Por Daniel Patini
(Imagem ilustrativa)
A prevalência da síndrome de burnout atingiu 1/3 (32,75%) dos(as) professores(as) da educação básica analisados(as) por uma pesquisa do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista. Participaram do estudo 397 professores(as) de diversos estados brasileiros, provenientes de escolas públicas e privadas, sendo a maioria (87,41%) do sexo feminino.
Além disso, o burnout pessoal – que avaliou a exaustão física e emocional do indivíduo, sem relacioná-la diretamente a aspectos laborais – foi a dimensão mais afetada, com prevalência de 55,92%. Outros(as) 43,58% apresentaram burnout relacionado ao trabalho – que abordou sentimentos de exaustão e frustração intimamente ligados à rotina laboral e às limitações que ela impõe em sua vida pessoal. A pesquisa desenvolvida foi conduzida digitalmente, contemplando o Copenhagen Burnout Inventory (CBI), o Teacher Job Satisfaction Questionnaire (TJSQ) e um questionário sociodemográfico.
Os dados estão na dissertação de mestrado da estudante Raphaela dos Santos Gonçalves, apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde (PPGICS), sob orientação da docente Debora Estadella do ISS/Unifesp. O objetivo do estudo foi investigar a prevalência da síndrome de burnout em professores(as) da educação básica e sua relação com a satisfação no trabalho, fatores sociodemográficos e organizacionais.
A pesquisadora explica que o burnout é uma preocupação mundial, pois afeta não só o indivíduo, mas também interfere diretamente na eficiência e qualidade do trabalho prestado. “No caso dos(as) professores(as), o aumento na prevalência da síndrome de burnout é um fator que declina a qualidade do ensino em todas as áreas. Professores(as) acometidos(as) têm menor capacidade de ensinar seus(suas) alunos(as), preparam material pedagógico de qualidade inferior e apresentam baixa tolerância às interrupções em sala de aula”, ela alerta.
A síndrome de burnout e a escola
Descrita inicialmente em 1974, a síndrome de burnout, também chamada apenas de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, é definida como um estado físico, emocional e mental no qual o indivíduo vivencia extrema exaustão, despersonalização e redução do senso de realização pessoal. Os sintomas relacionados ao burnout encontrados com maior significância foram classificados em três categorias: consequências físicas, psicológicas e ocupacionais.
“Há um desequilíbrio entre as demandas exigidas do(a) docente – como rendimento, bom trabalho, boa formação – e a recompensa recebida, evidenciando a desvalorização da profissão e fazendo com que cada vez mais este(a) veja necessidade de trabalhar em mais de um local para compor a sua renda mensal e suprir as suas necessidades básicas. Tal panorama faz com que situações como a do burnout aconteçam em índices cada vez mais alarmantes nessa população”, reflete Gonçalves.
De acordo com ela, o(a) professor(a) acometido(a) pela síndrome de burnout pode apresentar transtornos psicológicos, alterações metabólicas, desenvolvimento de comportamentos compulsivos, dependência química e até abandonar a profissão. “A educação é um dos alicerces da sociedade, portanto, é essencial valorizar e garantir que as condições de vida e trabalho dos(as) professores(as) sejam dignas. Assim, mais estudos são necessários para que seja possível avaliar e desenvolver medidas de mitigação dos fatores estressores que possam desencadear a síndrome de burnout nesses indivíduos, a fim de assegurar que desfrutem de sua saúde de forma plena”, sugere.
Outros resultados
A partir dos questionários aplicados, o estudo também concluiu que 15,87% dos(as) docentes pontuaram positivamente para a dimensão de burnout relacionado aos(às) colegas – que abordou os sentimentos do(a) profissional da educação frente à equipe com a qual lida durante o seu trabalho, incluindo outros(as) professores(as) e também gestores(as) –, e o mesmo percentual teve burnout relacionado aos(às) alunos(as) – que refletiu sobre a relação professor(a)aluno(a) e sua influência no entusiasmo do(a) profissional.
A pesquisa indicou ainda que homens e mulheres apresentaram resultados homogêneos em todas as dimensões do burnout. Dessa forma, não houve significância da variável sexo no critério de prevalência da síndrome, seja em burnout total, pessoal, relacionado ao trabalho, aos(às) colegas ou aos(às) alunos(as).