Juliana Narimatsu
Esse é José Roberto Ferraro. Muitos o chamam de professor ou doutor Ferraro, mas são poucos que conhecem o Zé. Eu tive essa chance. Fui apresentada à sua história por meio de 11 relatos de diferentes pessoas que também tiveram essa oportunidade. O interessante é que todas, sem exceção, disseram que aquele lugar, o Hospital São Paulo (HSP/HU/Unifesp), representa a sua vida. Da primeira à última. Dos familiares aos colegas de trabalho. Isso é possível. Peço licença, então, para contar a sua história. Essa é a história do Zé.
Grande Famiglia
Nossa história começa um tempo atrás, um pouco longe daqui, em Fagnano Castello, província de Cosenza, Itália. Uma cidadezinha onde todos conheciam todos. Por consequência da Grande Guerra, muitos sabiam que seus vizinhos estavam procurando refazer suas vidas em outros lugares. Ítalo Ferraro foi um deles. Seu destino, no caso, foi o Brasil. O irmão de seu pai, que já morava no país, o receberia. O emprego estava garantido em uma firma de móveis. Com a sorte lançada, Ítalo embarcou, aos vinte anos de idade, no navio, sozinho, de mala e cuia.
Seguiu para São Paulo e foi parar no Cambuci. Instalou-se na residência do tio, junto com outros parentes. Fez seu pé de meia como marceneiro. Foram muitas camas, mesas, cadeiras e armários que construiu. Conseguiu, depois, alugar uma casa por ali mesmo. Com um teto, Ítalo recebeu a mãe, os dois irmãos e a esposa, que vieram da sua cidade natal. Mais tarde, a família deu boas-vindas a um novo integrante: seu primeiro filho, José Roberto.
Zé veio ao mundo em 2 de novembro de 1953, mas, para não carregar a tristeza do Dia dos Finados, seu Ítalo insistiu em registrar o primogênito no dia 3. A infância toda foi no bairro do Cambuci. Morou nas ruas José Bento, Barão de Jaguara e dos Alpes, como bem se lembra. Cresceu rodeado de patrícios, amigos imigrantes da Itália. Considerados praticamente tios, eles frequentavam a casa de seu pai para confraternizar. Uma macarronada com porpeta, um bom futebol e, de saideira, um jogo de cartas. As datas comemorativas, essas não passavam nunca em branco. Confetes eram jogados no Carnaval e o Papai Noel aparecia todo Natal.
Nesse tempo, chegou Luiz Carlos, quatro anos mais novo que Zé. Quando pequenos, passavam o dia brincando no quintal. Depois, acabaram indo para a rua, bater uma bola até de tarde. Zé Roberto, mais. Ele tinha até um clubinho, o Haiti. Foi responsável pela escalação do time, as datas das próximas peladas, a contagem dos gols. Tudo bem organizado em um caderno. “Lembro de um pebolim diferenciado, com botões que mexiam os jogadores. Como a gente brincava com aquilo! Fora as outras coisas: pião, carrinho, diabolô. Esses brinquedos tinham um valor inestimável para nós, porque foram montadas pelo nosso pai”, conta o irmão caçula.
Quantas lembranças! Zé Roberto ganhou o apelido de Marcelino por sua franja parecer com a do personagem do filme religioso Marcelino pão e vinho. O salário era contado e a mãe, Anina Avoilio Ferraro, milagrosamente, não deixava faltar nada no lar. Contra as enchentes na região, seu Ítalo instalou comportas para a água do rio Tamanduateí não chegar nos pés da família. E a escola? Ele ia bem, sim. O pai dava apenas um acabamento nos projetos de Artes Manuais, até porque essa não estava entre as matérias preferidas de Zé.
Acima à esquerda, José Roberto Ferraro com menos de um ano de idade
Acima à direita, ao lado do irmão e do pai com o jogo de pebolim
Abaixo, Zé, ao centro, acompanhando a jogatina dos patrícios da família
Doutore Zé Roberto
“Você vai ser doutore!”, falava a mãe, Anina. Zé cresceu com o mesmo sonho. O gosto pela área de Biológicas, incrementado pela boa formação que os colégios públicos ofereciam, estimulou-o a decidir por essa carreira. Lógico, não foram só as aulas de dissecar ratos, analisar planárias e classificar insetos, além dos passeios esporádicos para o Museu de Zoologia e para a Serra do Mar que fortaleceram esse desejo, mas, também, e principalmente, o apoio constante dos seus pais.
