Pesquisa de mestrado analisou formas de aplicação nas aulas de matemática.
O cenário de avanços tecnológicos e, ao mesmo tempo, a desigualdade de acesso a esses recursos em instituições de ensino motivaram Bruna Braga de Paula a investigar a cultura maker em escolas públicas e particulares brasileiras em sua dissertação no Mestrado Profissional em Inovação Tecnológica do ICT/Unifesp. Como especialista em Matemática, a pesquisadora direcionou seu olhar para as aulas da disciplina.
A cultura maker tem como proposta criar, consertar e colocar a mão na massa, isto é, encontrar a solução de um problema criando ou consertando algo. O objetivo é propiciar o envolvimento de tecnologias e a colaboração entre os(as) estudantes com foco em tornar os insights ao longo da prática como parte da cultura. O Movimento Maker surgiu em 2005 com o lançamento da revista Make Magazine por Dale Dougherty, a primeira publicação especializada em cultura maker, e também com a criação de um evento anual chamado Maker Faire nos Estados Unidos.
Sob a orientação da professora Camila Bertini Martins (EPM/Unifesp - Campus São Paulo) e a co-orientação do professor Tiago de Oliveira (ICT/Unifesp - Campus São José dos Campos), o estudo visou identificar o cenário da cultura maker em escolas públicas e particulares brasileiras e analisar formas de trabalhá-la nas escolas públicas, proporcionando o desenvolvimento de uma cultura de colocar a mão na massa, com materiais e ambientes acessíveis para diferentes realidades. “A cultura maker envolve tecnologia, mas não é só isso. Isso é fundamental quando se pensa nas escolas públicas, que estão mais distantes quando se fala em trabalhos em salas makers, com robótica e programação. O trabalho manual e o conserto de materiais e objetos, que podem ser recriados e não apenas descartados, por exemplo, desenvolvem a capacidade de identificar o problema e resolvê-lo de outras formas”, explica Bruna.
Segundo a pesquisadora, atualmente, a cultura maker não é utilizada com frequência nas escolas brasileiras, mas cada vez há mais menções sobre sua utilização nos ambientes escolares, principalmente com foco em recursos tecnológicos ou sustentáveis. “O Brasil precisa ofertar e dar suporte para que a cultura maker seja trabalhada nas escolas”, afirma. Os benefícios da proposta envolvem o desenvolvimento de habilidades cognitivas, autonomia, criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipe, colaboração e resolução de problemas.
De acordo com a pesquisa, no mercado mundial, existem mega laboratórios com materiais e ferramentas de última geração, impressoras 3D, cortadoras a laser, entre outros recursos. O foco do estudo foi mostrar que, em outros espaços, também é possível desenvolver atividades. A pesquisadora considerou propostas menores e mais acessíveis, levando em conta a realidade dos(as) estudantes brasileiros(as). “Nas salas de aula, precisam constar os materiais e as ferramentas necessárias para a atividade, computadores para pesquisa e estudo, mesas para serem suportes para as criações, tomadas em caso de utilização de alguma ferramenta eletrônica”, exemplifica Bruna.
Nas aulas de matemática, a cultura maker pode contribuir para desenvolver o raciocínio lógico e conceitos matemáticos por meio de atividades que envolvam pesos e medidas e de análises para cortar, colar e criar os projetos, além da tecnologia que pode ser utilizada para programação e robótica.
Como resultado da pesquisa, Bruna propôs um e-book de atividades makers validado por professores(as) que participaram do curso de extensão Cultura Maker na Educação e puderam avaliar sua aplicabilidade por meio de questionário e de depoimentos. O e-book foi desenvolvido com a finalidade de contribuir para o processo de ensino e auxiliar os(as) professores(as) na exploração da cultura maker com diferentes materiais, ferramentas e infraestrutura, possibilitando uma aplicabilidade interdisciplinar com desenvolvimento de habilidades propostas na Base Nacional Comum Curricular e o uso de metodologias ativas. “A ferramenta foi construída para direcionar os(as) professores(as), propondo atividades que possam ser criadas nas aulas de matemática independente do espaço disponível. A ideia é promover atividades diferenciadas que envolvam o aprendizado e despertem o interesse dos(as) alunos(as)”, destaca Bruna.
Por meio do estudo, concluído em fevereiro de 2022, a pesquisadora identificou a possibilidade de se trabalhar com propostas inovadoras nas aulas de matemática, que contribuem para o desenvolvimento dos(as) alunos(as), além de enfatizar a necessidade de se implementar mudanças na educação considerando o contexto de inovações e tecnologias. Ainda atestou a falta de estudos e a defasagem da aplicabilidade da proposta no Brasil. “Foi possível constatar a necessidade de mais estudos a respeito da aplicabilidade maker no contexto educacional a fim de contribuir para a transformação do ensino tradicional em um ensino mais flexível, inovador e significativo”, finaliza Bruna.
Acesse a dissertação aqui.