Edição 12 (15)
Programa de humanização do ambiente hospitalar entra em nova fase com uma proposta de integração de projetos
Da redação
Colaborou Rogério Dias
Se relações entre seres humanos são sempre complexas, no ambiente hospitalar elas podem, facilmente, adquirir um tom dramático. Mesmo a rotina normal e corriqueira é, inevitavelmente, marcada pela tristeza, ansiedade e sentimentos de frustração. Para enfrentar esse problema, ou pelo menos atenuar os seus efeitos, o HSP/HU/Unifesp desenvolve, há mais de dez anos, um programa de humanização da prática hospitalar. Desde outubro, o processo entrou em uma nova fase, a partir de iniciativas assumidas pela Reitoria, englobadas pelo programa A Semente está Lançada, com previsão para começar a ser implantado até o fim do ano. “As questões das relações humanas sempre me incomodaram, da forma com que convivemos com os nossos pacientes e como convivemos entre nós mesmos também”, afirma Rosileide Pinheiro, servidora do setor de Reumatologia Pediátrica do HSP/HU/Unifesp, uma das coordenadoras do novo projeto de humanização. “Como são as nossas relações diárias? O que fazemos para humanizá-las? Como é a dor do outro que vem para ser atendido? Quando o funcionário ou o servidor precisa dar uma notícia mais difícil e ele não está em um bom dia, como que faz?”, indaga Rosileide.
Coordenado por Angélica Belasco, o projeto de humanização mais antigo atua, desde 2004, em diferentes áreas e de diversas maneiras. O “Amicão”, lançado em março de 2006, emprega um cão da raça Golden Retriever, hoje com seis anos de idade, que passeia pelas unidades pediátricas do hospital nas tardes de quarta-feira. O “Ternura do Canto” é protagonizado pela dupla sertaneja Ricardo e Eduardo. Eles passam cantando músicas para os pacientes pelo menos uma segunda-feira por mês, há cerca de três anos. São alguns dos exemplos de iniciativas que acabam tendo um impacto muito positivo para os pacientes e para o meio hospitalar como um todo.
“Você vê aquele ambiente que era pesaroso, triste, e acaba tendo uma modificação. Nós percebemos que o cachorro não é só um cachorro, parece que ele é um funcionário”, diz Beatriz Batista, enfermeira do HSP/HU/Unifesp que atualmente atua na educação permanente e estuda o assunto em sua pós-graduação.
Beatriz avalia que por mais que sejam projetos isolados dentro do hospital, tendo pouco contato entre si, por se desenvolverem em áreas diferentes, eles acabam fazendo a diferença. A enfermeira conta que não tinha muito envolvimento com a questão da humanização, até que percebeu que sua vida era uma correria e que acabava dando mais atenção às tecnologias e a realização de técnicas do que para o próprio paciente, e isso a incomodava: “Eu não queria ser assim. Eu queria ser uma pessoa dedicada ao paciente. São pequenos detalhes que às vezes acabam passando despercebidos, mas que para o paciente é muito importante”, completa Beatriz.
E é justamente o fato de esses projetos estarem desconexos que levou Rosileide a procurar a reitora Soraya Smaili para que algo fosse feito com o objetivo de integrar todas as ações humanizadoras. A servidora conta que existem ótimos trabalhos em desenvolvimento: “No setor de Reumatologia Pediátrica, há uma assistente social dedicada exclusivamente ao atendimento às crianças. Elas recebem vale-transporte, cesta básica e atendimento psicológico de fisioterapeuta”. Segundo Rosileide, antes do processo de humanização atuar nessa área, havia casos em que as crianças não tomavam os remédios prescritos ou faltavam às consultas por falta de recursos da família. Em muitos casos, os pais diziam que tinham que optar entre comprar comida ou remédio. Hoje, a realidade é bastante diferente.
Os projetos não são direcionados apenas aos pacientes. Beatriz nota que há uma melhora evidente no humor dos funcionários nos dias em que ocorrem algumas das atividades marcadas: “Nós, assim como os pacientes, sentimos uma diferença. Nós sabemos que naquele dia vai ter teatro e fazemos de tudo para dar uma ‘fugidinha’ do setor, assistirmos a peça e voltarmos. É criada uma expectativa para esses dias”, conta.
Além de integrar as atividades, Rosileide também propõe a mudança nas atitudes dos funcionários. Simples gestos como segurar a mão, olhar no olho e ouvir o paciente são algumas maneiras de mudar essa relação, resgatar a autoestima e quebrar essa barreira funcionário-paciente: “A humanização é isso, se importar com a dor do outro. Não é que o paciente vai ser curado, mas a partir do momento em que você se importa com o que o outro está sentindo, ele reconhece que não está sozinho”, comenta.
Os projetos não são direcionados apenas aos pacientes. Beatriz nota que há uma melhora evidente no humor dos funcionários nos dias em que ocorrem algumas das atividades marcadas: “Nós, assim como os pacientes, sentimos uma diferença. Nós sabemos que naquele dia vai ter teatro e fazemos de tudo para dar uma ‘fugidinha’ do setor, assistirmos a peça e voltarmos. É criada uma expectativa para esses dias”, conta.
Além de integrar as atividades, Rosileide também propõe a mudança nas atitudes dos funcionários. Simples gestos como segurar a mão, olhar no olho e ouvir o paciente são algumas maneiras de mudar essa relação, resgatar a autoestima e quebrar essa barreira funcionário-paciente: “A humanização é isso, se importar com a dor do outro. Não é que o paciente vai ser curado, mas a partir do momento em que você se importa com o que o outro está sentinndo, ele reconhece que não está sozinho”, comenta.