A previsão da madre foi certeira. No dia do resultado do vestibular, Zé e sua companheira fiel, Lidia Stival, foram conferir a lista de aprovados. Uma folha de papel, pregada ao tapume de madeira, apresentava os nomes em ordem alfabética e as respectivas universidades. Lidia visualizou o seu registro de pronto. Ao lado, o código A02 sinalizava a sua entrada na Escola Paulista de Medicina (EPM). Zé, entretanto, não se encontrava. Foi a pior notícia de sua vida! Apesar de ter garantido a vaga na Faculdade de Medicina do ABC, ele sabia que o seu pai não teria condições de ajudá-lo nas mensalidades.
Voltou para casa, triste. Conversou com a mãe e foi direto para cama. Dona Anina insistiu. No dia seguinte, no café da manhã, ela entregou o jornal para Zé, que conferiu novamente seu nome. Espere! Outra lista? José Roberto Ferraro-A02. Foi a melhor notícia de sua vida! Foram divulgadas, na verdade, duas relações de aprovados: uma com aqueles que optaram por inglês na prova e a outra com os que fizeram francês. Ele estava na segunda. “Nós esperávamos com muita ânsia o resultado. De repente, ele deu um grito: ‘Passei, mãe, passei!’. Foi uma choradeira toda”, relata seu Ítalo.
Em dezembro de 1972, antes mesmo do período letivo começar, já era possível avistar um rapaz entusiasmado familiarizando-se com as redondezas da Vila Clementino, com mais frequência no percurso entre a Atlética e o Hospital. O engraçado foi que, em 1973, no primeiro dia de aula ainda era complicado para o Zé saber aonde ir. No meio de tantos calouros… com licença, como se chega ao anfiteatro? Juntou-se, no fim, a um grupinho de novatos perdidos, que foram gentilmente escorados pelo professor Nylceo Marques de Castro. “Vem aqui, eu vou proteger vocês”, lembra Zé, com carinho, as amistosas palavras. O docente ajudou, então, os meninos a se localizarem nos caminhos, que tinha de cor e salteado, da EPM.
Bons tempos. Grandes amizades foram feitas e cultivadas na turma de classe sempre unida. Vale destacar um rosto em particular dentre os amigos. Na ocasião, namorada. “Os colegas nos chamavam de ‘a Lidia do Zé e o Zé da Lidia’ e isso ficou”, pontua Lidia Stival Ferraro. O jovem casal ralava de estudar junto. “Os livros comprados, nós dividíamos. Depois da aula, ficávamos na biblioteca até de noite. Não sei se era na Lanchonete Xaxim, mas a nossa janta se resumia a um ovo, uma pizza e um chocolate. Comíamos também um bendito bife à rolê com arroz à Catarina. Aquele gosto ficou na lembrança”, recorda ela.
Os dois tentaram aproveitar plenamente cada ano na EPM. Participaram do coral de alunos regido pelo maestro Davi Reis, ele como barítono, ela como contralto. Inscreveram-se no programa de bolsa-auxílio do HSP, ele trabalhando no Banco de Sangue, ela, na Internação do Pronto-Socorro. Zé ainda foi monitor da Anatomia. Mas há de convir que um dos seus grandes papéis durante a graduação foi nas arquibancadas; não nas quadras. Fanático por esporte, até ganhou o troféu de Melhor Torcedor do Ano. Acompanhava cada time da Atlética, em especial o de vôlei. Lidia foi a número 7 da equipe. Jogadora e torcedor marcavam presença nos treinos e também nas competições. “Em um dos jogos da Intermed (evento esportivo universitário de Medicina), uma pessoa de outra faculdade começou a pegar no pé da Lidia. Zé Roberto ficou nervoso… italiano, né? Sangue quente! Ele queria ir no meio da torcida adversária e a gente teve que segurá-lo”, relembra Mario Monteiro, calouro do Zé.
Acima à esquerda, time de futebol de salão composto pelos colegas da turma da EPM
Acima à direita, ao lado de Lidia em uma das competições da Intermed
Abaixo à esquerda, ao lado dos pais, na frente do Centro Cirúrgico
Abaixo à direita, com os filhos em aniversário de um ano da Lilian
Parceiros de vida
Foi em 1972 que o affair começou. Lidia era prima do amigo do amigo de Zé Roberto. Por acaso, ela frequentava o mesmo cursinho preparatório para o vestibular. Uma paquera de lá, outra de cá, até que finalmente oficializaram a relação. Aconteceu naquele mesmo ano, às margens do rio Ipiranga, no dia 6 de setembro. Foi na sequência do espetáculo de cores e luzes promovido pelo museu local, evento realizado em comemoração aos 150 anos da Independência. Zé marcou o momento com um presente, uma bonequinha de corda. De lá, proclamaram-se namorados.
