Texto: José Luiz Guerra
Quem nunca passou em frente de uma loja e comprou alguma coisa sem pensar? Ou viu o anúncio de um produto na internet e, sem pestanejar, usou o cartão de crédito para adquiri-lo? Esse comportamento de consumo é a principal abordagem feita pelo Projeto sem Apertos: Psicologia, Juventude e Educação Financeira, projeto de extensão da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) - Campus Osasco.
Criado em 2017, o projeto tem como objetivo propiciar aos jovens instrumentos e estratégias que os auxiliem nas tomadas de decisão econômica. Nesse contexto, tem especial relevância o tema da educação previdenciária, uma vez que essa atividade se debruça sobre aspectos comportamentais que fornecem indícios para a compreensão da dificuldade de realização de planos a longo prazo. Dessa forma, atua diretamente sobre aquele público, em especial nas escolas técnicas estaduais (Etecs) e escolas públicas de Osasco e regiões adjacentes. Desde sua implantação, cerca de 400 pessoas já foram beneficiadas por ele.
O professor do curso de Ciências Atuariais da Eppen/Unifesp e coordenador do projeto, Celso Yokomiso, explica que a estratégia de ação se ampara nos fundamentos da Psicologia Econômica, sobretudo naqueles referentes aos processos de tomada de decisão, como as distorções de percepção e o papel do afeto nas escolhas econômicas; e na Psicologia Social, que se volta ao estudo das configurações sociais na construção de atitudes e pensamentos. “É um modelo de educação financeira que é menos difundido – o modelo descritivo, que busca entender como, de fato, as pessoas reagem diante dos eventos econômicos.” Em outras palavras, o projeto aborda a educação financeira, focando os aspectos comportamentais para que se possa lidar com o planejamento financeiro e os fatores de risco no consumo e no investimento.
O docente argumenta que um projeto de educação dessa natureza, que incorpore os elementos descritos, tem o intuito de reforçar a consciência das pessoas sobre suas fragilidades em termos de comportamento e sobre as dificuldades que são próprias aos que almejam ter uma vida financeira saudável. Tudo isso pode ajudar nas tomadas de decisão que envolvem o consumismo imediatista. “Pensar em ações de longo prazo exige todo um processo de educação e formação. Nossa tendência é a de realizar os desejos o mais rápido possível, e postergar essa realização exige bastante energia e disciplina”, completa.
Durante a aula de Psicologia Atuarial, Celso Yokomiso explica a teoria que servirá de base às propostas dos alunos
Alunos do curso de Ciências Atuariais expõem seus trabalhos
Estudantes de uma das Etecs que participam do projeto assistem às apresentações
Crianças têm o primeiro contato com a educação financeira
Teoria e prática
Durante as aulas de Psicologia Atuarial, que fazem parte da grade de disciplinas do curso de Ciências Atuariais da Eppen/Unifesp, Yokomiso expõe a seus alunos a teoria que servirá de base à proposta a ser apresentada nas Etecs e em outras escolas públicas. Após breve explicação, os estudantes reúnem-se em grupos para discutir de que forma colocarão em prática os ensinamentos transmitidos em aula.
Marcela Ginesta, do quarto termo do curso, é uma das estudantes que integra o projeto e, junto com os demais componentes de seu grupo, está elaborando uma atividade lúdica voltada para crianças. “Nós escolhemos trabalhar com crianças justamente por elas serem mais impulsivas e imediatistas; tentaremos, então, utilizar alguns conceitos estudados em aula.” Para ela, a extensão contribuirá para sua carreira acadêmica. “Quando explicamos alguma coisa aos outros, compreendemos melhor, pois colocamos em prática o que aprendemos na sala e na vida pessoal, o que é uma grande experiência. Você está se desenvolvendo, exercitando a habilidade de falar em público”, acrescenta.
Rodrigo Eiji, discente do curso de Ciências Econômicas, optou pela Psicologia Atuarial como disciplina eletiva. Além de se interessar pelo projeto, o tema o ajudou a mudar de ideia em relação à carreira acadêmica. “Fiz essa escolha porque, na verdade, queria mudar para o curso de Psicologia, mas, nesse caso, teria de prestar um novo vestibular. Quando analisei a grade curricular e identifiquei essa matéria, quis me inscrever.” Eiji afirmou que participar do projeto também o ajudará no desenvolvimento da comunicação e na interação com as pessoas.
Já Gabriel Pereira Alves, do curso de Ciências Atuariais, é bolsista do projeto e responsável pelo contato com as escolas nas quais os trabalhos serão apresentados. Seu grupo falará sobre planejamento financeiro para os jovens, relacionando-o ao envelhecimento, à universidade e ao intercâmbio. Para Alves, os projetos de extensão são essenciais para a interação com a comunidade. “Assim, podemos sair das quatro paredes da sala de aula e ter a oportunidade de não só aplicar os conhecimentos que adquirimos, mas também impactar a sociedade local e o entorno do campus. É por meio dessas pontes de contato que conhecemos a realidade das pessoas”, conclui.