Mariane Santos
Em setembro de 2004, durante um almoço de família, Eltton Alysson de Andrade Oliveira deu um passo decisivo em sua vida. Natural de São José dos Campos, filho caçula de 4 irmãos, cursava, à época, o ensino médio. Não era um bom aluno, não gostava de Matemática, sabia um pouco de Ciências, nada além disso. O interesse pelos estudos não existia, muito menos uma ideia concreta do que gostaria de ser profissionalmente. No encontro de família, um parente de seu padrasto lhe ofereceu aulas particulares, despertando nele o interesse pela Matemática. Com os encontros, veio o gosto pela matéria e a valorização desse tempo de aprendizado.
A família, muito simples, não teria condições de pagar um bom colégio em São José dos Campos. Por isso, fez uma prova para obter bolsa de estudos em uma escola de seu interesse, mas não foi suficiente. Escreveu uma carta ao diretor da instituição, contando sua evolução nos estudos e o interesse em preparar-se para o vestibular, bem como a importância que aquela escola traria à sua vida. Deu certo. Durante um ano,dedicou-seaos estudos. Era o quarto melhor da sala, mas cortaram a bolsa. Somente os três primeiros da turma tiveram direito ao benefício. Voltou à estaca zero e teve que retornar à escola pública.
Por conta própria, comprou livros no sebo, separou as apostilas do colégio particular e dedicouhoras por dia aos estudos. O foco era o vestibular. Então, no terceiro ano do ensino médio, em 2008, entrou em um cursinho universitário gratuito, mas infelizmente não levou a sério e o resultado foi o esperado, nenhuma aprovação.
Em 2009, abortou a ideia do cursinho e foi trabalhar como operador de telemarketing, mas algo veio a impulsioná-lo a provar que sim, era possível ingressar em uma boa universidade. Um comentário feito por uma pessoa conhecida, desqualificando a sua situação momentânea, despertou novamente a vontade de buscar uma boa qualificação e mostrar que poderia ter um futuro promissor.
Com isso, iniciou 2010 com o pé direito e muita disposição. Dedicava-se aos estudos das 6h às 17h30, por conta própria, e frequentava o cursinho à noite. Foi assim o ano inteiro e o resultado fantástico: aprovação em 13 universidades (nove federais e quatro particulares) com 100% de bolsa. A opção foi pelo bacharelado em Ciência e Tecnologia do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo (ICT/Unifesp) - Campus São José dos Campos, em razão da situação de sua família. Para ele, a Unifesp oferecia muito mais para o aluno em questão de infraestrutura, material, laboratório, excelência e por ser na mesma cidade de sua residência.
A família recebeu com grande alegria a notícia e comemoraram com um churrasco. Nesse encontro, um parente leu uma carta que ele, Eltton, escreveu quando passou por um momento triste de sua vida, especificamente ao ser reprovado em um vestibular. Essa carta dizia que, por mais que ele não estivesse disposto a estudar, se dedicaria, pois não se via de outra forma, a não ser tendo um sucesso profissional.
Passado esse momento, sua mãe, com todo zelo, informou que não tinha condições de sustentá-lo com o passe escolar, alimentação, roupas e outras coisas necessárias durante o período universitário. Esse seria mais um obstáculo pela frente, mas ele deu um jeito e foi trabalhar de garçom e em um buffet infantil.
As portas foram se abrindo. No início da sua vida universitária surgiu uma oportunidade para ser professor de Matemática do cursinho universitário que o Campus Guarulhos da Unifesp oferecia para a comunidade. Ganhou até uma bolsa. A experiência foi surpreendente. Logo que pisou na sala de aula, se identificou com o ambiente e com a prática de lecionar.
Dotado de um ótimo humor e alto astral, viu que os alunos gostavam de seu jeito e da sua aula, mas infelizmente essa experiência durou um mês.A Unifesp teve que cortar a bolsa por causa de alguns ajustes orçamentários.
Na sequência, com a indicação de um professor da universidade, foi dar aulas de reforço da mesma matéria em uma pequena escola infantil em São José dos Campos. Deu tão certo que a procura pelas aulas aumentou e ele ajudou a escola a ampliar suas atividades, mas a mesma veio a fechar. Para não deixá-lo na mão, a dona o indicou para o Instituto Alpha Lumen (IAL), entidade voltada para estudantes com altashabilidades. Lá foi ele para mais um desafio. Passou no teste e se tornou professor de Matemática.
Em novembro de 2015 soube pela direção do IAL de uma oportunidade no Massachusetts Institute of Technology (MIT) para a realização de um curso de Ciências e Engenharia voltado a professores inovadores do ensino médio. Ele pesquisou e viu que se enquadrava no perfil - professores criativos, de educação inovadora e de liderança. Foram escolhidos 25 professores de várias partes do mundo, entre eles um brasileiro.
Ganhou um curso rápido de inglês para se preparar e embarcou para os Estados Unidos no dia 23 de junho. Durante uma semana ouviu os melhores profissionais do MIT sobre variados assuntos e ficou extremamente surpreso com os projetos que esses especialistas têm voltados à educação, a preocupação com as crianças e o uso avançado das tecnologias no desenvolvimento educativo e pedagógico. Essa experiência o fez pensar em formas e maneiras de desenvolver a tecnologia nas escolas, a valorização dos profissionais que estão sendo formados e o que é preciso para alavancar a educação no Brasil.
Esse jovem persistente está no IAL até os dias de hoje. É estudante do programa de pós-graduação em Engenharia Biomédica do ICT/Unifesp.
Sua história soma várias experiências de vida. Sua passagem pela graduação da Unifesp também mostrou que sempre há muitas coisas a aprender. Para o futuro, ele pretende incentivar as crianças a se dedicarem aos estudos e a persistirem em seus sonhos e objetivos. Ele continuará dando o melhor de si. Seu objetivo é quebrar os paradigmas do ensino no país e ser uma ponte para fazer a diferença na educação.