Antropologia para entender a periferia

Projeto Pimentas nos Olhos utiliza a fotografia como meio de registro, reflexão e pesquisa sobre a realidade em regiões periféricas da cidade de Guarulhos

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Vista do buraco - Fotografia de Laís Agnes/2013 - Oficina Cursinho Comunitário Pimentas


Texto: Tamires Tavares

Com o objetivo de analisar o uso da imagem em pesquisas antropológicas, surge em 2007 o Grupo de Estudos Visuais e Urbanos (Visurb), sob a coordenação de Andréa Cláudia Miguel Marques Barbosa, professora do Departamento de Ciências Sociais da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos. Essa iniciativa foi proposta pela docente como forma de trabalhar as questões características da Antropologia Visual e da Antropologia Urbana, áreas nas quais é pesquisadora, empregando as ferramentas audiovisuais e seus produtos como método e fonte de reflexão teórica. Sobre as vertentes citadas da Antropologia, a primeira utiliza a fotografia, o cinema e outros meios de comunicação visual para o estudo da cultura material de um grupo social, bem como das relações que os indivíduos estabelecem entre si e com o mundo; a segunda estuda os indivíduos, os grupos e a forma como se constrói a vida social nas metrópoles.

Desenvolvido por uma equipe de bolsistas e voluntários de cursos da EFLCH/Unifesp, o Visurb organiza rodas de conversa sobre filmes e fotografias, com o apoio de material teórico sobre o tema discutido. Há também oficinas, nas quais os participantes recebem orientações sobre técnicas de composição e funcionamento de equipamentos audiovisuais, sendo incentivados a registrar imagens e sons como narrativa e expressão de sua realidade e visão pessoal. Com foco no ambiente urbano e na observação do comportamento da juventude nas metrópoles, o grupo também se dedica ao estudo de questões relacionadas à sociabilidade e cultura, com pesquisas individuais e coletivas. A partir dessa proposta, surge em 2009 o Pimentas nos Olhos, projeto de extensão que promove oficinas de produção de imagens, reúne as comunidades interna e externa e proporciona uma reflexão acerca do contexto no qual o campus está inserido – ou seja, na periferia de Guarulhos, pertencente à região metropolitana de São Paulo.

Formado por bairros menores, situados no limite entre Guarulhos e a zona leste da capital paulista, o distrito dos Pimentas caracteriza-se pela heterogeneidade cultural e artística e pela distância do centro do município – como se fosse independente deste.

“O projeto fornece um espaço democrático para a construção e troca do conhecimento. Por meio dele são discutidas questões referentes às pesquisas dos próprios estudantes do curso de Antropologia Visual, que ministro”, explica Barbosa. Por meio da produção de imagens, as oficinas propõem a reflexão dos jovens acerca da própria identidade e da realidade que os circunda, observadas a partir de novos aspectos. Esses jovens traduzem, então, suas experiências para a linguagem fotográfica, o que torna possível não somente sua expressão, mas também o compartilhamento e a ampliação de seu alcance.

“É um projeto aberto, no qual utilizamos imagens para nossas pesquisas; queremos desenvolver essa prática e repassar as informações. O Pimentas nos Olhos nos possibilita esse diálogo”, relata Felipe Figueiredo, mestrando em Ciências Sociais e participante do projeto desde 2017.

Para Lucas Oliveira, estudante do ensino médio da Escola Estadual Professor Antonio Viana de Souza, o projeto, do qual participa pela primeira vez, viabiliza outra perspectiva sobre a universidade, principalmente para os secundaristas da região, que percebem a instituição como mais acessível. “Esse contato com a universidade pública como um espaço aberto incentiva-nos a querer frequentar seus cursos”, afirma.

A cada edição, as oficinas focalizam um tema específico, escolhido a partir da realidade de determinado contexto. Ao final de cada oficina é realizada uma exposição fotográfica, cujas imagens são apresentadas em escolas e centros culturais da região.

Alguns participantes do projeto, vinculados à EFLCH/Unifesp, obtiveram reconhecimento internacional por seu trabalho na área de fotografia. Lindolfo Campos Sancho, hoje mestrando em Ciências Sociais, e Jordana Braz, na época estudante de Letras, foram premiados em 2012 no concurso fotográfico para jovens do Festival de Avanca, em Portugal, utilizando-se do suporte da plataforma Sharp - Platform for Sharing RePresenting da Unesco.

Entreteses072 Hoje tem agua da rua Fotografia BarbaraSa

Hoje tem água da rua - Fotografia de Bárbara Sá/2011 - Oficina Pimentas nos Olhos não É Refresco

Entreteses072 Sem titulo Fotografia DeboraFaria

Sem título - Fotografia de Débora Faria/2013 - Oficina Cursinho Comunitário Pimentas

Um bairro “apimentado” pelas diversas nuances sociais...

Formado por bairros menores, situados no limite entre Guarulhos e a zona leste da capital paulista, o distrito dos Pimentas caracteriza-se pela heterogeneidade cultural e artística e pela distância do centro do município – como se fosse independente deste.

 

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