Quarta, 13 Janeiro 2021 18:37

Consu/Unifesp presta homenagem ao Padre Ticão

Liderança religiosa e comunitária, falecida em 1/1, foi importante na luta pela universidade pública na Zona Leste

Por José Luiz Guerra

O Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Consu/Unifesp) prestou homenagem a Antônio Luiz Marchiori, o Padre Ticão, liderança religiosa e comunitária da Zona Leste de São Paulo, falecido em 1º de janeiro de 2021. Conduzida pela reitora da Unifesp, Soraya Smaili, a homenagem contou com a participação do deputado federal Paulo Teixeira (PT/SP), do pró-reitor de Planejamento, Pedro Arantes, do docente do Instituto das Cidades - Campus Zona Leste Tiarajú Pablo D'Andrea e dos membros do Movimento pela Universidade Federal na Zona Leste de São Paulo Waldir Augusti (Professor Waldir) e Luis França.

Padre Ticão foi uma das principais lideranças da Zona Leste de São Paulo. Pároco da Paróquia São Francisco de Assis em Ermelino Matarazzo desde 1978, ele participou ativamente de inúmeras realizações que ajudaram diretamente a população local, dentre as quais destacam-se a Fatec Zona Leste, a USP Leste e, mais recentemente, o Campus Zona Leste da Unifesp, tornando-se uma liderança na luta pela melhoria da região e da qualidade de vida dos seus habitantes.

A reitora iniciou a homenagem classificando o Padre Ticão como um membro da comunidade universitária e relembrou diversas oportunidades nas quais esteve com ele. "Sempre participou ativamente na luta pela universidade pública e pela Unifesp na Zona Leste. Ticão sempre teve uma grande habilidade de congregar parlamentares e diversas lideranças em busca dos objetivos da comunidade", destacou a reitora.

Amigo e companheiro de luta de Ticão, Professor Waldir agradeceu, em nome de toda a comunidade da paróquia São Francisco de Assis e de Ermelino Matarazzo pela homenagem. "Estamos nos recuperando dessa perda repentina e ajustando a comunidade para dar continuidade aos trabalhos do Padre Ticão. A história dele se mistura com a da Zona Leste, pois é difícil andar pela região e não nos depararmos com alguma obra que teve a mão dele". Waldir lembrou também da abnegação de Ticão ao longo de toda a sua vida. "Ele dizia que não podia ter um templo cheio de ornamentos se o povo que ia à igreja não tinha um prato de comida. Ele viveu a plenitude da palavra padre", concluiu.

"Padre Ticão está para a Zona Leste, assim como Desmond Tutu está para a África do Sul. Em 42 anos de Zona Leste, participou de praticamente todas as lutas para transformar uma região que não tinha nenhum serviço no que ela é hoje" lembrou o deputado Paulo Teixeira. O parlamentar destacou a proatividade de Ticão durante as reuniões, das quais também participou, e que ajudaram a concretizar as diversas conquistas da comunidade. "Não à toa, Dom Angélico o chamava de Trator de Deus", completou.

Luis França, também, companheiro de luta de Padre Ticão, lamentou o falecimento do amigo, que conheceu em 1982. "Ele me mandava e-mails de madrugada já pensando no que era preciso fazer durante o dia. Era corajoso e coerente. Nossa região se divide entre antes e depois do Padre Ticão". França destacou ainda que Ticão, sempre que perguntado sobre a sua orientação política, respondia que era do "Partido das Políticas Públicas" e relembrou que o padre recebia pessoas que ele não conhecia e sempre as orientava a pedir ajuda em seu nome. "Eu dizia a ele: Ticão, você nem os conhece. E ele respondia: mas Deus conhece!"

Tiaraju D'andrea, que nasceu e cresceu na Zona Leste, conheceu o Padre Ticão na infância e sempre que precisou, contou com a ajuda do religioso. "O Padre Ticão fez da igreja a casa do povo, abrigando sem tetos, retirantes e todos os que necessitavam de ajuda. Sempre que havia um problema, o nome do Padre Ticão era invocado. Ele era a guarida dos mais pobres. Ele e seu povo lutam há décadas por uma educação melhor para a Zona Leste e nós, docentes do campus, somos a continuidade desse sonho", completou.

Pedro Arantes finalizou a homenagem destacando a atuação do Padre Ticão em busca de condições melhores de saúde e educação para a população local. "Ele chegou do interior de São Paulo, percebeu a carência da população e começou a trabalhar", disse Arantes. O pró-reitor rememorou a reunião com Paulo Freire, que foi um marco na luta pelo ensino superior, mas que lhe rendeu duras críticas, por confrontar as elites e lutar por uma universidade para os pobres. Sua relação com a Unifesp começou nos anos 1980, quando recebia em sua paróquia médicos da Escola Paulista de Medicina e de outras instituições que fariam atendimento à população de Ermelino Matarazzo. Atuou também na promoção dos saberes populares, abrigando em sua paróquia cursos sobre plantas medicinais e sobre o uso medicinal da Cannabis, junto com o professor emérito da Unifesp Elisaldo Carlini, falecido em 2020. "Ele foi uma liderança inconteste nesta luta. Sua garra e empenho faziam as pessoas tremerem. Era, de fato, o trator de Deus, indo até onde podia e nunca deixando o ânimo geral baixar", finalizou.

Aos conselheiros, foi demonstrado audiovisual sobre a atuação do Padre Ticão em prol da Unifesp. Assista abaixo:



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