Novo atlas ambiental ajudará a preservar mananciais

Resultado da colaboração entre a Unifesp e a Prefeitura de Diadema, ferramenta permite interação com a sociedade e busca cultivar a consciência ecológica no município

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Texto: Valquíria Carnaúba

Diadema ocupa uma área de 30,73 km² na região do Grande ABCD, em São Paulo. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seu território possui atualmente 420.934 habitantes; 97,4% dos domicílios dispõem de esgotamento sanitário adequado; 76,3% dos domicílios urbanos situam-se em vias públicas arborizadas; e em 42,3% deles as vias públicas são urbanizadas (com calçadas, pavimentação, meio-fio e escoadouro de águas pluviais). O bairro de Eldorado, pertencente ao município, é área de proteção de manancial e abriga dois braços da represa Billings, fundamental para o abastecimento de milhões de pessoas. 

Apesar de sua evidente importância ambiental, a cidade ainda esbarra na inexistência de um conjunto de dados e informações integradas, considerando os componentes do meio físico, biótico, socioambiental e econômico. Essas lacunas deverão ser supridas com o Atlas Ambiental de Diadema, um projeto que está sendo desenvolvido pelo Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, em parceria com a Prefeitura Municipal de Diadema.

Coordenado por Ana Luisa Bitencourt, Cláudio Benedito Baptista Leite e João Alexandrino, o projeto envolve uma equipe múlti e interdisciplinar de docentes, técnicos administrativos e estudantes de diversos departamentos do ICAQF/Unifesp, além de técnicos da administração municipal. Seus idealizadores empenham-se na concretização da proposta com o intuito de possibilitar o acesso às informações e dados sobre o meio ambiente, orientar as atividades de gestão ambiental e contribuir com o Plano Diretor do município e o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

A construção do Atlas Ambiental de Diadema é norteada por um sistema de informações geográficas (SIG), composto por hardwares, softwares, informações espaciais e recursos humanos, permitindo a análise, gestão e representação do espaço e seus fenômenos. De acordo com Bitencourt, atualmente chefe do Departamento de Ciências Ambientais, a base de dados constitui-se de informações socioambientais e geográficas oriundas do IBGE e de pesquisa especialmente realizada pela prefeitura. Em sua criação, serão adotadas ferramentas como informações espaciais cruzadas, tabelas e geração de mapas, tudo com o apoio de programas computacionais – entre eles, ArcGIS, QGIS e Idrisi. 

A primeira etapa do projeto, que consistiu no levantamento de dados sobre o meio físico, biótico e socioambiental, foi apresentada durante o I Workshop Atlas Ambiental de Diadema, em novembro de 2018. Conforme relata Alexandrino, o fato marcou a intensificação do diálogo entre o campus e a prefeitura, responsável por abraçar a proposta desde o início. “Seu mecanismo pode tornar-se estratégico para a aplicação de um modelo de cidade inteligente em Diadema, já que facilita e promove o acesso a informações relativas ao meio ambiente, orientadas às atividades de gestão ambiental”, complementa.

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Para os coordenadores do projeto – Cláudio Benedito Baptista Leite, Ana Luisa Bitencourt e João Alexandrino (da esquerda para a direita) –, o Atlas Ambiental auxiliará no estabelecimento de relações com órgãos governamentais na busca do aprimoramento de políticas públicas

Consciência ambiental e inclusão social

Atualmente o IBGE define atlas de duas maneiras: o termo pode indicar tanto um conjunto de mapas ou cartas geográficas como um volume de dados sobre determinado assunto, sistematicamente organizados e que servem de referência para a construção de informações, de acordo com a necessidade do usuário. Um atlas ambiental baseia-se nisso, pois é um instrumento que reúne, por meio de figuras, tabelas e mapas, diferentes temáticas relacionadas ao meio ambiente local. Sua conclusão, prevista para 2021, nos formatos digital e impresso, mapeará recursos hídricos, solo, vegetação e ar da cidade, além de outros aspectos, tais como educação ambiental, saúde, arte e cultura.

Nesse trabalho, os pesquisadores visam ultrapassar as fronteiras acadêmicas e administrativas: o propósito é interagir com a sociedade local, de modo a reforçar o papel da universidade na produção e disseminação do conhecimento, a fim de integrar a visão sobre a complexa ocupação do espaço urbano e sua relação com os problemas ambientais. Para que se alcance essa meta, eles apontam medidas que poderiam ser adotadas como cursos de formação, capacitação e qualificação, bem como o desenvolvimento de ações articuladas com a comunidade, contemplando os saberes e práticas das populações locais. 

Seguindo a linha da educação ambiental crítica, pautada na transformação social, os autores realizarão um mapeamento que promova a igualdade de direitos e a qualidade de vida. Para eles, o documento é um importante instrumento de diálogo com órgãos e instituições governamentais na formulação de políticas públicas.

Elementos que compõem o projeto Atlas Ambiental de Diadema

O projeto estabelece que a decodificação dos dados ambientais exige uma compreensão de fenômenos espaciais e sociais, com vista a gerar informações geográficas que poderão ser utilizadas para diversas finalidades (em áreas como sociologia, saúde e economia). Os autores afirmam que, “para essa tarefa, torna-se essencial a adoção de um sistema de informações geográficas”, abreviado pela sigla SIG. Na elaboração do Atlas Ambiental de Diadema, optou-se por um modelo próprio de SIG, que opera com tecnologias voltadas à organização dos dados ambientais do município. 

