José Luiz Guerra
(Imagem: varunkul01/Pixabay)
Quanto maior o tempo de uso da internet, maiores as chances de ocorrência de problemas psiquiátricos. Foi o que concluiu a dissertação de mestrado elaborada por Adriana Scatena, do programa de pós-graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência, sob a orientação de Denise De Micheli. O estudo teve como objetivo avaliar a dependência de internet (DI) e o perfil de uso das mídias digitais em uma amostra formada por estudantes de graduação e pós-graduação, partindo-se da escassez de trabalhos desse tipo no Brasil.
“Alguns autores observaram uma forte associação entre a dependência de internet e alterações emocionais, especialmente em países asiáticos, mas no Brasil existem poucos estudos sobre o tema”, explica De Micheli. A opção de analisar o impacto do uso abusivo dessas tecnologias na qualidade de vida de estudantes de graduação e pós-graduação também se deveu ao fato de essa amostra não pertencer ao universo de “nativos digitais”, do qual fazem parte crianças e adolescentes nascidos no século XXI e sobre os quais já existem estudos na área.
Denise De Micheli, orientadora da pesquisa (Imagem: arquivo pessoal)
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C), realizada em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicaram que 116 milhões de indivíduos estão conectados à internet no país. A maior parte deles (94,6%) utiliza o celular para esse fim.
A coleta de dados foi efetuada mediante o preenchimento de formulário on-line, a partir da aplicação de um questionário sociodemográfico e dos seguintes instrumentos específicos: o Internet Addiction Test (IAT), utilizado para avaliar a dependência de internet, e o Depression Anxiety and Stress Scale (DASS-21), voltado para identificar quadros de ansiedade, depressão e estresse. As respostas obtidas resultaram em uma pontuação final, segundo a qual, quanto maior o valor, maior o indicativo para dependência de internet, no caso do IAT, e para problemas psiquiátricos, no caso do DASS-21.
Os indivíduos foram convidados a participar do estudo a partir de diferentes estratégias: envio de e-mails próprios e divulgação por redes sociais no período de junho a agosto de 2016. A amostra final foi composta por 5.986 estudantes de graduação e pós-graduação, de instituições públicas e particulares, que foram divididos em três grupos: usuários sem risco (USR), usuários de baixo risco (UBR) e usuários de risco e alto risco (URAR).
Os resultados apurados por meio das respostas aos testes indicaram que o grupo USR compreendia 1.948 indivíduos; o grupo UBR, 3.402; e o grupo URAR, 636. Este último, correspondente a 10,7% do total analisado, classificou-se como dependente de internet, apresentando os maiores níveis de depressão, estresse e ansiedade em relação aos demais. Além disso, consumiu uma média de 6,8 horas diárias com o uso de smartphones e, para todas as mídias avaliadas, um tempo significativamente maior na comparação com os grupos restantes. Por outro lado, a pesquisa detectou diversos preditores de risco para a DI, como o vínculo com universidade pública ou privada, a quantidade de filhos e o nível de gravidade para depressão, ansiedade e estresse. “Esses achados são inéditos no Brasil porque fornecem dados para a elaboração de estratégias específicas de prevenção em saúde mental”, pondera De Micheli.
Dissertação relacionada:
SCATENA, Adriana. Avaliação do impacto do uso de mídias digitais em estudantes brasileiros de graduação e pós-graduação: uma análise exploratória. 2017. 73 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos.