parecer natural e corriqueira para o profissional. Entretanto, para os pacientes internados, o constrangimento e o medo de algumas práticas da Enfermagem geram ansiedade, podendo até mesmo impactar em seu restabelecimento, principalmente, entre aqueles com problemas cardíacos, como demonstra uma pesquisa de doutorado realizada na Escola Paulista de Enfermagem (Unifesp).
Os pesquisadores distribuíram um manual informativo sobre o banho no leito a 120 pacientes com síndrome coronária aguda (infarto), internados em uma unidade de terapia intensiva e submetidos ao procedimento. A escolha por pacientes que sofreram infarto não ocorreu por mero acaso. Juliana de Lima Lopes, enfermeira e autora da pesquisa, explica que a associação da ansiedade e infarto agudo do miocárdio tem mostrado impacto negativo no prognóstico desses pacientes como mostram vários estudos. A ansiedade pode causar ativação do sistema nervoso simpático, aumentando a contratilidade e a frequência cardíaca, a pressão arterial e o consumo de oxigênio. “Essas reações podem agravar o quadro coronário”.
Juliana verificou que, após relatar sobre a necessidade do banho no leito, a ansiedade apresentada pelos pacientes do grupo de controle – que não receberam informações prévias do procedimento – e do grupo de intervenção – os quais foram orientados – eram semelhantes, sem diferença estatística. Após a orientação ao grupo de intervenção, a ansiedade dos pacientes foi significantemente menor quando comparada à do grupo de controle. Já a frequência cardíaca, a pressão arterial e a respiração não sofreram alterações em nenhum momento em ambos os grupos. Os pacientes eram semelhantes quanto às características sociodemográficas e clínicas, exceto pelo fato de que se observou um número maior de tabagistas no grupo intervenção.
Setenta por cento do total de pacientes apresentavam um traço de ansiedade moderado, elevado ou muito elevado e, cerca de 18%, tiveram diagnóstico prévio de depressão, o que mostrou que essa condição pode aumentar em 17,2 vezes a chance do paciente apresentar ansiedade ao ser submetido ao banho no leito. “Também verificamos que, para cada unidade que se aumenta no escore do constrangimento, a chance do paciente submetido ao banho no leito apresentar ansiedade aumenta em 2,8 vezes”, afirma Juliana.
Juliana de Lima Lopes e Alba Lucia Bottura Leite de Barros
A pesquisadora explica que o infarto é uma doença que causa, na maioria das vezes, uma internação inesperada. De uma hora para outra, essas pessoas se vêem em uma situação na qual estão impedidos de se autocuidar. “Minimizar o sentimento de angústia, ansiedade e constrangimento nos pacientes, frente aos diversos procedimentos de Enfermagem, é essencial para uma assistência de qualidade”.
A doença cardiovascular é uma das maiores causas de morbidade e mortalidade no mundo. Só nos Estados Unidos, 82,6 milhões de americanos sofrem do mal, segundo dados da American Heart Association (AHA). No Brasil, números do DATASUS apontam que, somente em 2011, as doenças isquêmicas do coração causaram mais de 231 mil internações, correspondendo a 20% das hospitalizações por doenças do aparelho circulatório e 2% de todas as internações no sistema público de saúde.
Deficiência no dia a dia
Juliana explica que em estudo prévio realizado pelos pesquisadores, observou-se que a ansiedade gerada pelo banho no leito era maior quando comparada ao banho de chuveiro, principalmente antes do procedimento. Além disso, ao longo de sua vivência profissional, em uma unidade de terapia intensiva, observou que a grande maioria dos profissionais de Enfermagem não oferecia orientação de forma a esclarecer as dúvidas do paciente sobre o procedimento e o motivo de o mesmo ser oferecido no leito. Esse fato motivou o estudo.
“A carência de orientação ao paciente ocorre não porque a graduação não forme o indivíduo adequadamente como aquele profissional que acolhe, que é o princípio básico da humanização”, explica Alba Lucia Bottura Leite de Barros, docente da Escola Paulista de Enfermagem (EPE) e orientadora da pesquisa. “O problema é que, quando o profissional entra no mercado de trabalho, a demanda dentro de um hospital, seja ela de pacientes ou de atividades administrativas, como preenchimento de formulários, é tão grande que essas orientações acabam se perdendo”.
Para Alba, o impacto do estudo é justamente mostrar que um procedimento como o banho no leito, no qual você “invade” a intimidade do paciente, se for bem conduzido e baseado nas melhores práticas, traz conforto aos pacientes e garante a sua segurança.
Metodologia e resultados
O estudo foi dividido em duas fases. A primeira foi a de elaboração e validação de um manual informativo, do tipo pergunta e resposta, contendo informações sobre o banho no leito, entre elas, a importância deste tipo de banho e as técnicas utilizadas para sua realização. A segunda fase foi a de avaliação da efetividade de um protocolo de orientação de Enfermagem para redução da ansiedade de pacientes que receberam o banho no leito. Este protocolo foi constituído por orientações de Enfermagem, tanto escritas, por meio de manual informativo, como orais sobre o banho no leito.
A média de idade dos pacientes foi de 60 anos, sendo 68% do sexo masculino. Metade dos pacientes relataram já terem tido internações prévias e quase metade dos participantes relataram já terem vivenciado o banho no leito em outras internações.
Observou-se que o grupo intervenção apresentou uma redução significante da ansiedade após receber as orientações de Enfermagem, resultado este que não foi encontrado no grupo controle.
Tese de doutorado:
Efetividade de um protocolo de orientação de enfermagem para redução da ansiedade de pacientes com síndrome coronária aguda submetidos ao banho no leito: ensaio clínico randomizado. Autora: Juliana de Lima Lopes. Orientadora: Alba Lucia Bottura Leite de Barros.