Antonio Saturnino
Durante cinco dias, Santos foi a capital mundial das Ciências do Esporte. De 31 de agosto a 4 de setembro a cidade sediou a terceira edição do Icsemis (sigla em inglês para Convenção Internacional de Ciência, Educação e Medicina no Esporte), congresso que acontece uma vez a cada quatro anos, sempre no país-sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, cuja organização local foi realizada pela Unifesp.
Foram mais 1.400 trabalhos apresentados, entre palestras, simpósios e apresentação de pôsteres. Ao todo o congresso recebeu cerca de 2 mil inscritos, sendo que mais de 60% desse total eram estrangeiros, provenientes de 46 países diferentes. Os números superam as duas primeiras edições do evento, realizadas em Guangzhou, na China (2008), e em Glasgow, no Reino Unido (2012). “Quando o Brasil foi anunciado como país-sede da Olimpíada e Paralimpíada, consequentemente, sabíamos que o Icsemis seria realizado aqui e vimos como uma grande oportunidade de nos aproximarmos dos pesquisadores da América Latina”, afirmou Detlef Dumon, diretor executivo do Conselho Internacional de Ciências do Esporte e Educação Física (ICSSPE) e membro do Comitê Internacional de Organização.
O tema do congresso neste ano foi Dizendo Sim à Diversidade no Esporte, mostrando a importância de que a diferença de gênero, raça, cultura e religião sejam respeitadas, de forma que o esporte seja um fator de união dos povos e de respeito às pluralidades. “Se você olhar para as federações internacionais, há bem poucas lideradas por mulheres. Nunca tivemos uma mulher presidente do COI ou da Fifa. Há inclusive bem poucas técnicas de times de futebol, inclusive em times femininos. Ainda há muito trabalho a ser feito. Falta representatividade de homossexuais no esporte, por exemplo. No futebol é praticamente inaceitável, mas sabemos que existem. O tema precisa ser debatido”, completou Dumon.
Entre os estudos apresentados, houve pesquisas indicando o fator genético para o desempenho no esporte, a prática de atividade física como forma de prevenir doenças e diminuir os gastos com saúde pública, o legado dos jogos olímpicos e paralímpicos sob diversos pontos de vista, o impacto do esporte na saúde mental, o desenvolvimento do esporte paralímpico, reabilitação e horários em que nosso organismo tem melhor desempenho na prática de atividade física.
A Unifesp foi escolhida para sediar o evento pelo fato de possuir um curso de Educação Física consolidado, aliado à relevância nacional do seu curso de Medicina e da produção de pesquisas relacionadas ao esporte. Em 2014 a instituição, bem como outras universidades públicas do Estado de São Paulo, foi convidada pelo Ministério do Esporte para conhecer o edital de seleção para sediar o Icsemis 2016. O projeto da Unifesp foi escolhido por destacar o potencial acadêmico-científico dos profissionais da área do Esporte, Educação e Saúde. A cidade de Santos foi escolhida não por acaso. Além de sua beleza natural, o município tem história conhecida na área de esportes e abriga o curso de Educação Física da Unifesp.
A instituição mobilizou tanto o corpo docente quanto o discente na realização do congresso. Cerca de 50 alunos da graduação e pós-graduação trabalharam como voluntários no evento. Além disso, quase 60 professores fizeram parte dos comitês de organização, mediaram debates e/ou palestraram durante o Icsemis.
Para a bióloga Regina Spadari, professora do Campus Baixada Santista e vice-presidente do comitê local de organização, a realização da convenção contribuirá de forma muito positiva para o esporte no Brasil e para o curso de Educação Física da Unifesp. “O programa científico incluiu dez palestras de pesquisadores renomados, 112 simpósios, 1.956 apresentações orais e pôsteres. Além disso, um rico programa cultural foi oferecido aos participantes, que incluiu atividades esportivas em uma tenda montada pelo Sesc na praia do Gonzaga, apresentações musicais nos intervalos das atividades científicas, divulgando nossa cultura e nossa música em seus diferentes ritmos e expressões. Foi um período muito rico de troca de conhecimento que nos possibilitou mostrar nossa produção científica e nossas manifestações culturais”, afirmou.
A organização local contou com representantes de outras universidades públicas, entre as quais estão a Unicamp, USP, Unesp e UFMG, além do Celafiscs. O evento teve a parceria da prefeitura de Santos, do Sesc e do Santos Futebol Clube, e com apoio do Hospital Israelita Albert Einstein, Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, UFABC, UFSCar, UFCSPA, da Fapesp e do Ministério do Esporte.
O Comitê Internacional de Organização, composto pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), pelo Conselho Internacional de Ciências do Esporte e Educação Física (ICSSPE) e pela Federação Internacional de Medicina do Esporte (FIMS), ressaltou o sucesso da terceira edição do evento. Durante o encerramento, o presidente do ICSSPE, Uri Schaefer, afirmou: “O país mostrou suas habilidades em organizar grandes eventos e foi uma oportunidade única para aprendermos mais sobre os conhecimentos científicos e atividades esportivas desse povo”. Ele continuou: “Acreditamos que o esporte é um projeto de excelência e agradecemos seus esforços e trabalho árduo para a realização do Icsemis 2016”.