Terça, 05 Julho 2016 11:09

GTP realiza entrega simbólica do CAAF para os familiares de desaparecidos políticos

Evento contou com a presença da reitora e de especialistas que atuam no caso da Vala Clandestina de Perus, dentre outras autoridades

Por Antonio Saturnino

Três mulheres e um senhor olham para mural de fotografias com os rostos das pessoas desaparecidas durante a ditadura
Familiares observam mural de fotos de desaparecidos políticos

No último dia 1° de julho, foi realizado um ato simbólico de entrega do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Unifesp (CAAF) para os parentes de desaparecidos políticos da época da ditadura. Na ocasião, estiveram presentes a reitora da universidade, Soraya Smaili, a presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), Eugênia Augusta Gonzaga, o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), Felipe de Paula, e a ministra afastada, Eleonora Menicucci, além dos peritos que atuam no processo de análise das ossadas de Perus e os familiares que têm esperança de encontrar seus entes queridos para dar-lhes um sepultamento digno.

O ato teve como objetivo apresentar as novas instalações do CAAF após as reformas que ocorreram no local. O espaço, único no Brasil destinado à atividade de antropologia e arqueologia forense, agora oferece melhores condições de trabalho para os especialistas do Grupo de Trabalho Perus (GTP), bem como para a análise dos crimes de maio de 2006, projeto desenvolvido em parceria com a Universidade de Oxford. A nova estrutura possui laboratório para análises de ossadas, com capacidade de comportar as 1.047 caixas, além de vestiários, copa, sala de reunião e salas de aula, onde deverão ser ministrados cursos de extensão com foco em direitos humanos.

Soraya homenageou os familiares dos desaparecidos políticos. “Nós decidimos não fazer uma inauguração formal, mas sim uma entrega simbólica. Nós chegamos a este momento porque vocês estavam a frente disso e não desistiram desta luta, que já perdura tantos anos. Tenham certeza que a Unifesp está a serviço deste trabalho e nós vamos concretizá-lo”, comentou. Ela também ressaltou o desejo da universidade em fazer as coisas acontecerem mais depressa, o que não é possível, pois a liberação dos recursos prometidos para este ano ainda não ocorreu.

Durante o encontro, Samuel Ferreira, coordenador científico do GTP, apresentou os resultados parciais do trabalho. Até o momento, das 1.047 caixas contendo restos mortais, 471 já foram limpas e preparadas para o estudo antropológico. Destas, 460 foram analisadas, nas quais foram identificados 368 indivíduos adultos homens, 69 mulheres e 23 indeterminados (crianças e/ou adolescentes). Também foi constatado que 26% estão mescladas, ou seja, possuem ossos de mais de uma pessoa.

A última parte da análise será a comparação genética das ossadas e dos familiares de desaparecidos políticos. Para isso, está sendo feita a coleta de sangue dos parentes dos 42 militantes da época da ditadura que podem estar dentre os restos mortais da vala de Perus. Até o momento, já foi realizada a coleta de 22 famílias e a previsão é que o banco do DNA esteja pronto até o final de 2016.

Nova fachada do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Unifesp, onde são realizadas as análises das ossadas da vala clandestina do Cemitério de Perus
Nova fachada do CAAF

 

Reitora da Unifesp, Soraya Smaili, realiza entrega simbólica do CAAF para os familiares de desaparecidos políticos
Reitora Soraya Smaili realiza entrega simbólica do laboratório

 

Uma das especialistas do Grupo de Trabalho Perus realiza limpeza das ossadas para análises
Equipe de peritos do GTP realiza limpeza das ossadas para análises

 

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