Quarta, 30 Novembro 2016 12:33

Pesquisadores da Unifesp descrevem primeiro caso de glaucoma congênito decorrente do vírus zika

A possibilidade de um vírus causar glaucoma congênito abre novas perspectivas nas pesquisas sobre o tema

Por Ana Cocolo

Além das lesões oculares – principalmente na retina e no nervo óptico – em bebês infectados pelo vírus zika já reveladas, um novo problema aumenta o alerta sobre Síndrome da Zika Congênita e sobre seus efeitos cada vez mais surpreendentes e devastadores.

Essa é a primeira vez que é descrito na literatura científica a presença de glaucoma congênito em um bebê com comprovada infecção pelo vírus zika. Doença rara e grave, pois pode levar à cegueira permanente, o glaucoma congênito é caracterizado pelo aumento da pressão intraocular em crianças portadoras de má formação nos olhos.

O trabalho, publicado na revista Ophthalmology, da Academia Americana de Oftalmologia, foi realizado em conjunto por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Hospital Roberto Santos (Salvador/BA), da Universidade de Yale (EUA) e dos laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Evandro Chagas.

No artigo, os autores relatam o caso em um bebê de três meses de idade, nascido em Salvador (BA), com sorologia positiva para vírus zika e negativa para dengue e outras possíveis causas de infecções congênitas. A criança apresentava microcefalia, alterações dos membros inferiores, além de outras alterações cerebrais, como o desenvolvimento incompleto do corpo caloso (parte do cérebro que liga os hemisférios esquerdo e direito) e lisencefalia, também conhecido como “cérebro liso”, devido à falta de sulcos e reentrâncias que observamos em um cérebro normal.  

De acordo com os pesquisadores, a criança apresentava aumento do globo ocular direito, associado à fotofobia – sensibilidade e intolerância à luz –, e lacrimejamento persistente, além de irritabilidade à exposição e à luminosidade. Os exames oftalmológicos acusaram aumento do diâmetro da córnea no olho direito, enquanto no olho esquerdo apresentava-se dentro da normalidade. A pressão intraocular do olho alterado foi duas vezes superior (30 mmHg) ao normal de 14 mmHg, encontrada no olho esquerdo. A córnea do olho direito também apresentava um aspecto ‘azulado’, consequência do importante edema causado pelo aumento da pressão intraocular.

Ação rápida para evitar danos

Rubens Belfort Jr., professor do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), um dos autores do estudo, explica que a possibilidade de um vírus causar o glaucoma congênito abre novas perspectivas na pesquisa sobre a Síndrome da Zika Congênita e em outras situações onde não se esperaria haver infecção viral associada.

O bebê avaliado foi submetido à trabeculectomia, cirurgia para tratar o glaucoma congênito do olho direito, o que normalizou a pressão intraocular e melhorou a irritabilidade, a fotofobia e o lacrimejamento, além de reduzir o edema corneano. “Por ser uma doença de alto potencial de perda visual irreversível é de extrema importância que todos os profissionais de saúde estejam atentos à possibilidade da ocorrência de mais essa manifestação da infecção congênita pelo vírus zika, com diagnóstico rápido e cirurgia, muitas vezes, imediata”, afirma Belfort Jr.

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