Resposta à insulina pode aumentar com o Ginkgo biloba

Experimento revela que essa planta milenar pode favorecer a perda de peso e a manutenção das concentrações de glicose no sangue em indivíduos obesos

Valquíria Carnaúba

Entreteses04 p099 ginkgo biloba

O poder do Ginkgo biloba pode ir muito além de sua capacidade de reduzir tonturas, refrescar a memória, aliviar dores e acabar com o zumbido no ouvido

O Ginkgo biloba é uma árvore de origem chinesa considerada fóssil vivo por existir há mais de 150 milhões de anos; a ativação da memória está entre seus diversos poderes medicinais pesquisados e comprovados, mas a lista pode aumentar em breve. Isso porque Bruna Kelly Sousa Hirata, orientada por Mônica Marques Telles, docente de Patologia e Fisiopatologia do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, traz à luz uma pesquisa que revela forte ligação entre o consumo de Ginkgo biloba e a sensibilidade ao hormônio insulina em indivíduos obesos.

Bruna explica que o estudo, desenvolvido no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp)- Campus Diadema, foi levado adiante devido às evidências na literatura médica que apontam para os efeitos benéficos do extrato de Ginkgo Biloba (EGb) sobre a glicemia de animais saudáveis e diabéticos insulino-dependentes (tipo 1), além de melhorar a função pancreática de indivíduos saudáveis. “Em estudo anterior de nosso laboratório, foi evidenciado que a administração do fitoterápico em animais obesos foi capaz de melhorar a resposta glicêmica após estímulo insulínico, além de reduzir a adiposidade corporal e impulsionar etapas da via de sinalização do hormônio em tecido muscular”.

Entreteses04 p100 pesquisadoras

Bruna Hirata (à esq.), orientada por Mônica Marques Telles (à dir.), apresenta dados promissores sobre os efeitos do EGb para a sinalização insulínica

“Com base nos resultados iniciais, o objetivo de minha dissertação de mestrado foi elucidar a ação do extrato de Ginkgo biloba na resistência à insulina e inflamação presentes no tecido adiposo de animais obesos”. A diminuição da captação de glicose, por exemplo, está associada à queda da taxa de fosforilação do IR e IRS-1 (receptor e substrato do receptor de insulina presentes nas células dos tecidos adiposos), além da diminuição das concentrações plasmáticas de adiponectina (proteína plasmática produzida pelo tecido adiposo que possui efeitos anti-inflamatórios). “Além disso, na obesidade estão elevados os níveis de TNF-α, uma importante proteína de sinalização celular promotora do processo de inflamação que está envolvida nas etapas iniciais da resistência à insulina, no plasma sanguíneo e no tecido adiposo de indivíduos obesos”.

Esses fatores citados por Bruna são alguns dos que afetam a homeostase da glicose, ou seja, alteram os níveis da sua concentração no sangue. A insulina, secretada por um grupo especial de células pancreáticas localizadas nas ilhotas de Langerhans, é essencial para a manutenção do equilíbrio de açúcar no sangue. Quando elevados níveis de glicose são detectados nesse órgão, a insulina é liberada no sangue, onde fica disponível até se ligar a receptores presentes na membrana de células musculares ou adiposas. Quando isso acontece, grupos fosfato são transferidos de moléculas doadoras de energia (ATP – adenosina trifosfato) a esses receptores (substratos), processo denominado fosforilação e que tem por objetivo fazer com que ao final da ativação da cascata de sinalização insulínica, o transportador de glicose (GLUT4) seja translocado para a membrana celular, permitindo que o monossacarídeo entre na célula e seja quebrado para a produção de energia.

Metodologia

Para avaliar a influência do EGb nesses processos, ele foi administrado em 34 ratos com obesidade induzida por dieta hiperlipídica, ou seja, rica em açúcares e gorduras, no período de 2 a 4 meses após o nascimento dos animais. A partir do 120º dia, os obesos foram separados em dois grupos de 17 cada um e continuaram submetidos ao regime especial por mais 14 dias. No primeiro grupo, foi realizada gavagem (método de introdução de alimentos líquidos no estômago através de um tubo pela boca) com 1mL de solução salina; na outra metade, foi realizada gavagem com uma quantidade de EGb equivalente a 500mg por quilo do animal diluído em 1mL de solução salina.

