Segunda, 19 Dezembro 2016 09:27

Características físicas refletem no sistema da fala

Resultado contribuirá para maior precisão diagnóstica e adequação terapêutica dos profissionais em fonoaudiologia

Por Juliana Narimatsu

Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana (Fonoaudiologia) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concluiu que o biotipo, um dos fatores de distinção entre os indivíduos, reflete nos padrões de fala de jovens adultos. O resultado foi comprovado em dissertação de mestrado da estudante Patricia Takaki, sob orientação da professora Silvana Bommarito. 

Para o trabalho, foi realizada uma avaliação física e vocal de 124 voluntários, entre homens e mulheres, de 18 a 45 anos. “É relevante compreender a relação entre as medidas corporais e a voz para maior precisão diagnóstica e adequação terapêutica, permitindo definir os exercícios mais adequados, as quantidades e frequências, e os limites que podem ser esperados de cada caso”, aponta Patricia.

A avaliação física envolveu a verificação do biotipo e do tipo facial dos indivíduos. Biotipo é caracterizado pela medição da estatura em relação ao tronco, proporção essa vista entre a altura e largura da face. “Segundo a escola italiana, aquele que possui extremidades do corpo mais desenvolvidas que o tronco, por exemplo, tem o rosto tipicamente estreito. No entanto, se o tronco é maior que os membros, a tendência é ter a face larga”, explica Patricia. Tais variáveis também interferem no tamanho do pescoço, nas cavidades oral e nasal e no diâmetro do trato vocal – sistema ressonador composto pela boca, nariz e faringe, essencial para a formação da fala, modelando o som.

Já na análise da voz, os participantes gravaram emissões das vogais sustentadas A, E, I e U na mesma intensidade da fala habitual, mas com a necessidade de emitir o máximo possível. A letra E sustentada permite extrair o Tempo Máximo Fonatório (TMF), medida respiratória que avalia o comportamento vocal, ou seja, a habilidade de controle aerodinâmico do ar pulmonar e a eficiência da laringe.

Com as vogais A, I e U, obtém os valores dos três formantes (F1, F2 e F3), que expressam, em frequência, a fala. Cada um deles está ligado há uma parte do trato vocal, sendo a abertura da boca e o deslocamento vertical da língua (F1), o deslocamento horizontal da língua (F2) e o espaço faríngeo e anterior a língua (F3). “Os formantes são frequências da ressonância no trato vocal, representando grupos harmônicos amplificados; são picos de energia em uma região do espectro sonoro, isto é, a fotografia da voz”, pontua Silvana.

A pesquisa constatou que, apenas em homens, quanto mais longo o tronco, menor é o espaço faríngeo e anterior à língua. Por consequência dessas cavidades mais estreitas, maior é a abertura de boca e o deslocamento da língua no sentido vertical. Foi possível verificar ainda que o tipo de face também está relacionado com o espaço faríngeo e anterior à língua, isto é, quanto mais longo o rosto, menor esse espaço. “Indivíduos como face curta tendem a apresentar valores de formantes maiores, como é o caso dos cantores líricos, os quais é possível visualizar até o F4, uma voz robusta e cheia de harmônicos”, comenta a orientadora.

Na análise do tipo facial com as medidas da voz e fala, verificou-se uma diferença entre homens e mulheres de face longa, ao analisar a emissão da letra A em relação ao formante F3. A média do sexo masculino foi menor do que o feminino, já que apresentam configurações de cavidades diferentes, apesar de serem classificados com o mesmo tipo facial.

“Outro achado importante neste estudo é que o biotipo não apresentou correlação com o tipo facial, o que contradiz a teoria da simetria proposta pela escola italiana. Uma hipótese seja a grande miscigenação existente na população brasileira, o que faz com que haja mudanças nas proporções corporais de maneira desordenada e descontrolada. Isso ressalta a relevância dos profissionais avaliarem o indivíduo como um todo e respeitar suas características particulares”, conclui Patricia.

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