Dados preliminares do Perfil socioeconômico, cultural e escolar de alunos de graduação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizado pela Comissão para Estudo do Perfil dos Estudantes de Graduação, apontam que, entre os ingressantes de 2017, há mais diversidade étnico-racial. Os ingressantes são mais jovens, grande parte proveniente de instituições públicas de ensino básico e com renda familiar per capita menor. O estudo compreendeu o sistema de cotas e a trajetória escolar dos estudantes dos seis campi da instituição (Baixada Santista, Diadema, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos e São Paulo).
As mudanças encontradas em relação às edições anteriores do estudo comprovam a eficácia dos esforços feitos pela Unifesp para promover a diversidade e a inclusão entre seus estudantes. Justamente com esse objetivo, a política nacional de reserva de vagas adotada pela universidade destinou 50% delas a alunos cotistas nestes dois últimos anos.
De acordo com os números de 2017, dos quase 3 mil (o número exato é 2.809) ingressantes de graduação, a maioria tem entre 19 e 21 anos de idade, 54,6% são mulheres, 31,6% são pretos, pardos ou indígenas, 52,2% cursaram integralmente a escola pública e 65% possuem renda familiar per capita de até 1,5 salários mínimos.
Historicamente, metade dos estudantes da Unifesp é proveniente de grupos familiares em que os pais não possuem ensino superior completo. Entretanto, percebe-se que há uma queda importante na renda para esse conjunto de pais ao longo da série considerada. Se, em 2015, 1 em cada 5 ingressantes tinha pais sem educação universitária e família com renda igual ou inferior a 3 salários mínimos (relação similar à de 2012), em 2017, 1 em cada 4 ingressantes apresentou perfil semelhante. Houve, portanto, um crescimento importante na proporção de ingressantes classificados na faixa de maior vulnerabilidade.
Em relação ao maior índice de vulnerabilidade social, pretos e pardos continuam em evidência. Se, em 2016, 1 a cada 4 ingressantes foram classificados no maior indicador de vulnerabilidade sociocultural (25,2%), entre pretos e pardos verificou-se que são 2 em cada 5 jovens nessa categoria (ou cerca de 40%). Já em 2017, a vulnerabilidade aumentou para todos, pois 26,2% dos ingressantes estão no maior indicador, mas entre pretos praticamente a metade (48%) dos ingressantes está nessa categoria e entre os pardos são 37%.
Quase 70% afirmaram que sua permanência na universidade seria financiada pelos familiares, destacando ainda que o perfil da renda familiar está fortemente relacionado à carreira escolhida pelo ingressante. Estudantes do curso médico declararam ser provenientes de núcleos familiares com maiores rendimentos médios (8 salários mínimos), sendo que, em 2015, essa mediana era de até 10,5 salários mínimos.
Poucos cursos apresentam rendimentos médios próximos ao curso de Medicina em 2017, o que mais se aproxima é Ciências Econômicas (integral), com mediana de 6 salários mínimos.
Outros dados analisados apontam que os estudantes são solteiros, sem filhos, paulistanos, residem com os pais, são usuários de transporte público, não trabalham, na sua maioria são provenientes de ensino médio público, fazem mais uso da internet tanto como fonte de informação, como para lazer, e são menos ativos fisicamente.
Soraya Smaili, reitora da Unifesp, explica que o processo de expansão iniciado em 2005 e a ampliação do número de vagas e cursos na universidade contribuiu para a inclusão social na universidade pública. “Percebemos que esse levantamento censitário, mesmo que prévio, mostra o nosso constante desafio – e potencial – para ofertar a nossos alunos a assistência estudantil no que tange à alimentação, moradia, transporte e auxílio financeiro a eles. Estamos vivendo um momento de redução dos recursos destinados às universidades federais e buscamos alternativas para que eles sigam com a garantia dos auxílios”.
Destaques entre os campi
Os dados que mais chamam atenção e que destoam do perfil geral traçado são referentes ao Campus Guarulhos, que possui o maior índice de alunos ingressantes provenientes de escola pública (57,1%), na ponta oposta está o Campus Osasco, com menor índice (47,8%).
Desde 2012, Guarulhos é o campus que apresenta o menor percentual de ingressantes autodeclarados brancos e, em 2017, vem seguido por São Paulo, Osasco, Diadema, Baixada Santista e São José dos Campos.
Em relação à renda familiar, houve uma queda nas condições financeiras das famílias de ingressantes em todos os campi. Guarulhos ainda tem o maior número de ingressantes com renda familiar inferior a cinco salários mínimos (71%) e, na contramão, os campi São Paulo e Osasco registram rendas superior a cinco salários mínimos (50% e 53,9%).
Já os campi São José dos Campos e Osasco se destacam por possuírem o perfil predominantemente masculino (67% e 54%).
Comparativos 2012/2017
Em relação ao perfil étnico-racial, concomitantemente à diminuição contínua no percentual de ingressantes autodeclarados brancos na Unifesp – um decréscimo de quase 8% entre 2012 e 2017 –, verifica-se um aumento continuado no percentual de estudantes autodeclarados pardos – 4,5% de acréscimo entre 2012 e 2016 – e pretos – 1,6% de acréscimo.
Em termos de renda familiar, o perfil geral dos ingressantes, que vinha mostrando relativa estabilidade entre 2012 e 2015, apresentou inflexão no ano de 2016 e acentuou essa mudança em 2017. Se até 2015, mais de a metade dos estudantes afirmava vir de famílias com rendimentos superiores a cinco salários mínimos, em 2017, 60,5% declaram pertencer a famílias cujos rendimentos totais não superavam esse montante.
Maior inclusão de estudantes com deficiência a partir de 2018
Com a lei 13.409, de 2016, que dispõe sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência nos cursos superiores das instituições federais de ensino, A Unifesp prevê que cerca de 13% das 2.979 vagas para os cursos de graduação da Unifesp serão reservadas a essa população em 2018 (388 vagas na Unifesp).
No processo de matrícula dos ingressantes em 2017, cerca de 1,85% dos alunos declararam ter algum tipo de deficiência, correspondendo a um universo de 52 pessoas entre o total de 2806 matriculados. Com a previsão de que o ingresso e a permanência de pessoas com deficiência deverão aumentar consideravelmente, de 52 alunos matriculados, em 2017, para 388 das vagas reservadas à esta população a partir de 2018, é fundamental sensibilizar a sociedade e o Ministério da Educação (MEC) para que os recursos financeiros sejam garantidos e a universidade consiga desenvolver estratégias adequadas e singularizadas de apoio à inclusão desses alunos. Atualmente, não há previsão de recursos específicos para o apoio a esses alunos, necessários para a contratação de pessoal de apoio, equipamentos de tecnologia assistiva, reforma das estruturas arquitetônicas, entre outras medidas.