Carolina R. Córdula
Pós-Doc do Programa de Biologia Molecular da Unifesp
Estudantes participam de oficina sobre meio ambiente, ministrada pela Prof.ª Aline Mendes
O conceito de extensão universitária ainda me era confuso quando ingressei na universidade. Somente tive oportunidade de vivenciar tais ações em toda sua magnitude na pós-graduação. Durante o mestrado e doutorado, fui orientada pela professora Helena Nader dentro do Programa de Pós-graduação em Biologia Molecular da Unifesp. Em 2008, ela convocou os alunos de pós-graduação, técnicos e docentes para propor a remontagem de um curso de atualização para professores de Ciências e Biologia do ensino básico da rede pública (denominado Papem, à época). O curso já havia acontecido em 1999 e em 2002, como resultado final de um curso de didática para pós-graduandos, coordenado pela professora Marimélia Porcionatto.
Na edição de 2002, o Papem foi selecionado pelo governo do Estado de São Paulo para capacitar os professores dentro do Programa Pró-Ciências. Ao final dele, foi proposto aos professores-cursistas o planejamento e execução de uma atividade com seus estudantes cujo tema estivesse ligado a temas discutidos durante as aulas. Após dois meses, os professores retornaram com os resultados. Na edição de 2011, os 41 professores-cursistas atingiram 2.290 alunos com atividades práticas em laboratórios, peças teatrais, produção de materiais didáticos, etc. Com o sucesso, o Papem tornou-se anual, desde 2008, e não paramos mais de atuar em cursos e oficinas para estudantes e professores. No mesmo ano, passamos a integrar a Rede Nacional de Educação e Ciência, que reúne atualmente 30 grupos em 19 universidades de renome por todo o Brasil.
A Rede Nacional de Educação e Ciência é um programa que visa à melhoria das condições de ensino de Ciências à jovens carentes de todo o país, buscando diferentes maneiras de se ensinar e praticar ciência, desmistificando-a. A iniciativa deste projeto deve-se ao prof. Leopoldo de Meis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que, no final dos anos 1980, realizou os primeiros cursos. Quando começou a organizar cursos de férias para jovens de baixa renda da periferia do Rio de Janeiro, percebeu que alguns deles se destacavam pelo interesse e dedicação aos experimentos. Esses jovens talentosos foram convidados, então, a estagiar em seu laboratório, sob a supervisão de estudantes de pós-graduação.
O curso acontece nesse formato até hoje.Nele os selecionados são familiarizados com o trabalho científico e ajudam seus monitores no desenvolvimento de pesquisas. Nessa relação, ainda é possibilitado ao pós-graduando um maior contato com a realidade social brasileira. Segundo a professora Vivian Rumjanek, da UFRJ e integrante da Rede, 91% dos alunos cursistas já completaram o ensino médio, 53% dos jovens entraram na universidade e 11,6% fazem ou fizeram pós-graduação. Além disso, um ex-aluno fez pós-doutorado na Escola de Medicina da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Várias outras ações são desenvolvidas pelos integrantes da rede, de acordo com a realidade de cada universidade participante. Em todos os grupos que a integram, a atuação dos estudantes de pós-graduação é absolutamente essencial para realização das atividades.
No ano de 2009, Helena Nader, à época vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) – que atualmente a preside –, Marimélia e mais quatro pós-graduandos (incluo-me nesse grupo) se reuniram para montar uma oficina de Biologia direcionada a estudantes do ensino fundamental e médio que participariam da Reunião Regional da SBPC em Tabatinga, no meio da selva amazônica, a 1.105 km de Manaus, na fronteira com a Colômbia e o Peru. Para nós, uma incrível aventura e imersão cultural que transformaria nossa visão de Brasil e de mundo.
Montamos a oficina com o título Vivenciando a Biologia na quadra esportiva da Escola Estadual Pedro Teixeira e recebemos todas as escolas municipais de Tabatinga, além de algumas escolas da cidade colombiana de Letícia e da comunidade indígena Ticuna.
Na oficina, abordamos temas como saúde pública, nutrição, meio ambiente, sustentabilidade e biologia dos seres vivos, com observação de células ao microscópio, extração de DNA de frutas e identificação de proteínas em alimentos. Com a oficina estruturada, começamos a ministrá-la nas reuniões regionais e nacionais da SBPC, desde 2009 até os dias de hoje. Já estivemos em Recife (PE), Cruz das Almas (BA), Natal (RN), Goiânia (GO), Mossoró (RN), São Luís (MA), Oriximiná (PA) e Manaus (AM). Em 2010, submetemos o projeto para ao edital do Programa Novos Talentos, da Capes, sob a coordenação da Marimélia, permitindo-nos expandir o número de oficinas realizadas, de pessoas envolvidas com o projeto e de lugares alcançados em todo país.
De olho na integração da educação básica com a pós-graduação, o CNPq criou um edital destinado a bolsas de iniciação científica júnior para contemplar estudantes do ensino médio que fazem iniciação científica em universidades. Atualmente, o Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular da Unifesp possui 13 bolsistas nesta categoria.
Os pós-graduandos que, além da pesquisa, se envolvem em atividades de ensino e extensão, mesmo pressionados por prazos e cobranças focadas na produção científica, desenvolvem maior autonomia e consciência social, tornam-se profissionais que desejam e são capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária, por meio da ação de educar, de divulgar e despertar a curiosidade de jovens e adultos pela ciência. O deslumbramento de uma criança ao vivenciar a ciência é um momento mágico. Não há recompensa maior.