Após a formatura da EPM, a família passou a cobrar o casamento. Só faltava o pedido. “No dia, meu pai, como bom italianão, esperou Zé Roberto em casa. Ele chegou nervoso, acompanhado da minha sogra, do meu sogro e do meu cunhado. Aí, vem aquele silêncio sepulcral! ‘Seu Fiore, eu vim aqui pedir a mão da sua filha’, com toda a formalidade que nem sei se existe hoje. Meu pai autorizou e celebramos com um champanhe”, relata Lidia.
Trocaram as alianças em 31 de maio de 1979, uma das datas recorde de queda de temperatura. Os convidados vieram de casacos. A noiva tremia na igreja, já que seus nervos estavam congelados. E a lua de mel? A piscina do hotel em Monte Verde estava com uma fina camada de gelo. O chão, então, parecia coberto de neve por conta do orvalho. “Um frio do cão”, exclama Lidia.
Três anos depois, o casal compartilhou a primeira alegria: o nascimento de Bruno. Seu parto foi algo emblemático, porque ocorreu no HSP e foi feito por um colega da EPM, Pedro Lacordia. Na realidade, isso foi nada proposital. O dinheiro estava curto mesmo e eles nem tinham plano de saúde na época. A outra grande felicidade veio em 1984 com a chegada da filha, Lilian. Com duas crianças, pai, com mais responsabilidades nas costas, Zé Roberto precisou mergulhar fundo na labuta.
Acima à esquerda, jantar com a família Ferraro
Acima à direita, com a esposa Lidia
Abaixo à esquerda, Lidia, Ítalo e Anina
Abaixo à direita, no Natal com os filhos Lilian e Bruno
De residente a administrador
No decorrer do curso de Medicina, Zé foi atraído pela área cirúrgica. O professor Boris Barone, da Gastroenterologia Cirúrgica da EPM, incentivou-o ainda mais, multiplicando convites para acompanhar o docente em cirurgias de pacientes vindos do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Zé foi até instrumentador em algumas delas. Quando chegou a hora, ele escolheu, sem dúvida, a residência médica em Cirurgia Geral.
Foi difícil! A entrada na residência e a passagem por todo o estágio exigiu grande empenho dos recém-formados. Do Zé e dos seus colegas. Os estudos foram mais intensos, especialmente quando precisavam se preparar para a próxima cirurgia. Na maioria das vezes, iria ser o primeiro contato deles com aquela operação. Esse começo da profissão, uma das melhores fases para Zé, ficou registrado na memória. “A primeira cirurgia como residente foi uma hérnia epigástrica, se não me engano. Simples para o primeiro ano. Zé Roberto fez e eu o ajudei. Até hoje ele se recorda do nome do doente. É uma coisa que marca”, conta Gaspar Lopes Filho, professor do Zé na Gastroenterologia Cirúrgica.
Seja pelo caráter generalista de Zé, seja pela diversidade de patologias que a disciplina abrange, Gastrocirurgia foi a sua opção de especialidade e lá permaneceu. Foi docente e preceptor dos residentes. Alcançou, depois, o cargo de chefe do plantão das quartas-feiras no HSP. Preencheu, na sequência, sua agenda de segunda a segunda com outros plantões fora do quadrilátero da Vila Clementino, que permitiram dar um sustento melhor para a sua família. Afinal, Zé já era casado. Trabalhou, assim, em Arujá, para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no Hospital Heliópolis e no Hospital Municipal do Jabaquara.
Vale destacar um outro lugar frequentado por Zé: o Pronto-Socorro do HSP. Para ele, um locus fantástico de conhecimento. Aprende-se, ali, a Medicina como ela realmente é. Anos mais tarde, foi convidado a gerir o PS como coordenador-geral, além de assumir a chefia do Departamento de Cirurgia da EPM. “Lembro de uma vez quando nós, Zé Roberto e eu, entramos bem cedo no pronto-socorro. Nesse dia, fiz três cirurgias consecutivas de vesícula. Ele, chefe, me orientava o tempo todo. Foi um marco para mim. Zé Roberto deixava a gente bater asas e fazer as coisas com muita responsabilidade, pois ele nos cobrava isso”, narra Carlos Buchalla, residente do Zé.
