Um museu que inspira o futuro

Parque de Ciência e Tecnologia, instalado no Campus São José dos Campos, recebeu cerca de mil visitas desde sua inauguração

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Texto: Valquíria Carnaúba

Há coisa melhor do que aprender experimentando? Essa é uma das propostas do Parque de Ciência e Tecnologia, instalado há pouco mais de cinco anos no Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT/Unifesp) - Campus São José dos Campos. Criado em 2014 para promover a divulgação de experimentos científicos e tecnológicos, de caráter interativo e interdisciplinar, o espaço já recebeu mais de mil pessoas, entre alunos, professores, funcionários e público externo, desde o início de seu funcionamento. Com financiamento concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre os anos de 2014 e 2017, o que era para ser um projeto transformou-se em programa de extensão. Por ter atingido objetivos mais amplos, como a divulgação do trabalho realizado no ICT/Unifesp e a popularização da ciência e da tecnologia, permanece até hoje com as portas abertas ao público, embora conte com o suporte exclusivo da comunidade acadêmica. 

A ação extensionista desenrolou-se há cinco anos, a partir da união de sete subprojetos, gerenciados por diferentes equipes de professores responsáveis, cada qual dentro de sua área de atuação: Integrando as Neurociências Cognitivas; História do Computador; Ovo de Colombo de Tesla; Moléculas e suas Propriedades; Ilustrando Conceitos Físicos e Matemáticos; Conjunto de Experimentos em Realidade Aumentada (Cera); e Núcleo Educacional de Tecnologia Social e Economia Solidária (Netes) Itinerante: Caminhos para CT&I e Sustentabilidade. Atualmente, o Parque de Ciência e Tecnologia encontra-se instalado no andar térreo do ICT/Unifesp e divide-se em duas partes: a interna, com 92 m², delimitada por divisórias de octanorm, onde estão dispostas mais de 20 atrações, e a externa, um hall de exposição de 20 m² com itens variados – de máquinas de escrever antigas a cartões perfurados, precursores da memória usada em computadores.

O espaço foi inspirado em outros museus de ciências, como o Catavento Cultural (São Paulo), Sabina - Escola Parque do Conhecimento (Santo André) e Museu da Ciência Prof. Mário Tolentino (São Carlos). Seu conteúdo é especialmente aproveitado por estudantes do ensino fundamental e médio, pois envolve conceitos de física, química, biologia e computação, instigando os visitantes a compreender o funcionamento dos aparatos de forma mais aprofundada. No início de suas atividades, o museu era coordenado por Ana Carolina Lorena, ex-professora associada e orientadora permanente de programas de pós-graduação do campus (hoje no Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA), e contava com o suporte de bolsistas atuantes na monitoria. Hoje, está sob a responsabilidade da Câmara de Extensão e Cultura (Caec), com Claudio Shida, coordenador do bacharelado interdisciplinar em Ciência e Tecnologia (BCT), à frente do desafio de manter ativo o espaço. 

Após a criação do Parque de Ciência e Tecnologia, outras iniciativas semelhantes começaram a surgir na cidade, a exemplo do Museu Interativo de Ciências Casa do Saber Marechal Aviador Casimiro Montenegro Filho. “Durante todo o processo, fui-me aproximando de pessoas que estavam envolvidas com esse tipo de divulgação científica em São José dos Campos. Roberto Stempniak, professor aposentado do ITA e coordenador do projeto Ciência no Parque, foi uma delas. A cada 15 dias, Stempniak vai ao Parque Vicentina Aranha, de forma voluntária, explicar experimentos científicos. No fim, todo o mundo se encontra, formando uma rede de auxílio mútuo”, relata Lorena.

Outro exemplo de parceria possibilitada pela rede de apoio é a exposição itinerante Plataforma Zebrafish, idealizada por Mônica Lopes Ferreira, do Instituto Butantan (órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde), e sob responsabilidade de Katia Conceição, coordenadora do Bacharelado em Biotecnologia do ICT/Unifesp. Conforme observa Luciane Capelo, professora adjunta do campus e atual coordenadora da Caec, o painel montado no quarto andar do instituto traz detalhes sobre o zebrafish, um peixe de aquário da espécie Danio rerio, de pequenas dimensões, também conhecido como Paulistinha. O painel veio para o museu do ICT após um concurso entre diversas instituições do Brasil e fez parte, por muito tempo, de uma exposição no Instituto Butantan. “Fechamos parcerias com quem já tem o material. Dessa forma, expandimos a visita ao parque para o campus todo, mobilizando mais pessoas, difundindo o conhecimento e encantando todos os que adentram a universidade aqui em São José dos Campos”, complementa. 