  • Sistema de geoprocessamento - É o processamento informatizado de dados georreferenciados. Utiliza programas de computador que permitem a manipulação de informações cartográficas (mapas, cartas topográficas e plantas) e de informações às quais se podem associar coordenadas desses mapas, cartas ou plantas. Possui diversas aplicações, mencionando-se entre elas os sistemas de cartografia automatizada (CAC), de processamento de imagens e CAD (destinado a engenheiros e projetistas). 
  • Banco de dados espaciais - É utilizado para armazenamento de informações sobre o espaço geográfico. 
  • Mapas e cartografia - A confecção de um mapa requer um conjunto de informações, incluindo a seleção de características, classificações e agrupamentos, legendas, escalas, amplificação de determinados dados e simbologias para representar diferentes classes de elementos.
  • Dados geográficos - São dados georreferenciados em atributos qualitativos e quantitativos, relativos à localização, relacionamento topológico e tempo. 
  • Atributos quali e quantitativos - Referem-se às características das entidades mapeadas, podendo ser representados por dados alfanuméricos; possuem aspectos não gráficos e podem ser tratados por sistemas de gerenciamento de bancos de dados convencionais. 
  • Localização geográfica - Envolve geometria dos objetos, conceitos de métricas, sistemas de coordenadas e medidas de distância (lineares e angulares), entre outros itens. 
  • Identidade visual - Nesta etapa, serão utilizados diversos instrumentos de trabalho, envolvendo captura, análise e tratamento de imagem para representação visual, mediante o emprego de softwares gráficos como Illustrator e Photoshop.
  • Temáticas gerais - O projeto estrutura-se em cinco temáticas principais: meio físico (geologia, geomorfologia, solos, recursos hídricos, fauna, flora, biodiversidade e atmosfera); meio urbano (evolução do meio urbano, clima urbano/qualidade do ar, solos urbanos, áreas de risco, resíduos, fontes poluidoras, saneamento/tratamento); saúde e meio ambiente; educação, arte, cultura e etnologia (educação ambiental, arte, cultura e etnologia); gestão e políticas públicas (prognósticos atuais, perspectivas futuras e direito ambiental).

Labs da Unifesp integram programa multidisciplinar

A produção do Atlas Ambiental de Diadema, além de uma equipe ampla e qualificada, envolve dez laboratórios de pesquisa do ICAQF/Unifesp, no Campus Diadema, que abrangem múltiplas áreas. Tais laboratórios estão instalados nas unidades José de Filippi e José Alencar (Edifício de Pesquisas).

  • Laboratório de Paleoecologia e Ecologia da Paisagem
  • Laboratório de Ecofisiologia e Monitoramento Ambiental
  • Laboratório de Ecologia, Zoologia e Fisiologia Comparada
  • Laboratório de Processos Ambientais, Bioquímicos e Químicos
  • Laboratório de Genética Evolutiva
  • Laboratório de Engenharia e Controle Ambiental
  • Laboratório de Economia, Saúde e Poluição Ambiental
  • Laboratório de Clima e Poluição do Ar
  • Laboratório Multidisciplinar em Mineralogia, Águas e Solos
  • LabInSciences (Laboratory of Integrated Sciences)

Artigos e sites relacionados:

SILVA, Laiane Tamion da; ABE, Karina Camasmie; MIRAGLIA, Simone Georges El Khouri. Avaliação de impacto à saúde da poluição do ar no município de Diadema, Brasil. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, Rio de Janeiro, n. 46, p. 117-129, dez. 2017. Disponível em: <https://www.yumpu.com/pt/document/fullscreen/59678406/edicao-46-rbciamb >. Acesso em: 9 abr. 2019.

ROMERO, Amanda Caetano; ISSII, Thais Martins; PEREIRA-SILVA, Erico Fernando Lopes; HARDT, Elisa. Effects of urban sprawl on forest conservation in a metropolitan water source. Revista Árvore: Brazilian Journal of Forest Science, Viçosa, MG, v. 42, n. 1, p. 1-11, 2018. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rarv/v42n1/0100-6762-rarv-42-01-e420114.pdf >. Acesso em: 9 abr. 2019.

FONSECA, Frederico; CÂMARA, Gilberto; DAVIS, Clodoveu. Bridging ontologies and conceptual schemas in geographic information integration. GeoInformatica, [s.l.], v. 7, n. 4, p. 355-378, dez. 2003. Disponível em: <https://link.springer.com/content/pdf/10.1023%2FA%3A1025573406389.pdf >. Acesso em: 9 abr. 2019.

DIADEMA (Estado de São Paulo). Prefeitura do Município de Diadema. Lei complementar nº 273, de 8 de julho de 2008. Dispõe sobre o Plano Diretor do município de Diadema, estabelecendo as diretrizes gerais da política municipal de desenvolvimento urbano, e dá outras providências. Disponível em: <https://leismunicipais.com.br/a/sp/d/diadema/lei-complementar/2008/27/273/lei-complementar-n-273-2008-dispoe-sobre-o-plano-diretor-do-municipio-de-diadema-estabelecendo-as-diretrizes-gerais-da-politica-municipal-de-desenvolvimento-urbano-e-da-outras-providencias >. Acesso em: 10 abr. 2019.

EMPRESA PAULISTA DE PLANEJAMENTO METROPOLITANO S.A. Atlas de uso e ocupação do solo do município de Diadema. São Paulo, SP, [entre 2004 e 2007]. Disponível em: <https://www.emplasa.sp.gov.br/Cms_Data/Sites/EmplasaDev/Files/Documentos/Cartografia/Atlas/RMSP/Atlas_Diadema.pdf >. Acesso em: 10 abr. 2019.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Subordinado ao Ministério da Economia. Provê informações sociodemográficas, geográficas e econômicas sobre o país. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br >. Acesso em: 2 fev. 2018.