O ápice dessa história, entretanto, aconteceu no ano de 1994. O professor Hélio Egydio, então candidato à Reitoria da Unifesp, chamou-o para uma conversa séria: a depender do resultado da eleição, o docente queria Zé Roberto como diretor-superintendente do HSP. Nossa Senhora! O senhor tem certeza disso? A carreira de Zé estava começando a ganhar uma forma definitiva. Além dos vínculos com a instituição, ele já realizava atendimentos em seu consultório. Dúvidas… essas apareceram, com certeza. Contudo, no ano seguinte, enquanto Hélio tomava posse como reitor, Zé encarava o novo desafio.
Um fôlego na labuta
Em todas as decisões importantes, Zé tinha a família ao seu lado. Sempre. Houve momentos, ele reconhece, que a balança pendeu mais para o lado do trabalho. “Nós não nascemos em berço de ouro. Tudo conseguimos na raça, então, não tínhamos escolha. O começo foi bem difícil, mas os meninos entendem isso e eu o apoiei e me orgulhei muito daquilo que ele fez”, explica Lidia.
Contudo, quando existia uma brecha, Zé Roberto aproveitava para curtir. “Não tem companheiro melhor de viagem do que ele”, descreve a esposa. Os inúmeros acampamentos com o irmão Luiz Carlos, os bate-volta para o apartamento do seu Ítalo em São Vicente, no qual, como no coração de mãe, cabiam todos, as idas ao sítio da cunhada em Campo Limpo para celebrar as datas festivas e os finais de semana com os amigos na casa na praia. “Morei no mesmo prédio que ele há 17 anos e isso criou uma amizade muito forte. Depois, compramos um terreno juntos na praia. Eu construí e, quando acabei, Zezinho começou o dele. Isso fortaleceu o nosso vínculo. Quando um não vai, já perdeu a graça para o outro. A gente realmente curte estar lá”, fala José Eduardo Dolci, ex-vizinho de porta do Zé.
Há uma época extremamente importante para Zé Roberto. Tradição, a data conta com uma ceia bem farta, a presença dos familiares e a visita do bom velhinho. “O especial do Natal era quando chegava a madrugada do dia 24 e vinha o Papai Noel. Antes era o meu tio, depois acabou sendo meu pai. Sempre teve essa cultura na minha família. Desde quando nasce até um pouco antes dos dez anos você fica acreditando. Hoje, ele se veste para o meu primo que acabou de chegar”, comenta Bruno. “Desde a minha infância meu pai também foi mágico no Natal. Eu, quando pequena, era a partner dele. Ele me chamava da plateia e eu o ajudava. Ele gosta dessas coisas. Fica super contente com isso. Meu pai até se emociona com os comerciais de TV que passam nesse período!”, relembra Lilian.
As suas horas livres também são aproveitadas com atividades de arquitetura ou paisagismo. “Quando ele acaba uma reforma na casa, ele me chama para festejar. Abrimos até um champanhe”, pontua o amigo Dolci. Zé desfruta ainda de uma boa agenda cultural ou gastronômica com a família. “A gente sempre vai junto para um teatro ou pegar um cineminha ou jantar em um restaurante novo”, diz Lilian. Seu gosto pelo esporte continua. Primeiro, acompanhando o seu Alviverde. “Todos. Todos são palmeirenses. O único que saiu foi eu. Torço para o Santos e eu sofri toda a pressão quando menininho. A gente ia para o campo assistir Palmeiras, porque eles queriam que eu me tornasse palmeirense”, comenta o irmão Luiz Carlos. Depois, indo para as quadras. Na verdade, Zé Roberto até tentou fazer alguns dribles no futebol com os colegas da EPM, mas se deu bem no saibro, jogando uma bela partida de tênis.
Ao lado da equipe da Diretoria do HSP/HU/Unifesp
Relação hospital e médico
Zé Roberto vivenciou o seu crescimento: vinte e quatro horas por dia, de segunda a segunda, durante todo o ano, ele zela pela saúde dos 1,5 mil cidadãos que passam diariamente por suas portas. Na realidade, é responsável pelo atendimento de cerca de 5,4 milhões de habitantes da capital e da Grande São Paulo, fora os pacientes oriundos de outros municípios e estados do país. Comporta 123 endereços ambulatoriais, 63 unidades de internação, três centros cirúrgicos e um dos maiores e mais importantes prontos-socorros do Estado de São Paulo. Além do seu caráter assistencial, também há o ensino e a pesquisa, em razão do vínculo com a Unifesp. É considerado, assim, um dos melhores centros formadores de profissionais da área da saúde, oferecendo ainda subsídios para o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e científicos de ponta. Circulam diariamente por seus corredores cerca de 1.160 estudantes de graduação, 2.630 pós-graduandos, 1.100 residentes médicos e 570 residentes multiprofissionais, sendo detentor do maior programa de residência do Brasil. Esse é o Hospital São Paulo.
