Sou mais importante do que pensam...

Você! É você mesmo! Aproxime-se, vamos conversar. Aliás, contar histórias e dialogar sobre elas são dois momentos dos quais gosto tanto, desde que, lógico, envolvam você e a universidade pública. É nessas ocasiões que tenho a oportunidade de trazer o conhecimento popular e o conhecimento científico para o mesmo espaço, fazendo da troca de saberes o principal fermento para a produção acadêmica brasileira. Eu e meus irmãos, o ensino e a pesquisa, somos, inclusive, inseparáveis. Tal união está até oficializada, há mais de 30 anos, no artigo 207 da Constituição da República Federativa do Brasil, de modo que nunca nos dissociássemos, justamente para levar o melhor da educação superior pública a você, que me lê agora.

Provavelmente você ouviu falar de mim. Pelo menos, deveria. Por alguns, sou conhecida como filantropia; por outros, como assistência social. No entanto, não é apenas isso. É comigo que a universidade promove inovação social, algo que muda e muito a sua vida. Inovação social, digamos, é aquele conceito moderno – mais efetivo, eficiente, justo – que resume a lacuna entre os problemas que enfrentamos e as soluções que oferecemos. E é desse universo que nascem novos modelos benéficos à população, como economia solidária, empreendedorismo social, gestão comum de bens e terceiro setor – este último termo, com certeza, você já o leu por aí, e é a partir dele que eu firmo parcerias para que essas práticas o atinjam.

Acredito que deu para notar certas características minhas, mas quero que saiba que sou também exigente. Lá atrás, no ano de 1999, as instituições públicas de ensino superior se reuniram para decidir em quais áreas do conhecimento seria permitido que se registrassem cursos, projetos, programas, eventos e prestação de serviços para atender a todos, do norte ao sul do país. Essas ações, portanto, devem estar bem alinhadas com educação, saúde, meio ambiente, comunicação, cultura, direitos humanos, tecnologia e trabalho.

O interessante é que, por conta do envolvimento com essas temáticas, as propostas acabam oferecendo não só finalidades distintas, mas alcançam também diferentes públicos. Desde a criação de jogos de tabuleiro para estimular o aprendizado sobre doenças infecciosas até o desenvolvimento de unidades de software que fornecem soluções para o fluxo de trabalho em organizações sociais sem fins lucrativos. A promoção de atividades e a prestação de serviços para idosos, pacientes com fibromialgia, refugiados, travestis e transexuais. Pode surgir da intenção de um grupo em buscar partes da história e da memória do país por meio da identificação de mortos e desaparecidos políticos ou pode surgir do propósito de outro em mostrar a brasilidade e a importância comunitária por meio das ondas sonoras de uma rádio escola. Minha missão é simples e, ao mesmo tempo, complexa: proporcionar respostas às demandas da sociedade.

Aqui, na Unifesp, mantenho 43 programas e 179 projetos. Sou inspiração para tantas atividades que você nem sabe que estão sob minha responsabilidade. A formação, por exemplo, de cerca de 1.400 residentes médicos e multiprofissionais que auxiliam no atendimento dos milhares de pacientes que adentram o Hospital São Paulo, reconhecido como hospital universitário, e seus ambulatórios. A prática empresarial e o empreendedorismo, temas trabalhados pelas oito empresas juniores que fortalecem o relacionamento dos estudantes com o mercado profissional. Existem ainda os observatórios, espaços de articulação democrática capazes de contribuir para o monitoramento e a transformação da realidade.

Normalmente não estou prevista nos cálculos das universidades públicas – assunto tratado por Naomar de Almeida Filho e que apresento mais adiante. A situação está mudando, mas as verbas orçamentárias são majoritariamente utilizadas no ensino, enquanto os recursos para pesquisa advêm das agências públicas de fomento. E eu, onde fico? Continuo ajudando a produzir parte da transformação social que, direta ou indiretamente, atinge você. Então, percebeu o quão sou importante?

Se não me conhecia, prazer. Eu sou a extensão universitária.

Texto: Juliana Narimatsu e Valquíria Carnaúba

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