Batalhas educativas

Jogo de tabuleiro favorece o aprendizado sobre doenças infecciosas causadas por parasitas

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(Fotografia: Alex Reipert)

Texto: Daniel Patini

Fixar e complementar o conhecimento obtido em sala de aula sobre doenças infecciosas, utilizando um formato divertido. Com esse propósito em mente, a equipe do projeto de extensão Patógenos em Jogo, sob a coordenação de Katia Oliveira e Erika Suzuki, docentes do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, tem se aventurado, desde 2016, no desenvolvimento de jogos educativos. O projeto é composto por diversos profissionais e estudantes de graduação de diferentes áreas – Biomedicina, Enfermagem, Biologia, Design de Games – e instituições.

Como primeiro resultado desse trabalho, foi lançado em junho deste ano o jogo de tabuleiro Guerra dos Patógenos - os parasitas atacam, que auxilia no aprendizado sobre diversas parasitoses, ao mesmo tempo em que são exercitados conhecimentos das áreas de Ciências, Biologia, Geografia e Matemática. "Ele serve para revisar essas doenças ensinadas durante os ensinos fundamental e médio, sendo que também foram incluídos parasitas que não constam no conteúdo escolar e que têm grande relevância epidemiológica", explica Oliveira.

Segundo as coordenadoras, o jogo promove o conceito denominado edutainment, termo derivado da junção das palavras educação e entretenimento em inglês. "São características do edutainment contribuir para o engajamento e incentivar a curiosidade e a interação. Em razão de o material ser portátil e prático, pode ser aplicado fora da sala, em qualquer lugar", descreve Suzuki. “Ele possui como público-alvo crianças e adolescentes, mas nossos testes mostraram bem que o jogo é para qualquer idade”, Oliveira enfatiza.

Como a primeira versão do Guerra dos Patógenos aborda especificamente os parasitas (artrópodes, helmintos e protozoários), existe a possibilidade de expandi-lo, nos próximos anos, para o ensino de outros micro-organismos, como bactérias, vírus e fungos, além das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Há ainda uma vontade de transformá-lo em um jogo digital, que possui grande capacidade de difusão. “Estamos bem animados, pois está tomando proporções que não imaginávamos”, comemora Suzuki, ao citar, por exemplo, o interesse da Secretaria Municipal de Educação em aplicá-lo nas escolas. Ademais, a equipe quer comercializar o jogo.

Retrospectiva

As coordenadoras relembram os primeiros passos do projeto, em 2016, quando surgiu a ideia de elaborar um jogo sobre doenças infecciosas, especificamente, na área de atuação de ambas: a Parasitologia. Foi feita uma chamada por meio de rede social e cartazes no campus, com o intuito de recrutar estudantes para elaborar jogos. Para surpresa delas, houve muitos inscritos, os quais tiveram que passar por uma seleção.

Foram meses refletindo sobre os tipos de jogos, os temas e sobre o desenvolvimento em si, como seu conceito, regras e protótipos. O grupo se encontrava semanalmente para jogar, visando aprimorar o material. "Como estávamos abertos para as sugestões, foram momentos de intensa troca de informações, de muito aprendizado. Cada um contribuía à sua maneira", alega Oliveira.

Naquele mesmo ano, já com todas as regras estipuladas e os protótipos das cartas feitas de cartolina e pintadas à mão, a equipe realizou os primeiros encontros para aplicação do jogo, tanto com professores quanto com estudantes. Eles deram sugestões bastante pertinentes, que foram sendo incorporadas ao jogo. "Em outubro, já estava tudo concebido, incluindo o nome", recorda Suzuki.
 

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Testes com estudantes dos ensinos fundamental e médio em um encontro das equipes do Patógenos em Jogo, do Coletivo da Ciência – vivenciando a Biologia e do Instituto Trata Brasil em maio de 2018

Entreteses038 Um dos primeiros prototipos sendo testado

Um dos primeiros protótipos sendo testado com os membros da própria equipe do projeto

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As coordenadoras do projeto, Katia Oliveira (à esquerda) e Erika Suzuki (à direita) / Fotografia: Alex Reipert

Como funciona?

Cada jogador recebe seis cartas, cada uma delas com uma pontuação. O seu objetivo é dominar o mundo com os parasitas. Para isso, é preciso estar atento à distribuição geográfica e às características deles, que estão contidas nas cartas. Ganha quem conquistar o maior número de territórios por meio das batalhas travadas pela associação entre a transmissão e a prevenção da parasitose. 

"As ações podem favorecer ou prejudicar o seu patógeno ou o do seu oponente", relata Oliveira. "O jogo é muito dinâmico. Pode ser que um jogador esteja ganhando, com vários territórios dominados e, de repente, tudo muda, pois o restante do grupo se junta contra essa pessoa", continua Suzuki, ao relatar o dinamismo do jogo. Participam de três a seis jogadores por partida.

Aprendizagem comprovada

Em busca de confirmar a eficiência do Guerra dos Patógenos - os parasitas atacam, no aprendizado do usuário, a estudante Cecília Lumi Kakuda, do curso de Enfermagem da Unifesp, desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso (TCC) com base nos testes do jogo. Ela aplicou provas para os estudantes dos ensinos fundamental e médio, de oito escolas públicas e particulares, antes e depois de eles jogarem, individualmente e em grupo. 

"Os resultados demonstraram que, independente do conhecimento prévio de cada estudante, foi observado que a aprendizagem é igual entre eles, mesmo quando são comparadas as escolas públicas com as particulares. É uma ferramenta eficiente para ser aplicada em qualquer realidade", resume Oliveira. "Com ele, percebemos que é possível mudar uma determinada realidade social por meio de um gesto pequeno", ela conclui. Os dados completos serão publicados, em breve, em um artigo científico.

Patrocínio

O Instituto Trata Brasil foi a empresa vencedora do chamamento público para captação de patrocínio do jogo, sendo responsável pela confecção de mil unidades, das quais 300 ficaram com a empresa e 700 serão distribuídas às escolas públicas e particulares de todo o país, selecionadas após demonstrarem interesse pelo jogo. Lançado em novembro de 2017, esse foi o primeiro chamamento público realizado pela universidade.

Líder de projetos sociais do instituto, Edna Cardoso relata que ficou encantada quando conheceu o trabalho do projeto de extensão. Ela explica ainda que o Trata Brasil tem trabalhado com jovens universitários da área de jogos focados no tema saneamento. "Temos essa função de conscientizar e mobilizar estudantes que se tornarão profissionais com referência social", destaca. Vale lembrar que o Brasil é um dos países com o maior número de Doenças Tropicais Negligenciadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), tais como doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose, teníase, cisticercose, dengue, entre outras.

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Os elementos do jogo são: cartas-patógenos (30), cartas de ação com medidas profiláticas (40), seis pinos, marcadores e tabuleiro

 

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