Rosa Donnangelo
Ângela Capozzolo: o resultado da pesquisa gerou o livro
Em 2008, um grupo de 15 docentes do campus Baixada Santista apresentou ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) o projeto de pesquisa: Formação para o trabalho em saúde: a experiência em implantação nos cursos de graduação, cujo objetivo era o de investigar a proposta de formação em comum dos alunos dos cursos de graduação da área de saúde do campus. A pesquisa, conduzida ao longo de três anos, envolveu os cursos de Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Terapia Ocupacional e foi coordenada por Ângela Capozzolo. Mais especificamente, o foco da pesquisa foi a formação dos alunos participantes do eixo Trabalho em Saúde, um dos eixos comuns aos diversos cursos de saúde do campus Baixada Santista.
Como resultado da pesquisa além dos resultados favoráveis a este modelo de formação, principalmente pela experiência adquirida no atendimento a usuários do sistema de saúde, foi publicado o livro Clínica Comum – Itinerários de uma formação em saúde (Hucitec) e criado o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Formação e Trabalho em Saúde (LEPETS). O livro apresenta a pesquisa, discutindo sua metodologia e resultados pelos próprios pesquisadores e por interlocutores convidados de outras universidades.
A pesquisa procurou contar a história do eixo TS (Trabalho em Saúde), que mescla estudantes de vários cursos de graduação. “O principal objetivo era verificar o que nós estávamos produzindo com essa proposta de formação” explica Ângela. O eixo TS, atualmente coordenado por Virgínia Junqueira, tem como principal objetivo formar o profissional que saiba acolher o usuário do sistema de saúde, identificar suas necessidades e fazer intervenções que visem melhorar sua condição de saúde.
Docentes e grupos de alunos se deslocam para algumas áreas da Baixada Santista, como as de cortiços, palafitas e morros, onde o acesso da população a serviços de saúde é mais difícil. “O que se espera no eixo TS é, por meio das experiências práticas dos alunos e do contato com a população, formar profissionais que não passem simplesmente uma receita, mas que façam um trabalho que dialogue com as diferentes situações em que se encontram os atendidos, com cada pessoa em particular”, afirma Ângela. “Às vezes, o cuidado que determinada pessoa exige do profissional não é algo nem da nutrição, nem da fisioterapia. Nesse aspecto está a importância do eixo comum, do atendimento integrado”, explica.
No primeiro e segundo semestres, os estudantes vão conhecer territórios da cidade, entrevistar moradores e conhecer quais são os principais problemas de saúde na área. Refletem também sobre as políticas de saúde e fazem visitas à rede de serviços, como ambulatórios e centros de saúde. “Os estudantes são preparados para discutir os conceitos de saúde e doença”, explica a coordenadora.
Durante o segundo ano da graduação, os alunos aprendem a fazer a narrativa de vida das pessoas, ouvem suas histórias. Ângela comenta que esse modo de aprendizado ajuda a “quebrar os pré-conceitos” porque os graduandos passam a enxergar de outra maneira como são as condições dessa população perante a saúde, além de aprender a ouvir e compreender as dificuldades de cada um e se aproximar um pouco da realidade em que vivem essas pessoas. De acordo com ela, o aluno entende que ele não cuida só de um pedaço do corpo humano, mas de uma pessoa com certa história de vida, cultura, situação social.
“Esse jeito de cuidar das pessoas não é o mais frequente no serviço de saúde. Muitas vezes, cada profissional faz sua parte específica e a pessoa vai de um serviço pra outro sem ter seu problema resolvido”, lamenta Ângela. A pesquisa revelou que era preciso qualificar, além dos estudantes da Unifesp de forma geral, os profissionais da rede de serviços de saúde de Santos. “É uma proposta que integra docentes, equipes de serviços de saúde de várias áreas e estudantes”, afirma.
O LEPETS, fruto da pesquisa realizada e já concluída, agora abriga outra pesquisa, uma extensão da anterior. “Os alunos e os docentes acharam a proposta de formação importante. Mas será que quem recebe o atendimento acha interessante também?”, questiona Ângela. “Estamos olhando agora as pessoas que recebem o atendimento”, explica Ângela. A nova pesquisa já conta com 10 docentes e cinco estudantes de mestrado.
“Humanizado” não é a palavra exata para definir o atendimento visado pelo eixo comum. O atendimento é integrado, amplo. A pesquisa sobre o eixo propiciou questionamentos necessários para que o projeto eixo comum continuasse, de forma a acrescentar aos profissionais da área, na sua prática, os cuidados e saberes para atender ao paciente, enfatizando a sua história de vida, condição social, valores e cultura.
Pesquisa:
“Formação para o trabalho em saúde: a experiência em implantação nos cursos de graduação – educação física, fisioterapia, nutrição, psicologia, serviço social e terapia ocupacional – da Universidade Federal de São Paulo”. Coordenação: Ângela Capozzolo.