Na última quinta-feira, 4 de setembro, um acordo de cooperação firmado entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo criou o Grupo de Trabalho do Caso Perus.
A equipe formada iniciará a investigação das cerca de 1049 ossadas encontradas no Cemitério Dom Bosco, em Perus, em 1990. A expectativa é identificar desaparecidos políticos da ditadura (1964-1985) que possam ter sido assassinados e enterrados na Vala Clandestina. Estiveram presentes na cerimônia de oficialização do Grupo de Trabalho do Caso Perus, que ocorreu na reitoria da Unifesp, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, a reitora da Unifesp, Soraya Smaili, além de representantes dos familiares de mortos e desaparecidos políticos.
Após a assinatura do documento, as autoridades participaram do Ato Público, realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que marcou a retomada das análise das ossadas de Perus. "Participar desse ato é eivado de emoções e de esperança. Eu tenho convicção de que na Unifesp as ossadas serão desvendadas com a maior transparência, retidão e competência técnica e científica", afirmou a ministra Eleonora Menicucci.
Emocionada, a ministra Ideli Salvatti revelou que a retomada dos trabalhos "é resultado da força, perseverança e luta" dos familiares das vítimas. "Assumir a tarefa histórica de procurar uma resposta definitiva sobre os desaparecidos políticos que possam estar entre os restos mortais da vala clandestina de Perus é importante em termos de memória e verdade, mas fundamental para que outras valas não continuem a existir", disse.
A reitora da Unifesp também salientou a importância e compromisso da universidade pública na reflexão do que aconteceu no passado. "A Unifesp foi convidada a fazer parte desta tarefa e deste compromisso e não nos negamos a fazê-lo, pois é papel da universidade pública proporcionar não só a memória, a verdade e a justiça. Tudo o que a universidade proporciona de ensino, pesquisa e extensão deve estar à serviço da verdade, memória, justiça e da sociedade", pontuou.
A reitora ainda mencionou a criação, em julho do ano passado, da Comissão da Verdade Marcos Lindenberg, ligada à Unifesp, que possibilitou o início dos trabalhos de memória e justiça dentro da universidade.
Participaram do Ato Público na Alesp diversas personalidades ligadas à luta por Direitos Humanos no país e que perderam familiares durante a ditadura militar brasileira, como Ivan Seixas, Criméia Schmidt e Susana Lisboa. Eugênia Gonzaga, presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, Pedro Dallari, atual coordenador da Comissão Nacional da Verdade, e o deputado estadual e presidente da Comissão Estadual da Verdade "Rubens Paiva", Adriano Diogo, também estiveram presentes. Ainda durante a cerimônia, houve a composição da mesa científica, integrada por Samuel Ferreira, perito médico-legista representante da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp/MJ), Luis Fondebrider, da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), José Pablo Baraybar, da Equipe Peruana de Antropologia Forense (APAF), além dos arqueólogos Márcia Hattori e Rafael Souza, que apresentaram técnicas e informações a respeito do levantamento de dados dos possíveis desaparecidos cujas ossadas estariam dentre as que foram localizadas em Perus.