Ao final do experimento, os animais tratados com o composto apresentaram redução de 62% do ganho de massa corporal em relação aos não tratados. Além disso, o tratamento contribuiu com um aumento de 33% na expressão do gene Adipo R1 e de 70% no gene IL-10 (outra importante proteína anti--inflamatória); elevou o grau de fosforilação de proteínas envolvidas na via de sinalização insulínica, tais como o IR em 218% e da AKT em 67%, além de reduzir em 36% os níveis de TNF-α no tecido adiposo retroperitoneal e em 60% a fosforilação de NFκB p-65 (proteína responsável pela ativação de genes inflamatórios). Outro efeito interessante que Bruna revela é a diminuição do tamanho dos adipócitos, células do tecido adiposo com capacidade de armazenar triglicerídeos em quantidades entre 80% a 95% do próprio volume. “O EGb diminuiu a capacidade de reserva de gordura dessas células, reduzindo seus tamanhos em 15%, em média”.

Entreteses04 p100 molecula glicose

“A resistência crônica à insulina, decorrente da obesidade, pode desencadear o diabetes tipo 2; ou seja, a pessoa produz o hormônio, mas ele não funciona, pois a via de sinalização fica prejudicada”, explica Bruna. O experimento sinaliza ser possível o consumo de EGb em seres humanos com igual eficácia, de maneira a melhorar o perfil glicêmico, diminuir a adiposidade corporal, aumentar a sinalização insulínica e modificar a expressão gênica de proteínas anti-inflamatórias, atenuando a inflamação no tecido adiposo retroperitoneal.

A pesquisadora espera que, consequentemente, a planta torne-se uma poderosa aliada no combate à obesidade, doença crônica de causa multifatorial caracterizada pelo excesso de gordura corporal. Considerada uma das doenças mais graves da atualidade, vem apresentando um rápido aumento em sua prevalência nas últimas décadas, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. “Isso ocorre porque quem possui sobrepeso geralmente tem dificuldade para se adaptar a dietas de restrição alimentar”.

É importante ressaltar que estão sendo analisadas outras vias que podem mediar o efeito do Ginkgo biloba. “Continuamos monitorando o comportamento do tecido adiposo e seu metabolismo, assim como possíveis modificações de incorporação e liberação de lipídios. Também realizaremos a análise proteômica desse tecido para ver se há diferenciação de proteínas expressas em resposta ao tratamento com EGb. Ademais, avaliaremos também a microbiota intestinal, uma vez que na obesidade ocorre alteração de sua composição e esse fator poderia prejudicar a homeostase energética e predispor graves complicações metabólicas. O EGb, por ser rico em flavonóides, poderia atuar como um regulador da microbiota intestinal”, finaliza a pesquisadora.

O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As bolsas de estudo dos alunos foram fornecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

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BANIN, R. M.; HIRATA, B. K. S.; ANDRADE, I. S.; ZEMDEGS, J. C. S.; CLEMENTE, A. P. G.; DORNELLAS, A. P. S.; BOLDARINE, V. T.; ESTADELLA, D.; ALBUQUERQUE, K. T.; OYAMA, L. M.; RIBEIRO, E. B.; TELLES, M. M. Beneficial effects of Ginkgo biloba extract on insulin signaling cascade, dyslipidemia, and body adiposity of diet-induced obese rats. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Ribeirão Preto, v. 47, nº 9, p. 780-788, set. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-879X2014000900780&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 abr. 2015.

HIRATA, Bruna K. S.; BANIN, Renata M.; DORNELLAS, Ana Paula S., ANDRADE, Iracema S.; ZEMDEGS, Juliane C. S.; CAPERUTO, Luciana C.; OYAMA, Lila M.; RIBEIRO, Eliane B.; TELLES, Monica M. Ginkgo biloba extract improves insulin signaling and attenuates inflammation in retroperitoneal adipose tissue depot of obese rats. Mediators of Inflammation, artigo 419106, volume 2014.  Disponível em: <http://www.hindawi.com/journals/mi/aa/419106/>. Acesso em: 15 abr. 2015.