Quinta, 16 Março 2023 13:52

Lideranças indígenas participam da entrega do título de doutor honoris causa a Davi Kopenawa

Reunião do colegiado máximo da Unifesp ocorreu no Teatro Marcos Lindenberg

Por: Daniel Patini, Lauren Steffen e Valquíria Carnauba
Fotos: Alex Reipert

A sessão solene do Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Consu/Unifesp) de entrega do título de doutor honoris causa a Davi Kopenawa Yanomami, realizada em 15 de março de 2023 no Teatro Marcos Lindenberg, contou com a participação de várias lideranças indígenas.

Daniel Munduruku
Para Daniel Munduruku, "Davi representa as vozes silenciadas de muitos povos indígenas ao longo de nossa história"

Dentre eles(as), estava Daniel Munduruku, coordenador do Instituto Uka/Casa dos Saberes Ancestrais. Para Munduruku, a outorga deste título criou um marco no entendimento como os povos indígenas podem ser reconhecidos e de que forma podem ajudar a universidade a pensar em um sentido de ciência. “Davi representa as vozes silenciadas de muitos povos indígenas ao longo de nossa história. As universidades historicamente foram ‘garimpeiras’ de conhecimento, e agora têm a oportunidade de retribuir aos povos indígenas o direito a ter voz na produção de saberes tão singulares à população brasileira”, reconheceu.

“Como mulher preta, com outras lideranças pretas e indígenas contra qualquer violência contra os povos originários, estar num momento como esse com outras lideranças, em uma universidade que nunca tinha pisado, que até pouco tempo atrás não era possível para pessoas como a gente, sou menina preta de quebrada, é algo que nos deixa sensíveis, mas uma sensibilidade boa, sobre uma humanidade que nos foi negada. Nossos ancestrais lutaram para estar aqui e muito sangue foi derramado para que chegássemos aqui”, destacou Milena Cristina Abreu Marques, coordenadora dos Povos Indígenas da Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo.

Para o primeiro assessor indígena da Coordenação dos Povos Indígenas da Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo, Camilo Silva de Brito, a entrega do título é um marco simbólico de vitória, de toda luta que os povos indígenas passaram desde a invasão, por volta de 1500 até hoje. “Ficamos felizes em ver que nossos povos ocupam cada vez mais esses espaços de protagonismo. É importante que Davi, como parente, possa receber esse título, assim como outros parentes detentores de conhecimentos ancestrais, para ocupar esses espaços de protagonismo, a fim de direcionar políticas públicas. Nós somos todos parentes, não fazemos divisão por etnias, embora o estado determine essas divisões”.

Juma Xipaia
"Kopenawa não representa só o povo yanomami, mas todos os povos indígenas", ressaltou Juma Xipaia

Juma Xipaia, secretária de Articulações e Promoção de Direitos Indígenas do Minstério dos Povos Indígenas, que esteve representando a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, ressaltou que Kopenawa não representa só o povo yanomami, mas todos os povos indígenas. “Davi é a voz de toda a nossa ancestralidade milenar. Em nome dos que estão aqui e dos que estão em espírito. Esse título é o reconhecimento da nossa ciência e dos nossos povos, que até há pouco não eram reconhecidos. Nós temos nossos professores, nossos mestres e curadores dentro das florestas. Há inúmeras ciências, inúmeros saberes. Não há só uma ciência. Trata-se do reconhecimento de toda a ancestralidade de saberes dos nossos povos. É uma conquista para todos nós, nos sentimos representados”, revelou.

De acordo com Jibran Patté, assistente social indígena do povo Xokleng, “a universidade está passando por um processo histórico, no sentido de unificar conhecimentos que foram, de certa forma, menosprezados pela academia por muito tempo. Isso representa a união de conhecimentos tão importante para um país tão diverso como o Brasil, incluindo as populações indígenas e negras”. Edmar Tokorino Yanomami, cineasta e produtor do filme Uma Mulher Pensando, destacou a importância da obra cinematográfica. “Não fizemos o filme à toa. Fizemos para mostrar como vivemos, nossa cultura, nossa vida. Mostrando isso, conseguimos fazer com que vocês pensem, nos defendam e nos apoiem. Não fizemos para ganhar dinheiro, mas para mostrar nossa cultura e proteger as novas gerações. Sinto tristeza pelo que está acontecendo na nossa terra”.

Lido 2118 vezes Última modificação em Quarta, 29 Mai 2024 17:15

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