Flávia Kassinoff
De origem chinesa, a espécie da Ginkgo biloba foi considerada por Charles Darwin um “fóssil vivo”, devido a sua morfologia muito similar a de algumas plantas já extintas. Sua idade é de aproximadamente 200 milhões de anos. É a última representante da família Ginkgoaceae e supõe-se que seja a espécie de árvore com vida mais antiga do planeta. É também uma planta que sobreviveu à bomba atômica despejada sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, brotando do solo da cidade japonesa devastada e resistindo à radiação.
A palavra “Ginkgo” tem origem chinesa e significa damasco prateado, e “biloba” é referente ao formato das folhas com dois lóbulos. O extrato retirado de seu tecido vegetal já é utilizado pela medicina oriental há 4 mil anos e suas propriedades terapêuticas são alvo, atualmente, de muita especulação e pesquisa. Acredita-se que o extrato padronizado de Ginkgo biloba (EGb) seja um nootrópico, ou seja, substância capaz de aumentar a capacidade cognitiva no ser humano. Assim, é utilizado como intensificador de memória. Porém, recentemente, alguns estudos questionaram esta eficácia.
As dúvidas e contradições verificadas na literatura científica sobre o EGb motivaram a professora Suzete Maria Cerutti a elaborar uma pesquisa para investigar o seu potencial terapêutico. Esta pesquisa foi realizada pela aluna de mestrado Cláudia Raquel Zamberlam e intitulada: Participação da neurotransmissão glutamatérgica, gabaérgica e serotoninérgica na aquisição do medo condicionado: possíveis alvos terapêuticos do extrato padronizado de Ginkgo biloba L.
A pesquisa foi premiada como melhor trabalho de mestrado no IV Fórum Integrador de Pesquisadores da Unifesp. Segundo Suzete, o projeto é original por englobar diversas áreas de pesquisa e também por abrir novas possibilidades de discussões a respeito dos efeitos do EGb na cognição. “O projeto poderá trazer contribuições científicas importantes pelo seu caráter inovador, pois busca a interação de diferentes áreas de pesquisa que englobam a morfologia, biologia celular, biologia molecular e biologia de sistemas com o intuito de explicar os efeitos do EGb na ansiedade e na memória. A possibilidade de comprovar que o EGb apresenta eficácia e menos efeitos colaterais abre novas perspectivas de tratamento para a população de uma forma geral, com isso, benefícios para a saúde pública”, diz a professora.
A pesquisa pode gerar uma nova abordagem farmacológica para o tratamento de déficit cognitivo ou transtornos relacionados à incapacidade de supressão da resposta condicionada, como ocorre na ansiedade. Está sendo avaliada a viabilidade da realização de testes clínicos para analisar a eficácia do possível tratamento em seres humanos.
O estudo analisou a ação do extrato em diferentes fases da formação da memória (aquisição, armazenamento e evocação). Para tanto, foi adotado um protocolo de experimentação animal, com ratos Wistar, onde os animais eram privados de água por 16 horas antes de serem submetidos a aquisição e evocação. As intervenções farmacológicas (dose de EGb) foram feitas em momentos estratégicos do processo.
Os resultados mostraram que na dose maior o extrato de Ginkgo biloba favoreceu a retenção da aprendizagem. “Os resultados foram plenamente satisfatórios, com baixa variabilidade e significância estatística. Ainda, os dados nos dão evidências experimentais importantes do efeito do EGb na memória e, com isso, contribuem com a ciência. É importante ressaltar que estes dados, juntamente com dados anteriores do grupo, nos ajudam a compreender a aparente contradição existente na literatura a respeito dos efeitos do EGb. Essas contradições podem estar associadas a variabilidade de protocolos experimentais adotados, via de administração, dose e tempo de tratamento, bem como animal experimental utilizado”, completa a orientadora Suzete.
Dissertação de mestrado:
“Participação da neurotransmissão glutamatérgica, gabaérgica e serotoninérgica na aquisição do medo condicionado: possíveis alvos terapêuticos do extrato padronizado de Ginkgo biloba L”. Autora: Cláudia Raquel Zamberlam. Orientadora: Suzete Maria Cerutti.