Com o dedo na ferida…

Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni
Pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa

Muito mais que conhecer as pesquisas realizadas na Unifesp, neste número somos desafiados a encarar alguns dos principais problemas que nos afligem todos os dias. A matéria de capa apresenta estudos e reflexões sobre os diversos tipos de violência: da urbana, escancarada diariamente na TV e em manchetes de jornais, à doméstica, escondida em milhões de lares brasileiros. Violência que muitas vezes somos tentados a não ver para não termos de agir, saindo de nossa zona de conforto. Violência dissimulada e disseminada, impregnada de preconceitos, atingindo crianças, adolescentes, mulheres e homossexuais. Violência que se transforma em trauma e repete-se, perpetua-se em um ciclo vicioso e perverso. Violência banalizada e institucionalizada. Violência nas escolas e universidades. Justamente onde se deveria esperar que fosse combatida, encontra-se um palco para o bullying – violência disfarçada de brincadeira, que mina a sensibilidade e a tolerância. A sociedade precisa mudar. A sociedade somos nós. Nós precisamos mudar. 

A educação precisa mudar, e a reforma curricular é um dos temas polêmicos discutidos neste número. Será esta a mudança que queremos e de que precisamos? Alterar só o currículo não basta, é preciso mudar as atitudes, recuperar o bom senso (e o bom humor) para não cairmos “no avesso, do avesso, do avesso”, como diria Caetano. Para que tudo não passe a ser “politicamente incorreto”, gerando ainda mais intolerância. 

Felizmente, ainda há espaço para a solidariedade e a esperança em mudanças positivas. Há também quem tenha coragem para enfrentar interesses econômicos e políticos que beneficiam a poucos, em defesa dos direitos humanos, como o padre Júlio Lancelloti, cujo perfil é descrito nesta edição. Ele mostra que humanidade, respeito e amor ao próximo não são palavras piegas, comuns à pregação religiosa, mas valores a serem resgatados, sob o risco de a humanidade não sobreviver a si mesma. 

Valores positivos e superação de limites também permeiam os estudos sobre atletismo paraolímpico apresentados no ICSEMIS, congresso realizado na Baixada Santista, sob a coordenação local de pesquisadores da Unifesp, que ocorre uma vez a cada quatro anos, sempre no país-sede dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. 

Ressurgem também esperanças para o desenvolvimento da pesquisa com a redução da burocracia que poderá advir da aplicação do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei nº 13.243/2016), como esclarece o entrevistado Fernando Galembeck, pós-doutor pelas Universidades do Colorado e da Califórnia, ex-diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia e atual professor convidado da Unicamp. 

Nesta edição, conheça também um pouco da história de nosso curso de Ciências Biomédicas, que em 2016 completou 50 anos de existência e cuja história se confunde com a da pesquisa científica na Unifesp e no Brasil. E há muito mais... Boa leitura!