Campus aberto à educação pública

Estudantes de ensino médio participam de ações do Campus Baixada Santista que estimulam reflexões sobre diversidades, sociedade e direitos humanos

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As atividades do projeto realizadas na Etec Aristóteles Ferreira, em Santos, foram finalizadas em evento no Campus Baixada Santista (2018) / Imagem: arquivo pessoal

Texto: Tamires Tavares

Comprometido com a promoção de direitos humanos e políticas educacionais e de saúde para os jovens, o projeto de extensão Juventudes & Funk na Baixada Santista: territórios, redes, saúde e educação atua, desde 2014, em parceria com escolas públicas nas proximidades do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) – Campus Baixada Santista. Iniciado por Cristiane Gonçalves da Silva, docente no Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva, e Patrícia Leme de Oliveira Borba, docente no Departamento de Saúde, Educação e Sociedade, o projeto é desenvolvido junto com estudantes universitários dos cursos de psicologia, terapia ocupacional e serviço social e conta com a colaboração de docentes e técnicos da universidade. 

O Juventudes & Funk na Baixada Santista ocorre a partir da interlocução com estudantes secundaristas, gestores e professores de escolas do ensino médio e está associado ao Laboratório Interdisciplinar Ciências Humanas, Sociais e Saúde (Lichss/Unifesp) e ao Projeto Metuia/Unifesp – grupo interinstitucional que atua sobre as temáticas da formação e da pesquisa em Terapia Ocupacional Social. O projeto tem como base pressupostos do educador Paulo Freire que se refletem na interdisciplinaridade e em seu processo educativo horizontalizado. Nesse processo, valoriza, inclusive, a formação de vínculos de confiança entre os membros da comunidade acadêmica e da sociedade civil, por meio da interação dos estudantes universitários e dos ensinos fundamental e médio – por compartilharem os processos de expressão, linguagem e vivências com aspectos geracionais em comum.

Para abordagem das temáticas trabalhadas, são utilizados diferentes métodos e técnicas, como rodas de conversa, palestras, visitas técnicas, mediação de conversas com especialistas, técnicos, lideranças de movimentos sociais envolvidos com o tema na escola, oferta de materiais audiovisuais e de leitura, dinâmicas e jogos expressivos, debates, conversas em ambientes virtuais. “Todos eles se pautam e creditam ao diálogo uma ferramenta formativa fundamental para os processos de conscientização e transformação que desejamos construir, tanto no espaço escolar, de forma específica, e na sociedade, de uma forma geral”, ressalta Silva.

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Estudantes de diversos cursos da Unifesp atuam no projeto sob coordenação de Cristiane Gonçalves e Patrícia Borba (ambas ao centro) / Imagem: arquivo social

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Na escola Paulo Clemente, por meio das ‘oficinas da diferença’, que ocorrem desde 2016, as propostas interventivas dos estudantes tornaram centrais questões sobre expressão de gênero, saúde reprodutiva e sexualidade / Imagem: arquivo pessoal

Ocupando espaços 

Além das atividades prioritárias nos territórios escolares, o projeto de extensão é frequentemente convidado para desenvolver ações junto a outras instâncias da universidade, como atividades em outros campi e participações em módulos de formação específica ou comum aos cursos do Instituto de Saúde e Sociedade - é o caso da pesquisa temática Vulnerabilidades de Jovens às IST/HIV e à Violência entre Parceiros: avaliação de intervenções psicossociais baseadas nos direitos humanos. Há, também, uma preocupação em ocupar o espaço universitário com a presença de jovens, organizando atividades com participação da comunidade, dentre os quais destaca-se Batalha de Rimas de Rap e Funk - com presença do movimento hip-hop e de MCs de funk (2016), e as rodas de rimas com movimento hip-hop da Baixada Santista (2018).

Grande parte do trabalho desenvolvido está nas ações em parceria com escolas públicas estaduais. Atualmente, destacam-se as parcerias com a Escola Técnica Estadual Aristóteles Ferreira, Escola Estadual de Ensino Fundamental Paulo Clemente Santini e Escola Estadual de Ensino Médio Padre Bartolomeu de Gusmão, com o intuito de dialogar a respeito de temáticas características do contexto, estilos de vida, geração e direitos dos estudantes – adolescentes e jovens plurais. Gênero e sexualidade, raça e etnia, o bairro onde vivem, os espaços por onde circulam, o uso da internet, os interesses juvenis e as possibilidades de acesso aos bens culturais são assuntos recorrentes nas atividades, que marcam a reflexão sobre as diversidades de tal maneira que ela possa ganhar existência nos espaços grupais e coletivos de forma respeitosa e crítica. 

Para Priscilla Karaver, estudante de Psicologia e participante do projeto, são muitas as contribuições da extensão para a formação acadêmica. “As trocas de vivências e conhecimentos e a construção coletiva com as pessoas do projeto e os jovens proporcionam crescimento mútuo, que não aconteceria se não estivéssemos inseridos nesses contextos. A sala de aula não nos proporciona essas experiências”, comenta.

Em cada escola o número de estudantes que participam do projeto varia, assim como as propostas interventivas. Somente no ano de 2018, por exemplo, foram atingidos diretamente cerca de 1.500 discentes, além de cerca de 60 professores nas escolas. “Como resultado desses processos reflexivos nas escolas por meio da inserção da extensão, há uma mudança nas relações cotidianas dos estudantes, como identificado pela direção pedagógica de uma das instituições participantes. As trocas passaram a ser mais afetivas, com possibilidades de experiências múltiplas e convivência respeitosa na diversidade”, relata Silva.

 

www.facebook.com/JuventudesFunknaBS