Quinta, 01 Dezembro 2016 12:50

Opinião: Pesquisadora da Unifesp analisa relações entre Brasil e Cuba

Morte de Fidel Castro lança luz às questões que indagam o futuro da política nos países de toda América

Por Regiane Nitsch Bressan*

Foto de Regiane Bressan As relações entre Brasil e Cuba mantiveram-se distantes ao longo do governo militar no Brasil. Em 1985, houve aproximação nestas relações, as quais intensificaram gradativamente. No ano de 1992, sob governo de Fernando Collor, houve tentativa de trocar votos em eleições para postos em organizações internacionais. Esta prática perpetuou-se ao longo dos governos de Fernando Henrique Cardoso, sob o qual o Brasil realizou novos intercâmbios comerciais com Cuba. 

No entanto, em 1998 o então chanceler Luiz Felipe Lampreia, encontrou-se com importante dissidente cubano, Elizardo Sánchez, algo inesperado para as relações entre ambos os países, embora amenas, configuravam-se pacíficas.

Devido à corrente política-ideológica e intento de intensificar as relações do Brasil com toda a região, a política externa de Lula foi fundamental para estreitar os vínculos brasileiros com a ilha. O Brasil foi um dos proponentes da Comunidade de Estados do Caribe América Latina e (CELAC), a qual agregou o Grupo do Rio e a Cúpula da América Latina e do Caribe (CALC), promovendo a integração e o desenvolvimento dos países América Latina e Caribe. A CELAC configura nova oportunidade para a inserção de Cuba em projetos regionais, fazendo frente à Organização dos Estados americanos (OEA), na qual Cuba não participa, mas participam 

Estados Unidos e Canadá.

Durante o governo de Rousseff, as relações bilaterais entre o Brasil e Cuba foram bastante positivas e prósperas. Politicamente, os dois países convergiram na importância da integração regional e na defesa de posições comuns em importantes foros internacionais. Ao longo de seu governo, Rousseff fez duas visitas oficiais a Cuba. A última, em janeiro de 2014, quando ela inaugurou junto a Raúl Castro, as obras de modernização do Porto de Mariel, financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O projeto resultou no primeiro terminal de contêineres em um porto no Caribe, constituindo o principal porto de Cuba, essencial para a integração do país caribenho na economia global. A proposta de criação de uma Zona de Desenvolvimento Especial (ZED) na região de Mariel, orientada para a exportação, estimulou também maior presença de empresas brasileiras em Cuba. 

Na mesma direção, as relações comerciais aumentaram significativamente. As exportações brasileiras para Cuba passaram de US$ 73 milhões em 2002 para US$ 568 milhões em 2012. Por sua vez, as importações de Cuba para o Brasil passaram de US$ 10 milhões em 2001 para US$ 96 milhões em 2013. Houve também maior diversificação comercial a partir deste período. 

A intensificação das relações bilaterais também se expressou através da participação de profissionais cubanos no “Programa Mais Médicos" a partir de 2013. O programa brasileiro foi responsável pela contratação de 11.429 médicos cubanos a trabalharem em áreas pobres, indígenas e distantes do Brasil. 

Embora tenham ocorrido mudanças na política externa do governo de Rousseff, o pragmatismo de seu governo manteve os interesses brasileiros no país caribenho, denotando a importância de Cuba para o Brasil e toda a região.

Com Michel Temer (2016-2018), houve retratação na política externa brasileira (PEB) com a região, inclusive com Cuba. As investigações contra a Odebrecht e BNDES dificultam novos investimentos na ilha e provocam desconfianças na ala opositora à Rousseff. 

Com Serra como novo chanceler retomam-se políticas voltadas aos países do norte, em detrimento daquelas aos países latino-americanos. Ainda assim, os ganhos pragmáticos estão mantidos, sobretudo comerciais nesta relação.

*Professora do curso de Relações Internacionais Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN/Unifesp), doutora e mestre em Integração da América Latina - PROLAM/USP, membro da Rede de Pesquisa em Política Externa e Regionalismo (Repri) e da Rede Brasileira de pesquisadores Latino-Americanistas e Caribeanistas (Rede BLAC). 

Imagem de Cuba
Vista da região de Cuba (Crédito da foto: Regiane Bressan)

As opiniões expressas no artigo não representam a posição oficial da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

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