Da redação
Colaborou Flávia Kassinoff
A prática de exercícios regulares é extremamente benéfica para a saúde do ser humano. A atividade física traz adaptações orgânicas, cardiovasculares e muscoloesqueléticas capazes de reduzir a mortalidade e impedir a evolução de algumas patologias, como a doença coronária. Para tais pacientes, um tratamento recomendado é a reabilitação supervisionada, que consiste na prática de exercício físico realizado em clínicas especializadas com a supervisão de profissionais da área. Entretanto, esse tipo de procedimento encontra limitações decorrentes, principalmente, dos custos e da dificuldade de mobilidade urbana no ambiente das grandes metrópoles. Pouco menos de 25% dos pacientes indicados para reabilitação participam de treinamento nos centros especiais. Desses, 25% a 50% dos casos interrompem o tratamento em um semestre e 90% desistem em até um ano.
Japy Angelini Oliveira Filho, professor e chefe do setor de Ergometria, Exercício e Reabilitação da disciplina de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (EPM/Unifesp), investiga essa área há anos.“Observamos que a maior parte dos pacientes que precisam de reabilitação, não a tem. Isso não é próprio do nosso país e nem de São Paulo. Isso é uma coisa que acontece no mundo todo. Existe uma série de empecilhos à participação do paciente em programas de reabilitação clássica em uma clínica: falta de clínicas especializadas, dificuldades propiciadas pelo ambiente de grandes cidades, como distância do centro, problemas de horários e custos”, explica o pesquisador que investiga essa área há anos.
Como alternativa a esse cenário, desponta a reabilitação não supervisionada ou semissupervisionada, que pode ser realizada em locais diversos como parques, academias, clubes e condomínios, mediante orientação médica prévia. “Surgiu uma reabilitação que propunha que se fizesse exercício para cardiopatas selecionados. Lógico que não podem ser casos graves, nem exercícios muito intensos. Mas que desse chance para que esses pacientes selecionados, de menor gravidade, pudessem fazer exercícios por conta própria. E esses cardiopatas que podem fazer exercícios, dentro da multidão dos afetados, correspondem a uma grande percentagem”, afirma o professor.
Diante disso, Oliveira passou a prescrever esses exercícios em seu consultório e, em 1997, participou de um consenso na Sociedade Brasileira de Cardiologia que definiu os critérios para a reabilitação não supervisionada. No evento foram estabelecidos os tipos de pacientes elegíveis para esse tratamento. As contraindicações são para aqueles que possuem VO2 (nível de absorção de oxigênio pelo sangue) superior a 18 ml/kg/min, arritimia ventricular complexa, antecedentes de parada cardíaca primária, obesidade importante, hipertensão arterial refratária, diabetes mellitus descompensado, entre outros.
Dados de pesquisas estrangeiras indicam que o risco de parada cardiorespiratória é de 1 a cada 70.000 pacientes por hora na reabilitação não supervisionada. A estatística corresponde a 100 pacientes que se exercitam três vezes por semana tendo uma parada cardíaca a cada 5 anos. Uma taxa consideravelmente pequena. Uma vantagem é que o custo desse tipo de reabilitação é muito menor que o da reabilitação padrão, praticamente a metade da verba, sendo um tratamento acessível.
Estimulado por esse consenso, o professor e seu grupo levantaram as fichas do consultório e escreveram o primeiro tema livre brasileiro sobre o assunto, tendo como base o treino dado a 19 pacientes coronários. Em seguida, desenvolveram um artigo original que teve como objetivo analisar a segurança e eficácia desse tipo de reabilitação, avaliando 30 pacientes divididos em dois grupos. O primeiro, formado por 15 pacientes submetidos à reabilitação não supervisionada, praticando exercícios sob supervisão indireta durante consultas periódicas; o segundo, por pacientes que receberam as orientações gerais para prática de exercícios, mas não obtiveram a semissupervisão. Os resultados provaram que a reabilitação não supervisionada é realmente eficaz e não apresentou riscos.
“Foi o primeiro artigo de reabilitação não supervisionada que teve em nossa língua, feita aqui no Brasil. Depois continuamos nosso trabalho, juntamos mais casos e conseguimos vários pós-graduandos que seguissem essa linha. É um estudo um pouco difícil porque é muito artesanal, principalmente não se tendo uma instituição voltada para isso. Mas apesar de tudo, conseguimos duas teses de doutorado sobre o tema em dois grandes grupos que é doença coronária e insuficiência cardíaca. Agora estamos desenvolvendo outra pesquisa nessa mesma linha com pacientes idosos”, afirma o professor.
Artigos:
OLIVEIRA FILHO, J. A. et al. Reabilitação não supervisionada: efeitos de treinamento ambulatorial a longo prazo. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. [online] v. 79, n. 3, p. 233-238, set. 2002. Disponível em: < http://publicacoes.cardiol.br/abc/2002/7903/default.asp >. Acesso em: 08 set. 2014.
OLIVEIRA FILHO, J. A.; SALVETTI, X. M. Reabilitação não supervisionada ou semi-supervisionada. Uma alternativa prática. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. [online] v. 83, n. 5, p. 368-370, nov. 2004. Disponível em: < http://www.arquivosonline.com.br/2004/8305/default8305.asp >. Acesso em: 08 set. 2014.
SALVETTI, X. M. et al. How much do the benefits cost? Effects of a home-based training programme on cardiovascular fitness, quality of life, programme cost and adherence for patients with coronary disease. Clinical Rehabilitation. [online] v. 22, n. 10-11, p. 987-996, out.- nov. 2008. Disponível em: < http://cre.sagepub.com/content/22/10-11.toc >. Acesso em: 08 set. 2014.
SERVANTES, D. M. et al. Effects of home-based exercise training for patients with chronic heart failure and sleep apnoea: a randomized comparison of two different programmes. Clinical Rehabilitation. [online] v. 26, n. 1, p. 45-57, jan. 2012. Disponível em: < http://cre.sagepub.com/content/26/1.toc >. Acesso em: 08 set. 2014.