‘ComUnidade’ fortalece elo entre Unifesp e população

Programa de extensão reúne quatro projetos que levam a universidade até populações em situação de vulnerabilidade

 

Texto: Lu Sudré

Saúde, assistência social, educação popular e direitos humanos. Essas são as quatro áreas que entrelaçam os projetos de extensão universitária que integram o programa ComUnidade, vinculado ao Departamento de Saúde Coletiva da Escola Paulista de Enfermagem (EPE/Unifesp) - Campus São Paulo. Com o objetivo de atuar diretamente com populações em situação de vulnerabilidade e de construir um vínculo real com comunidades externas à universidade, os projetos Saber Cuidar, Periferia dos Sonhos, A Cor da Rua e Envelhecer com Arte são desenvolvidos por estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina, Biomedicina e Fonoaudiologia. 

Para Anderson Rosa, coordenador do programa de extensão, o grande diferencial do ComUnidade é que seus projetos trabalham com a lógica da co-gestão, onde professores, estudantes e pessoas atendidas têm o mesmo espaço para opinar e desenvolver ações conjuntas. “Mesmo sendo coordenador, meu voto vale tanto quanto o voto de qualquer outra pessoa, seja um estudante ou até mesmo os membros da comunidade com as quais trabalhamos. Esse é o desafio ao qual o programa se propõe: fazer com que a sociedade interfira no andamento das ações que fazemos”, afirma Rosa.

Ao identificar as necessidades sociais que determinada população possui, alternativas são pensadas e desenvolvidas em conjunto. Rosa aponta que, ao fazer parte desse processo, a comunidade externa sente-se incluída e entende que há uma produção de conhecimento na universidade acessível e que faz diferença em sua realidade. "O tempo inteiro somos desafiados a produzir e pensar em soluções conjuntas, muitas vezes distantes das já consagradas na universidade. É como se estivéssemos traduzindo uma parte do conhecimento técnico das profissões para determinados contextos de vida. Criamos novos repertórios de atendimentos e de cuidados”, explica o coordenador.

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Saber Cuidar

Criado em 2001, o Saber Cuidar atua com moradores do bairro Jardim São Savério, região localizada na periferia sudeste do município de São Paulo e de alta vulnerabilidade social. Baseado nos conceitos do filósofo e educador Paulo Freire, o projeto incorpora educação popular e atividades lúdicas à sua metodologia. O trabalho resultou em anos de formações na área da saúde com crianças e adolescentes da Escola Estadual Dr. Álvaro de Souza Lima, com temas propostos pelos próprios jovens, estruturados de forma lúdica por meio da música e da arte. 

Sua coordenadora e enfermeira do Departamento de Saúde Coletiva (EPE/Unifesp), Danila Cristina Paquier, afirma que o projeto está sendo expandido, desde o ano passado, para demais moradores do bairro, priorizando a abordagem do processo de envelhecimento e desenvolvimento de condições crônicas - principalmente o câncer. “São realizados encontros com o paciente e sua rede de apoio - família, amigos, vizinhos, militantes da comunidade e profissionais da saúde -, que compartilham vivências e fortalecem vínculos. Nesse processo, os estudantes constroem e propõem intervenções pautadas nas necessidades de saúde observadas”, conta Paquier. Ela relata que, somente em 2019, foram realizados 33 dessas rodas de conversa. “No total, participaram cinco pacientes diagnosticados com câncer, cerca de 20 pessoas da comunidade e três agentes comunitários de saúde".

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Envelhecer com Arte

A população idosa também tem espaço garantido no programa ComUnidade. Por meio de encontros e saraus literários, o Envelhecer com Arte estuda a gerontologia à luz das artes. Coordenado pela enfermeira Sônia Maria Garcia Vigeta, o projeto existe desde 2013 e ressalta a importância do protagonismo da população idosa e da formação de uma sociedade inclusiva. Ao estimular a paixão pela leitura e a criatividade, o Envelhecer com Arte fomenta um relacionamento intergeracional e um aprendizado colaborativo entre extensionistas e idosos que participam do projeto.

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Periferia dos Sonhos

Esse projeto trabalha com pessoas em situação de rua abrigadas no Centro de Acolhida Portal do Futuro, localizado na zona norte da cidade de São Paulo, e mulheres em situação de vulnerabilidade acolhidas na maternidade pública Amparo Maternal, localizada próxima ao Hospital São Paulo. Mais recentemente, passou a atuar no Centro de Acolhida Florescer, destinado às mulheres transgênero e travestis em situação de rua. 

De acordo com Anderson Rosa, que compartilha a coordenação desse projeto, atuar com diferentes populações e questões de saúde específicas incentiva uma formação mais completa dos extensionistas, que aprendem a considerar como questões sociais influenciam o adoecimento. “Temos uma formação muito técnica, focada em tecnologia, procedimentos, habilidades. Na vida real, o paciente denota uma dimensão da vida que extrapola a teoria. Por meio desses projetos os graduandos adquirem repertórios e habilidades que serão úteis na vida profissional”.

Isabela Bombonato de Almeida, estudante do 6º período do curso de Enfermagem, é prova viva desse processo. Extensionista do Periferia dos Sonhos desde o primeiro semestre da graduação, já participou de um congresso internacional representando o projeto. Para ela, essa experiência tem sido essencial à sua formação, ensinando responsabilidade, empatia, criatividade e respeito. “Nos centros de acolhida, aprendemos uns com os outros. Da mesma forma que levamos aos acolhidos conteúdos aprendidos na faculdade, eles nos ensinam com cada experiência de vida. Para a sociedade, há o retorno do investimento na universidade pública, por meio de informação crítica e científica, para quem sabe, mesmo que lenta, haja uma transformação”, conta.

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A Cor da Rua

Mais recente em relação aos outros três projetos de extensão, A Cor da Rua promove formação a profissionais da rede pública com a participação dos usuários desses serviços, principalmente pessoas em situação de rua, imigrantes e refugiados. Além de buscar garantir o acesso dessas populações à saúde, visa alcançar o desenvolvimento de boas práticas de saúde mental na comunidade por meio de ações da própria comunidade. Participam regularmente 25 estudantes de graduação e cinco de pós-graduação. Segundo Carmen Santana, coordenadora do projeto, psiquiatra e professora do Departamento de Saúde Coletiva da EPE/Unifesp, os processos de formação já beneficiaram diretamente mais de 500 profissionais. 

Entre as atividades do projeto, realizadas em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, lideranças da população de rua e do movimento de luta por moradia, destacam-se a promoção de 15 seminários abertos à comunidade que já contaram com mais de três mil participações. “Os seminários oferecem um espaço aberto e participativo para expor ideias, dúvidas, sugestões e experiências sobre a vida em situação de rua", explica a coordenadora.

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Curso Práticas de Atenção Integral e Promoção de Direitos Humanos na Situação de Rua

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V Seminário A Cor da Rua: abordagens ao uso de álcool e outras drogas

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“As pessoas em situação de vulnerabilidade são pessoas que não estão acostumadas a ter alguém olhando para elas. Nós priorizamos muito o vínculo, o contato afetivo, o envolvimento com as pessoas e com as histórias. Isso traz uma relevância simbólica importante, assim como as ações concretas. Quando ensinamos uma coisa, estamos ajudando a promover saúde, assistência social, direitos humanos e cidadania"

Anderson Rosa, coordenador do programa de extensão ComUnidade