Preço sugerido do protótipo é três vezes menor que o valor praticado no mercado. Na foto, Teixeira simula uso da bengala (Fotografia: Alex Reipert)
Daniel Patini
O então estudante Caio Henrique Marques Teixeira, do curso superior em Tecnologia Oftálmica da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, atuou no setor de inovação para Tecnologia em Saúde e Ciências Visuais Aplicadas, por meio de seu projeto de Iniciação Científica, onde desenvolveu um protótipo nacional de bengala eletrônica para auxiliar a mobilidade de pessoas cegas ou com baixa visão, chamado Smart Mobb®. A ferramenta se comunica com tecnologias existentes em smart cities (“cidades inteligentes”, em tradução livre), além de detectar e informar a presença de obstáculos. O projeto, orientado por Vagner Rogério dos Santos, docente no Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da EPM/Unifesp, obteve aporte financeiro de do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq).
Teixeira explica que o funcionamento do dispositivo ocorre da seguinte forma: quando os sensores detectam obstáculos no percurso de seu usuário, o sistema vestível (uma pulseira conectada à bengala) é acionado e passa a vibrar, alertando o usuário. “A conexão com tecnologias utilizadas em cidades inteligentes – modelo de gestão urbana baseada em tecnologias de informação e comunicação que melhoram os aspectos da vida urbana – dá-se pela plataforma de IoT (do inglês, Internet of Things), de acesso aberto, que recebe os dados de localização do protótipo via GPS, por meio de aplicativo instalado no dispositivo móvel utilizado. É importante ressaltar que o funcionamento das duas funções ocorre de maneira independente, isto é, para que os motores vibrem indicando presença de obstáculos, não é necessário que o celular da bengala esteja conectado e enviando dados à plataforma IoT, e vice-versa”.
Os dispositivos eletrônicos de identificação de obstáculos (mobiliário urbano e vias públicas, com as respectivas informações) já estão instalados e em fase de testes iniciais nas redondezas do Hospital São Paulo (HSP/HU Unifesp), compondo um sistema ao qual terão acesso idosos, cadeirantes e pessoas com deficiência de mobilidade. A ideia é que os sensores, por meio de conexão sem fio, se interliguem e auxiliem os indivíduos que se deslocam na região compreendida entre a estação de metrô Hospital São Paulo e as três unidades de atendimento do hospital. “Foi a forma que encontramos de, efetivamente, testar a solução em um ambiente real, urbano”, explica Santos.
Segundo o pesquisador, existem atualmente quatro modelos de bengalas eletrônicas comercializados no mundo, produzidos no exterior, que operam de forma similar à Smart Mobb®, embora não se comuniquem com as tecnologias existentes nas smart cities. Outro grande diferencial em relação às atuais bengalas eletrônicas comercializadas é o preço sugerido do protótipo: R$ 1.200,00 ante R$ 4.000,00, ou seja, três vezes menor que o valor praticado. Isso sem considerar a dificuldade na aquisição do produto e na sua manutenção, por ser importado.
Devido à sua relevância, o projeto de IC de Teixeira despertou a atenção do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Eduardo Tuma, que ofertou R$ 200 mil (valor que engloba insumos, bolsas de pesquisa e equipamentos de laboratório) para a sua execução. A ideia é que a bengala integre um projeto maior voltado à melhoria da acessibilidade na capital paulista, que visam aprimorar São Paulo como uma cidade inteligente. O município foi classificado, em 2018, como cidade mais inteligente do Brasil, de acordo com o ranking nacional Cidades em Movimento 2018, divulgado com exclusividade pelo Iese Business School, da Universidade de Navarra, na Espanha.
O pesquisador reforça que, atualmente, a tecnologia está na fase de aprimoramento, considerando itens de design e ergonomia. O registro da marca Smart Mobb® foi feito no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), tendo sido também solicitado ao Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) o depósito da patente do produto desenvolvido, processo que está em andamento atualmente.
Pulseira conectada à bengala vibra quando detecta obstáculos no percurso do usuário (Fotografia: Alex Reipert)
E por falar em acessibilidade...
Projeto do ICT/Unifesp é premiado em simpósio nacional
O projeto desenvolvido por Isadora Muniz, estudante do curso de Engenharia de Computação do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT/Unifesp) - Campus São José dos Campos, conquistou o prêmio de melhor trabalho de Iniciação Científica no 20º Simpósio Brasileiro de Computação Aplicada à Saúde (SBCAS), ocorrido em setembro deste ano.
A proposta vencedora, orientada pela docente Denise Stringhini, tem como objetivo desenvolver tecnologias de baixo custo que auxiliem pessoas com deficiência motora a utilizarem o computador. “Foi muito gratificante ser reconhecida por esse trabalho, que tem grande valor por tentar melhorar a vida de pessoas e por abranger a acessibilidade, que infelizmente é pouco abordada no desenvolvimento de tecnologias”, relata Muniz.
A estudante explica que o trabalho surgiu como uma ação de extensão dentro do programa CodeLab-Unifesp, tendo sido posteriormente contemplado com uma bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti). Ela continuará com essa temática durante seu trabalho de conclusão de curso (TCC).
Sobre o motivo para a escolha do tema desenvolvido, Muniz revela a influência da história de vida de Luciano Nunes do Nascimento, pessoa com deficiência. “Saber dos desafios que ele já enfrentou e continua enfrentando para conseguir atingir sua própria independência no dia a dia – como usar o computador, por exemplo – foi a inspiração para o projeto”, afirma.
Isadora Muniz e Denise Stringhini, junto a Luciano Nunes do Nascimento - que inspirou o trabalho premiado de IC, em uma das salas disponibilizadas pela Proec para testes do projeto (Arquivo pessoal)