Quarta, 19 Outubro 2016 10:12

Outubro Rosa: uma campanha para tocar no fundo do peito

Por José Luiz Guerra

A Campanha Outubro Rosa foi criada em 1990 na cidade de Nova Iorque. Na ocasião, a Fundação Susan G. Komen for the Cure lançou o laço cor-de-rosa, símbolo do combate ao câncer de mama, que foi distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura. Em 1997, entidades das cidades de Yuba e Lodi, também nos Estados Unidos, começaram efetivamente a comemorar e fomentar ações voltadas a prevenção do câncer de mama. Atualmente, durante todo o mês de outubro de cada ano, o mundo todo se mobiliza em prol do combate ao câncer de mama, promovendo ações de conscientização, realizando mutirões de mamografia e colorindo de rosa os principais cartões postais das cidades.

O Câncer de mama no Brasil

Uma análise feita pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) estima que, em 2016, surgirão 57.960 novos casos de câncer de mama no Brasil. Esse número corresponde a 28,1% de todos os tipos de neoplasia que acometem as mulheres, ou seja, de cada quatro tumores diagnosticados, pelo menos um ocorre na mama. Entretanto, apesar da grande incidência, o tratamento da doença tem evoluído ano após ano e, consequentemente, aumentando as chances de cura das mulheres vítimas dessa doença.

O chefe da disciplina de Mastologia e professor adjunto livre-docente da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), Gil Facina, explica que, apesar da grande incidência, a paciente que apresenta câncer de mama diagnosticado precocemente tem grande chance de cura. “Quando há diagnóstico de nódulo de mama de até 2 cm de diâmetro sem presença de doença na axila, é possível curar essa paciente em cerca de 90% dos casos”. E uma das principais formas de se diagnosticar um tumor mamário precocemente é por meio da realização anual da mamografia. “Com este exame é possível, em várias situações, identificar a lesão mamária até dois ou três anos antes desta se tornar palpável”, diz Facina. 

O mastologista afirma que, na maioria das pacientes, o exame de imagem, associado ao exame clínico feito por um especialista, são capazes de identificar um nódulo. Em casos mais específicos, quando a paciente possui mutações genéticas favoráveis ao surgimento do câncer de mama, se faz necessária a utilização de outros exames, como a ressonância magnética, que poderia aumentar as chances de diagnóstico.

Vários tipos de uma mesma doença

Existem diversas variações de tumores de mama e esses tipos são identificados por meio de biópsias. “Você precisa da biópsia e do contexto todo para saber se a doença está localizada apenas na mama ou se ela atingiu alguns linfonodos da axila, e isso poderia mudar o tratamento”, afirma o docente. Segundo ele, o tratamento clássico visa a retirada da lesão com margem de segurança e o estudo dos linfonodos axilares. Em algumas situações, quando a mama não é totalmente retirada, os tecidos vizinhos podem ter sido afetados. “Nesses casos, deve-se realizar a radioterapia e, em situações específicas, também fazer a quimioterapia. A associação de tratamentos é que vai aumentar a chance de cura da paciente”, completa.

É possível prevenir

A prevenção do câncer de mama é dividida em diferentes níveis. A primária acontece antes mesmo do surgimento da doença, geralmente nas pacientes que possuem predisposição em desenvolvê-lo. “Em algumas situações a prevenção primária pode ser feita com medicamentos, por exemplo, nas pacientes que fazem biópsia e que tem um tecido alterado, mas não é câncer”, pontua o mastologista. Para essas pacientes, que têm risco maior de desenvolver a doença, podem ser ministrados medicamentos que reduzem esse risco em cerca da metade. “Mas esses casos são exceções”, completa. Já a prevenção secundária corresponde ao diagnóstico precoce da doença, feito por meio da mamografia, em uma fase na qual a doença ainda não é palpável.

Há também a prevenção primária genérica, decorrente da promoção da saúde, que envolve a mudança de hábitos, como perder peso, praticar atividades físicas regularmente e evitar o uso de álcool e tabaco. “Estima-se que, atualmente, um terço dos cânceres do mundo são decorrentes do estilo de vida da paciente”, pondera Facina. No caso do câncer de mama, o uso prolongado de anticoncepcionais hormonais e as terapias de reposição hormonal, especialmente aquelas com uso combinado de Estrogênio e a Progesterona, podem elevar um pouco o risco de desenvolver a doença. “É um pequeno aumento de risco, mas que é muito inferior ao benefício que essa paciente tem em relação ao controle, por exemplo, de uma osteoporose”, explica. “Geralmente não é uma contraindicação, mas a somatória de vários fatores pode desencadear o câncer de mama em pacientes que apresentam predisposição genética, por exemplo”, completa.

Derrubando mitos

Gil Facina afirma que não há comprovação científica de que produtos de beleza e higiene, tais como cremes e antitranspirantes sejam agentes facilitadores da ocorrência da doença, a menos que esses produtos possuam hormônios em sua composição. O estresse também pode ser um fator contribuinte, mas, de acordo com o docente, é um fator mais difícil de se controlar, comparando-se com o álcool e o tabaco, por exemplo. 

As mulheres que são portadoras de mutações genéticas que favoreçam o surgimento de tumores precisam, além do acompanhamento regular por meio de mamografia e de exames mais específicos, como os de ressonância magnética, de avaliação para se discutir cirurgias redutoras de risco, tais como a de retirada das mamas, das trompas e dos ovários. “No entanto, isso corresponde a uma pequena parte da população, menos de 10% dos casos. Entre 80% e 90% das vezes, o caso de câncer é o primeiro da família”, diz o médico. Ainda segundo ele, essa maioria de casos pode ser acompanhada da forma convencional. “Se houver alguma alteração no exame, se faz um complemento, como ultrassom, biópsia e assim por diante”, complementa.

Sobre o autoexame, vários estudos avaliaram a sua importância no diagnóstico precoce e, principalmente, na mudança do índice de mortalidade. No entanto, nenhum deles apontou que a conduta contribui com o diagnóstico precoce e a redução da mortalidade. “O autoexame é importante para a conscientização da mulher da importância de se avaliar e a fim de que ela note algumas alterações importantes, como a alteração da coloração da pele, retração da pele e do mamilo e presença de nódulos, que são sinais que alertam, mas não denotam doença inicial. O mais importante é o exame físico periódico feito por um profissional da área, associado à mamografia”, alerta Facina.

Por fim, o docente aponta que, nos últimos 20 anos, o avanço da medicina permitiu a ampliação da chance de cura do câncer, especialmente o de mama. “A mamografia teve um avanço muito importante, possibilitando o diagnóstico de lesões não palpáveis em cerca de 30% dos casos. A gama de medicamentos quimioterápicos e de terapias-alvo desenvolvidas nos últimos 20 anos é muito grande. Hoje há terapias específicas que causam menos efeitos colaterais e que trazem grande benefício para o tratamento daquele câncer, o que aumenta muito os índices de cura. O que a mulher de hoje deve saber é que ela tem que procurar fazer o diagnóstico em fase inicial e, com isso, frente a uma lesão não palpável ou lesões abaixo de 2 cm, a chance de cura é altíssima”, finaliza.

Clique aqui e confira o relato de profissionais e pacientes do Ambulatório de Mastologia do Hospital São Paulo, hospital universitário da Unifesp. Conhecido como "Casa da Mama", o setor é referência no tratamento do câncer de mama. 

 

Lido 11048 vezes Última modificação em Terça, 24 Outubro 2017 16:31

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