Carolina Córdula
Pós-doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular
De 12 a 18 de julho deste ano, aconteceu a 67.ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em São Carlos, município localizado no Estado de São Paulo. São Carlos é um importante polo tecnológico, educacional e industrial, que abriga, além de uma universidade federal (UFSCar), dois campi da USP, um instituto federal de educação profissional e tecnológica (IFSP), uma Fatec e o Centro Universitário Central Paulista (Unicep); várias empresas multinacionais, como a Volkswagen, Electrolux e Faber-Castell, estão também ali sediadas. Este ano o desafio da sociedade científica, em um local onde o conhecimento é rotineiramente produzido e aplicado, foi, portanto, outro: atrair e estimular a participação da comunidade na discussão e prática da ciência. Despertar a curiosidade da criança e do adolescente, chamar a atenção dos jovens universitários, provocar os pais, tios e avós. E pode-se dizer que, mais uma vez, a SBPC triunfou na realização de um evento, cuja programação científica, com 6.378 inscritos – entre eles, cientistas, estudantes, professores e gestores de pesquisa e desenvolvimento ligados ao governo e a empresas privadas –, contou também com a participação maciça da comunidade, principalmente no último dia, intitulado Dia da Família na Ciência. Dentro de imensas tendas climatizadas e decoradas, realizaram-se vários experimentos; da Astronomia à Biologia, da Arqueologia à Física, crianças e jovens testaram as leis da natureza e colocaram a mão na massa, discutiram como o corpo funciona, o que é fluorescência, qual a importância do ciclo da água, o que é DNA, como montar um robô. Não foi só uma tarde de diversão e brincadeiras, foi também o despertar de futuros cientistas.
Além das exposições da SBPC Jovem, 60 conferências, 74 mesas e 52 minicursos abordaram a ciência nos mais diversos âmbitos, como Medicina, políticas públicas, biodiversidade, Astronomia, indígenas, educação, biotecnologia, luz etc. Dentre todos esses temas, a atual crise econômica protagonizou muitas discussões. A crise econômica, que chega tardiamente a nosso país, e a crise política associada apresentam-se como dificuldades que exigem alternativas inovadoras, provenientes do governo e também da sociedade. A ciência e a educação brasileiras, áreas estratégicas para o desenvolvimento, estão sofrendo perigosos cortes de orçamento, afetando – no segundo caso – desde a educação básica até o ensino superior. O governo cortou 9 bilhões no orçamento do Ministério da Educação e luta para preservar programas como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), o Ciência sem Fronteiras, o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e o Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência). Só este ano o Fies sofreu o corte de mais da metade das novas bolsas em relação ao ano passado, e o Pronatec, o corte de dois terços do orçamento. Políticas para a ciência e educação foram amplamente discutidas, e o que se viu foi uma grande inquietação acerca das decisões governamentais.
Uma preocupação recorrente da SBPC tem sido a discussão sobre inovação tecnológica – como aproximar ciência e tecnologia da atividade econômica. Academia e indústria juntas inovam, e a economia se torna competitiva. Inovar é criar soluções criativas, inteligentes, úteis para um determinado momento. Diante de um problema (uma crise), inova quem faz diferente, quem arrisca e faz algo a mais. Inovar é arriscar.
Você, como pós-graduando, o que tem feito para ajudar na crise do sistema de educação brasileiro? A pesada maioria dos pós-graduandos desconhece o potencial de contribuição que pode oferecer ao país. Existe, entretanto, um trabalho com impacto tão alto e imediato quanto qualquer outro publicado na Nature ou Science: a atividade de divulgação científica em escolas do ensino fundamental e médio. A isso chamamos extensão. Teoricamente indissociável do ensino e da pesquisa acadêmica. Na condição de pós-graduanda que pratica a extensão, ao mesmo tempo em que desenvolve sua pesquisa, divulgar ciência nas escolas é inovador, porque sai do habitual, expande os horizontes, transforma. Resultado: desperta a vocação científica em crianças e jovens; desperta a consciência do pós-graduando acerca da educação pública e de nossas diferentes realidades, de nossa cultura diversificada, de nossa tolerância e, principalmente, de nosso lugar no mundo.
Para inovar é preciso sair da zona de conforto. Na SBPC Jovem a grande maioria dos expositores, oficineiros e monitores era constituída por estudantes do ensino médio, da graduação e da pós-graduação. Praticando divulgação científica. A SBPC proporciona esse tipo de espaço. Mas existem muitos outros, nas escolas e comunidades. Uma grande oportunidade de contribuir com o nosso país para a superação desta e de outras crises é atrair mentes e corações, crianças e jovens, para a ciência do futuro.
67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em São Carlos, que reuniu crianças e adolescentes nas exposições da SBPC Jovem