Por José Luiz Guerra
Você já ouviu falar em pré-eclâmpsia? Apesar do nome difícil, o problema é recorrente e pode ser grave, se não receber os devidos cuidados. Com o intuito de conscientizar a população e profissionais da saúde sobre o problema, a Sociedade Internacional de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez (ISSHP, sigla em inglês para International Society for the Study of Hypertension in Pregnancy) realiza, no dia 22 de maio, o primeiro Dia Mundial da Pré-Eclâmpsia
A doença atinge cerca de 10% das gestantes em todo o mundo, sendo responsável, anualmente, pela morte de 76 mil mulheres grávidas e de 500 mil crianças. Nos países pobres ou em desenvolvimento, o índice de mortalidade materna alcança os 16%
Nelson Sass, vice-reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professor associado livre-docente do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), que também é membro da ISSHP, explica que a doença tem início na formação da placenta que, quando ocorre de forma desequilibrada, que pode desencadear uma inflamação generalizada no corpo da mulher, afetando órgãos como fígado, rins e cérebro. “Os sintomas clínicos aparecem na segunda metade da gestação, ou seja, após a 20ª semana. Um aspecto importante a ser considerado é que quanto mais cedo aparecem os sintomas, mais grave é sua forma clínica”.
Os principais sintomas da pré-eclâmpsia são: elevação da pressão arterial, dificuldade para respirar, dores de cabeça e abdominal (na região do estômago), náuseas ou vômitos após os três primeiros meses da gestação, inchaço no rosto e nas mãos, alterações na visão, como borramento, luzes piscando ou perda de visão, e ganho de peso de 1 kg ou mais em uma semana. A doença pode causar convulsões, sequelas e, em casos mais graves, a morte da gestante. Entretanto, apesar da gravidade e de não haver prevenção, a identificação de fatores de risco antes do início da gravidez, como sobrepeso, hipertensão, diabetes, primeira gestação, idade superior a 40 anos e histórico familiar são fundamentais para definir um acompanhamento mais cuidadoso dessas pacientes. “É preciso haver uma rede de proteção atenta a esse problema, capaz de identifica-lo o mais cedo possível e direcionar essa paciente a um centro de referência”, ressalta o obstetra.
Para a criança em gestação, as consequências da pré-eclâmpsia podem ser o nascimento prematuro e a morte. “A antecipação do parto e a consequente retirada da placenta é a única intervenção que pode permitir a reversão da doença. Os tratamentos atuais, tais como o uso de medicamentos para reduzir a pressão ou o Sulfato de Magnésio (droga mais indicada para esses casos), são importantes para o controle da paciente, mas não garantem sua estabilidade e nem o prolongamento da gestação”, alerta Sass. Estas intervenções, quando aplicadas em tempo oportuno, podem reduzir os riscos à mãe e ao bebê. Por isso, o obstetra reforça a importância da campanha mundial, ação que pode disseminar informações importantes com vistas à redução dos impactos causados pela doença. “Infelizmente um grande número de mulheres são atendidas em condições muito graves, onde pouco pode ser feito”.
No entanto, Nelson Sass conta que a doença não deve ser encarada como um obstáculo definitivo para aquelas que sonham em ter filhos. É necessário apenas alguns cuidados. “Em primeiro lugar, saber que a doença existe. Em segundo, saber se você está dentro desse grupo de risco e discutir isso com o médico que faz seu pré-natal na primeira consulta e, o mais importante, procurar ajuda profissional sempre que perceber algum dos sintomas”, conclui.
Confira abaixo a entrevista de Nelson Sass, concedida ao programa Perspectivas da Web Mídia Unifesp: