Características físicas refletem no sistema da fala
Resultado contribuirá para maior precisão diagnóstica e adequação terapêutica dos profissionais em fonoaudiologia
Por Juliana Narimatsu
Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana (Fonoaudiologia) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concluiu que o biotipo, um dos fatores de distinção entre os indivíduos, reflete nos padrões de fala de jovens adultos. O resultado foi comprovado em dissertação de mestrado da estudante Patricia Takaki, sob orientação da professora Silvana Bommarito.
A avaliação física envolveu a verificação do biotipo e do tipo facial dos indivíduos. Biotipo é caracterizado pela medição da estatura em relação ao tronco, proporção essa vista entre a altura e largura da face. “Segundo a escola italiana, aquele que possui extremidades do corpo mais desenvolvidas que o tronco, por exemplo, tem o rosto tipicamente estreito. No entanto, se o tronco é maior que os membros, a tendência é ter a face larga”, explica Patricia. Tais variáveis também interferem no tamanho do pescoço, nas cavidades oral e nasal e no diâmetro do trato vocal – sistema ressonador composto pela boca, nariz e faringe, essencial para a formação da fala, modelando o som.
Já na análise da voz, os participantes gravaram emissões das vogais sustentadas A, E, I e U na mesma intensidade da fala habitual, mas com a necessidade de emitir o máximo possível. A letra E sustentada permite extrair o Tempo Máximo Fonatório (TMF), medida respiratória que avalia o comportamento vocal, ou seja, a habilidade de controle aerodinâmico do ar pulmonar e a eficiência da laringe.
A pesquisa constatou que, apenas em homens, quanto mais longo o tronco, menor é o espaço faríngeo e anterior à língua. Por consequência dessas cavidades mais estreitas, maior é a abertura de boca e o deslocamento da língua no sentido vertical. Foi possível verificar ainda que o tipo de face também está relacionado com o espaço faríngeo e anterior à língua, isto é, quanto mais longo o rosto, menor esse espaço. “Indivíduos como face curta tendem a apresentar valores de formantes maiores, como é o caso dos cantores líricos, os quais é possível visualizar até o F4, uma voz robusta e cheia de harmônicos”, comenta a orientadora.
Na análise do tipo facial com as medidas da voz e fala, verificou-se uma diferença entre homens e mulheres de face longa, ao analisar a emissão da letra A em relação ao formante F3. A média do sexo masculino foi menor do que o feminino, já que apresentam configurações de cavidades diferentes, apesar de serem classificados com o mesmo tipo facial.
“Outro achado importante neste estudo é que o biotipo não apresentou correlação com o tipo facial, o que contradiz a teoria da simetria proposta pela escola italiana. Uma hipótese seja a grande miscigenação existente na população brasileira, o que faz com que haja mudanças nas proporções corporais de maneira desordenada e descontrolada. Isso ressalta a relevância dos profissionais avaliarem o indivíduo como um todo e respeitar suas características particulares”, conclui Patricia.