Sexta, 06 Outubro 2017 17:47

Docentes da EPM/Unifesp criam sigla para definição de morte súbita em Parkinson

Após revisão de literatura, grupo identificou carência de publicações na área. Sigla poderá ajudar a padronização das citações 

Por José Luiz Guerra

Docentes do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) criaram uma sigla para padronização das citações sobre morte súbita causada pela doença de Parkinson. A intenção do grupo é fazer com que a SUDPAR (do inglês Sudden Unexpected Death in Parkinson Disease) torne-se um padrão nos estudos na área.

Tal necessidade surgiu a partir de revisão de literatura, publicada no periódico científico Clinics, coordenada pelos docentes Fulvio Scorza, Henrique Ballalai Ferraz e Carla Scorza, na qual foi observada a baixa quantidade de estudos referentes à morte súbita provocada pelo mal de Parkinson, segunda doença neurodegenerativa mais comum em idosos no mundo, tomando como ponto de partida a “década do cérebro”, proclamada pelo ex-presidente dos EUA, George Bush, no ano de 1988. O grupo analisou a quantidade de publicações científicas na área de Parkinson em todo o mundo, até o ano de 2016, em comparação com as específicas sobre morte súbita. O resultado indicou que, enquanto a doença foi alvo de 143.006 estudos, os casos de morte súbita renderam apenas 1.982 artigos.

Fulvio Scorza explica que, apesar do mal de Parkinson ser amplamente estudado por pesquisadores ao redor do mundo, casos de morte súbita em decorrência do problema ainda são negligenciados pela academia. E justamente em um momento no qual a quantidade de idosos, maiores vítimas da doença, está crescendo. “Se pensarmos do ponto de vista dos dados epidemiológicos gerais, a expectativa de vida no mundo em 1980 era de 61,7 anos e aumentou para 71,8 em 2015. No Brasil, a proporção de idosos também aumentou. De acordo com o Banco Mundial, na década de 1960 tínhamos 5% de idosos; em 2010, 10%, e a projeção para 2050 é de 30%”, alerta.

Outro fator negligenciado na doença é o risco de morte. Segundo Fulvio, a taxa de mortalidade relacionada ao Parkinson é maior, geralmente, após cinco anos do diagnóstico. As principais causas são a pneumonia, as doenças cerebrovasculares e cardiovasculares. A morte súbita, no entanto, não costuma entrar nas estatísticas. “Encontramos apenas um trabalho, de 2014, que analisou 451 casos de autópsias, dentre os quais 16 pacientes tinham Parkinson e quatro deles morreram subitamente”. Outro alerta feito pelo docente é o fato de que os portadores de doenças neurodegenerativas geralmente fazem uso de medicações que agem no sistema nervoso e que podem provocar arritmias cardíacas que, em alguns casos, podem ser fatais.

Novos estudos sobre SUDPAR

Além da publicação da revisão de literatura, o grupo do qual Fulvio faz parte iniciou recentemente novos estudos visando compreender a incidência da morte súbita nos casos de Parkinson e avaliar possíveis mecanismos e fatores de risco para ocorrência de SUDPAR. Para tanto, os pesquisadores estão analisando a arritmia cardíaca provocada por altas doses de medicações indicadas para o tratamento da doença, como os neurolépticos. Em paralelo às pesquisas, o grupo também busca parceiros dentro e fora da Unifesp, com o intuito de aumentar a produção acadêmica na área de morte súbita e, principalmente, contribuir para a melhor compreensão do problema.

Lido 9201 vezes Última modificação em Terça, 24 Outubro 2017 13:33

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