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O bolsista Kevin Matsuoka de Almeida, estudante do ICT/Unifesp, monitora as visitas ao Parque de C&T. O espaço conta com diversas atrações, como o augmented reality sandbox, aparato composto por um software que projeta linhas topológicas em elevações de uma caixa de areia / Fotografia: Valquíria Carnaúba

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As atrações globo de plasma / Fotografia: Valquíria Carnaúba

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Associação de polias / Fotografia: Valquíria Carnaúba

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As docentes Luciane Capelo e Ana Carolina Lorena, junto ao diretor do Campus São José dos Campos, Horacio Hideki Yanasse / Fotografia: Valquíria Carnaúba

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Capelo mostra a tabela periódica interativa, exposta no Parque de C&T / Fotografia: Valquíria Carnaúba

“O Parque de Ciência e Tecnologia é isso: um espaço em que o jovem entra e brinca. Queremos fomentar nele o instinto de investigação, e aqui é o local seguro para essa exploração.”

Luciane Capelo

Espaço para experimentar e brincar

Durante a visita da reportagem, um dos estudantes que interagiam com os dispositivos em exibição tentou carregar o celular encostando-o no globo de plasma – esfera de vidro no interior da qual são emitidas descargas elétricas que provocam a excitação e a ionização de átomos do gás contido nesse espaço. Parece absurdo? “O inventor sérvio-americano Nikola Tesla, conhecido por suas contribuições revolucionárias no campo do eletromagnetismo, queria resolver a eletricidade sem fio”, provoca Lorena. Capelo complementa. “Isso é legal. O estudante observou a energia e testou no mesmo instante. É o que o cientista faz: observa o que parece impossível em certo momento, estabelece um controle e experimenta. Pode ser que esse observador, futuramente, procure saber mais sobre como funciona o celular dele, sobre a geração de energia ou sobre o próprio Tesla. E aí começa a identificação: quando o jovem tenta entender aonde o cientista chegou e aonde ele próprio pode chegar. A exposição atinge os visitantes por meios que não conseguimos dimensionar.” 

O Parque de Ciência e Tecnologia mantém estreita relação com o ensino de graduação e pós-graduação, dando visibilidade à produção acadêmica de docentes e discentes. Há experimentos que abordam conceitos avançados nas ciências, possibilitando que os próprios professores se coloquem à disposição do público para explicá-los: é o caso da bobina e do ovo de Colombo de Tesla. Para Lorena e Capelo, o atual desafio é encontrar formas de efetivar a manutenção dos equipamentos instalados no espaço, pois as peças sofrem desgaste, um problema de que todo parque tecnológico, todo museu compartilha. Ambas afirmam que, se uma das atrações sofrer danos, a recuperação desse item virá (com sorte) do projeto específico de alguma disciplina.

Como o financiamento do CNPq durou quatro anos e, após 2017, não foram mais publicados editais específicos para a construção de museus e centros de ciência, o Parque de Ciência e Tecnologia mantém sua qualidade graças ao apoio dos docentes e dos próprios alunos. “Estes, durante o trabalho de monitoria, cultivam a proatividade, autoconfiança, senso de pertencimento e capacidade de comunicação e gerenciamento de pessoas – habilidades muitas vezes não desenvolvidas em sala de aula. A boa formação propiciada pela Unifesp se dá nessa conexão do conhecimento teórico de excelência com a prática. Aqui, estabelecemos relações próximas, afetuosas, que têm como base a formação científica”, ressalta Capelo. 

O agendamento de excursões – para os interessados – passa longe da burocracia. “As escolas entram no site, preenchem o formulário de contato e enviam as informações necessárias, tais como nome da escola e data da visita”, finaliza Lorena.

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O Parque de Ciência e Tecnologia destaca-se também pela arte. Internamente, suas divisórias exibem grafites de ícones científicos (vide acima), concebidos e executados pelo artista plástico Vespa (Claudinei Oliveira), renomado grafiteiro de São José dos Campos

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Na parte externa, foram adesivadas pequenas biografias de grandes cientistas (inclusive brasileiros), ligados às áreas abordadas pelos subprojetos

parquectict.sites.unifesp.br

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