Para isso, mudanças tiveram que ser feitas, sim. Do ponto de vista organizacional, a criação de protocolos, em especial os contábeis e financeiros, como forma de controle administrativo. Em relação à qualidade no atendimento, as reformas de infraestrutura dentro das normas vigentes, aprimorando a segurança, humanização e acessibilidade dos pacientes e usuários. Na formação, destaque para o aumento dos programas de residência médica e a inclusão dos multiprofissionais. Já na gestão, a compreensão do sistema hospitalar por inteiro, a aproximação das necessidades assistenciais, administrativas e acadêmicas e, por último, mas não menos importante, a construção de relacionamentos e diálogos com todas as instâncias. “Nós trabalhamos muito para dar uma melhor condição para a assistência. Um exemplo marcante, na minha opinião, foi o recebimento das novas caldeiras para a nossa Central de Processamento de Roupas”, coloca Ana Bahia, assessora da Superintendência do HSP/HU/Unifesp. “Foi um projeto grande de modernização da parte industrial do hospital. A Nutrição e a Central de Material e Esterilização também passaram por reformas e adquiriram novos equipamentos”, complementa o, agora médico, Mario Monteiro.
José Roberto Ferraro, hoje, é diretor-superintendente de um dos maiores hospitais universitários da rede federal. Como é complicado resumir todo esse tempo em poucas palavras! Antes de tudo, buscou suporte com antigos gestores. Especializou-se na área de administração hospitalar. Integrou-se à Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino (Abrahue), onde foi presidente em certas ocasiões. Acompanhou de perto o desenvolvimento da EPM e também da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), junto com o hospital.
Mas, com todas as obrigações que o cargo impõe, para José Roberto o dia a dia não foi feito apenas de assuntos administrativos. A convivência no hospital possibilitou ainda outros tantos episódios memoráveis. “Não sei se foi chuva ou vento, mas a castanheira, que ficava na entrada, não resistiu. Fazia anos que estava lá. Tombou inteira, sem machucar ninguém. A gente falava: ‘A árvore caiu! A árvore caiu!’. Já o professor Ferraro dizia: ‘Não. A árvore se debruçou nos braços do Hospital São Paulo’. Ninguém esquece essa frase. Inclusive, guardamos uma parte do tronco. Depois, replantamos uma nova muda e uma de suas primeiras castanhas eu guardei para ele”, fala Dulce Dias, secretária executiva da Superintendência do HSP/HU/Unifesp.
Dificuldades, no entanto, também existiram e algumas persistem. A equação numérica que não bate. A receita menor que a despesa. Decisões nada fáceis de serem tomadas. O HSP/HU/Unifesp passou por greves e paralizações. Por outro lado, viu a solidariedade. O apoio veio, por exemplo, em um simples gesto. De mãos dadas, pacientes, médicos, alunos, professores, funcionários e residentes percorreram os seus 590 metros de extensão. Zé também estava lá. Um abraço, assim, foi dado no hospital, possível somente com a união de todos. Indivíduos esses que fazem o coração do Hospital São Paulo não parar de bater.
Há 40 anos, um tal de Zé encontrou-se com um hospital. José Roberto Ferraro se encontrou no Hospital São Paulo. E essa é a sua história. E essa é a história desse encontro. Um encontro que permanece. E por permanecer, se vive. E por viver, marca. Afinal, Zé, o Hospital São Paulo representa o que para você? “Ele é tudo para mim. É tudo! Junto com minha família. O hospital me trouxe as coisas boas da minha vida e eu sou grato. Aprendi aqui e aprendi muito. Por isso, digo, até hoje, que o que eu me dedico será insuficiente para retribuir ao que essa instituição me deu. Há muito esforço para se formar uma pessoa, entende? Isso não é só bonito de se falar, eu acredito. Então, eu me considero um eterno devedor por tudo que, não só a EPM me deu, mas principalmente o Hospital São Paulo”, finaliza José Roberto Ferraro.