Por Juliana Cristina
No mês de setembro, foram iniciadas as atividades de dois projetos de extensão da Unifesp – Projeto Cabaça: Cultura de Matriz Africana e Economia Solidária e Mapeamento das Comunidades Tradicionais de Matriz Africana Bantu na região Metropolitana de São Paulo –, vinculados à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) e voltados ao mapeamento e desenvolvimento econômico de comunidades tradicionais de matriz africana.
Os projetos receberam recursos financeiros de R$ 100 mil e R$ 200 mil, respectivamente, provindos de emendas parlamentares para viabilização de suas ações. Com isso, puderam abrir novos editais para bolsistas e para contratação de pesquisadores sociais, tais como doutores e doutoras em Antropologia e Sociologia, os quais são responsáveis pela formação dos demais estudantes. “Nesse contexto em que a universidade tem tido seus recursos cada vez mais diminuídos, foi fundamental podermos contribuir com a criação de bolsas”, afirma Renata Gonçalves, docente do Campus Baixada Santista e coordenadora de um dos trabalhos.
O Projeto Cabaça: Cultura de Matriz Africana e Economia Solidária é coordenado pelos(as) docentes Egeu Esteves, Joana Barros e Giovanna Milano, do Campus Zona Leste, e pela pesquisadora e membro da comunidade tradicional Iyá Adriana de Nanã (Adriana Toledo). De acordo com Egeu Esteves, o projeto pretende levantar e sistematizar práticas e necessidades econômicas para que se construa coletivamente uma metodologia de Economia Solidária, ou seja, uma metodologia de produção e consumo com interação solidária adaptado às características das comunidades. “Ele utiliza uma metodologia participante baseada no encontro entre saberes tradicionais e acadêmicos. Por meio de oficinas e atividades práticas, o curso proporciona o espaço e o tempo necessários para levantamento, compartilhamento e sistematização das práticas solidárias realizadas no contexto das comunidades tradicionais e, por meio da discussão coletiva de textos e vídeos, possibilita a apropriação e transformação do conhecimento dos campos da Economia Solidária, da autogestão e do cooperativismo”, explica. Adriana Toledo reflete que o mais importante nessa produção é a oportunidade de que os membros das comunidades tradicionais sejam atores junto à academia ao invés de apenas objetos de pesquisa.
Por sua vez, o Projeto de Mapeamento da Comunidades Tradicionais de Matriz Africana Bantu na região Metropolitana de São Paulo é idealizado por Taata Katuvanjesi, coordenado por Renata Gonçalves e vice-coordenado pela docente Joana Barros, do Campus Zona Leste, além de ser conduzido em conjunto com o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) e o Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu (Ilabantu). Tem como objetivo o mapeamento das comunidades tradicionais no município de São Paulo, por meio de sistematização em termos de quantidade, organização, condições de documentação dos territórios e aspectos sociais, antropológicos, históricos e demográficos envolvendo a comunidade. Além disso, conforme aponta a coordenadora do projeto: “abordar a distribuição socioespacial de acordo com a localização geográfica nos leva a aprofundar o conhecimento sobre a realidade dessas comunidades e oferecer subsídios georreferenciais para organizar políticas públicas e construir um acervo sobre elas”.
As duas iniciativas organizam propostas coletivas em parceria e, neste momento, os pesquisadores e pesquisadoras estão trabalhando para o desenvolvimento de metodologias, formação teórica dos bolsistas e preparação para que iniciem a segunda fase do estudo que consiste em ir a campo. “Esperamos que, com os resultados, possamos contribuir para que políticas públicas sejam implementadas no sentido de preservar essas comunidades e ajudá-las a enfrentar o racismo religioso”, finaliza Renata.