Em busca da expansão da pesquisa e pós-graduação

Soraya Smaili
Reitora da Unifesp

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao longo de sua história e desde os tempos da Escola Paulista de Medicina (EPM), dedicou-se às atividades de pesquisa – nas quais sempre se destacou – e ao desenvolvimento dos cursos de pós-graduação. Na segunda metade da última década, a Unifesp partiu para um crescimento de grandes dimensões, no contexto do programa de expansão do MEC. O número de estudantes na graduação foi multiplicado por oito em apenas seis anos – de 1.200 para quase 10 mil. Cerca de 1.400 docentes atuam em diferentes áreas, nos seis campi situados na Grande São Paulo, na Baixada Santista e em São José dos Campos. Por outro lado, houve pouco ou quase nenhum aumento no número de técnicos administrativos. Como resultado, a estrutura ficou deficiente.

Apesar de não receber recursos específicos de custeio para o desenvolvimento da pós-graduação e extensão, a Unifesp enfrentou positivamente o desafio, em especial na pós-graduação. Criamos 16 novos programas credenciados pela Capes, vários deles em áreas nas quais a Unifesp não tinha tradição de pesquisa ou mesmo pesquisadores formados. O número de pós-graduandos stricto sensu (mestrado e doutorado) passou de 2.700 para 3.111 em julho de 2013. Entre os 51 programas oferecidos, além de alguns novos em fase de credenciamento, há 12 classificados em níveis 6 e 7, com forte inserção internacional e potencial de nucleação em outras universidades e institutos em todo o país.

Fotografia da reitora da Unifesp

Soraya Smaili - Reitora da Unifesp

As razões para essa forte expansão, apesar das carências estruturais, devem-se a fatores que incluem a atuação de um corpo docente com praticamente 100% de doutores e cerca de 25% de livre-docentes, o apoio das agências financiadoras e a tradição de pesquisa. O resultado pode ser visto não apenas na ampliação dos programas de pós-graduação ou na elevação do número e da qualidade dos trabalhos publicados, mas também na qualidade dos cursos de graduação que alcançaram posição de destaque em recentes “rankeamentos”. Esse conjunto de fatores certamente explica por que um curso de graduação atinge avaliação de alto nível, apesar de não ter infraestrutura – de laboratórios ou quadras de esporte – adequada ao desenvolvimento das atividades.

Durante o programa de expansão da graduação, verificamos que o MEC concedeu apoio para bolsas de pós-graduação e algumas linhas de fomento para aquisição de equipamentos. No entanto, a acelerada ampliação do sistema não contou com recursos específicos para custeio, programas de desenvolvimento de infraestrutura e concursos de servidores técnico-administrativos. Com efeito, são insuficientes os espaços adequados à pesquisa e ao convívio e discussão, elementos tão necessários para a criação do ambiente acadêmico.

Por outro lado, há muito o que celebrar pelas conquistas, boa parte das quais deve ser creditada ao corpo docente, técnico e discente altamente qualificado, que pressionou o sistema a dar continuidade à atividade universitária. Ao mesmo tempo, nos perguntamos quanto tempo essa ação, baseada no limite das condições de trabalho, poderá resistir sem que haja consequências para a criatividade, a produção e a troca de conhecimento e de saberes.

É momento, pois, de clamar por mais investimentos, não só para a consolidação da expansão, mas principalmente para a modelagem de uma instituição que permita o debate acadêmico, ofereça condições adequadas de trabalho e assegure um ambiente que possibilite a livre interação e a formação permanente. Para isso, serão necessários laboratórios, espaços físicos, equipamentos, custeio para pesquisa e, principalmente, recursos humanos altamente qualificados para o trabalho técnico-administrativo.

Queremos convocar especialmente a sociedade a formar uma frente de atuação pela universidade pública, reunindo, no caso, todas as demais universidades federais e suas entidades representativas, como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições do Ensino Superior (Andifes). Também queremos envolver as agências financiadoras, sociedades científicas e os Poderes Executivo e Legislativo, por meio de seus representantes, todos engajados na melhoria da educação em nosso país. Queremos, de fato, incluir a sociedade brasileira e sensibilizar nossos governantes. Sabemos que a caminhada é longa e deve ser impulsionada por todos os que desejam o desenvolvimento das instituições universitárias e reconheçam seu valor estratégico para a nação e seu povo. A Unifesp, por sua trajetória de serviços prestados à coletividade, saberá cumprir o seu papel neste cenário.