Quinta, 29 Março 2018 09:43

Renato Janine Ribeiro é o novo professor visitante da Unifesp

Ele coordenará o grupo de trabalho responsável pela elaboração do projeto de implantação do Instituto de Estudos Avançados da universidade

Por Daniel Patini

Renato Janine Ribeiro
Renato Janine Ribeiro, novo professor visitante Unifesp (Crédito: Alex Reipert)

Renato Janine Ribeiro está de casa nova: desde o final de fevereiro deste ano, é professor visitante da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Unifesp. Ex-ministro da Educação e professor titular da Universidade de São Paulo (USP), Janine Ribeiro coordenará o grupo de trabalho responsável pela elaboração do projeto de implantação do Instituto de Estudos Avançados da Unifesp. Conversamos com ele sobre esse e outros assuntos na entrevista abaixo. Confira:

Vinda para a Unifesp

Estou muito contente com a minha vinda para a Unifesp, que é uma das melhores universidades brasileiras, e feliz pela possibilidade de ajudar a avançar a instituição nas direções que ela escolher. Eu já fui diretor de Avaliação da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] entre 2004 e 2008 e, portanto, conheço o sistema de pós-graduação. Com isso, foi possível compreender muitas questões sobre os mestrados e doutorados, que é uma área que a Unifesp é particularmente forte. Ao mesmo tempo, ela vem expandindo e criando cursos novos.

Instituto de Estudos Avançados da Unifesp

Um Instituto de Estudos Avançados é um ponto importante em uma instituição de pesquisa. Você pode observar que as 20 melhores universidades brasileiras são as que se destacam na pesquisa, e a Unifesp está entre elas. É muito importante quando você tem um foco em pesquisa procurar por estudos de ponta, dentro da universidade e no mundo, de modo que ela esteja fazendo coisas novas. Então, fazer uma prospecção das possibilidades da universidade em relação às pesquisas mais avançadas é algo essencial. Para isso, será criado esse instituto, com a minha colaboração.

Objetivos do instituto

Internacionalmente, os Institutos de Estudos Avançados têm um foco voltado para a pesquisa. Mas, no Brasil, vários institutos têm se preocupado também com a formulação de políticas públicas. É importante que a comunidade da Unifesp veja em que ela pode avançar em pesquisa e em que ela pode também colaborar para a solução dos grandes problemas brasileiros. Não há uma receita pronta para isso. Os pesquisadores mais destacados precisam ser consultados para a indicação desses novos horizontes na pesquisa. Com a ajuda deles, vamos elaborar um projeto colaborativo que venha da própria Unifesp. As reuniões serão feitas ao longo desse semestre. Não quero fazer um projeto prévio a essas discussões, que seriam feitas em torno de duas questões: quais os principais problemas do Brasil e como a Unifesp pode contribuir para resolvê-los.

Interdisciplinaridade

Há uma tendência muito grande de se delimitar cada vez mais o objeto de pesquisa, exigindo uma especialização cada vez maior dos pesquisadores, o que também é algo muito bom, mas torna as pessoas muito fechadas em suas especialidades. Às vezes, uma injeção de uma área em outra pode representar uma revolução científica. O grande exemplo histórico é o da revolução que a geometria, no começo da modernidade, efetuou em inúmeras ciências. Nos últimos anos, houve um aumento na qualificação das especializações, mas se perdeu o diálogo interdisciplinar. E esse diálogo não trata apenas da troca de ideias secundárias, é a tentativa, muitas vezes, de ver como um paradigma de uma área pode ajudar outra, sem que haja uma melhor que a outra. Se um Instituto de Estudos Avançados tem uma vocação interdisciplinar, ele pode ser muito enriquecedor.

Cursos na pós-graduação

Neste ano, vou oferecer um curso de pós-graduação no segundo semestre sobre utopia e redução de danos. A utopia hoje é vista como sinônimo de inviável, mas a abolição da escravatura, a igualdade de gênero, voto universal, por exemplo, foram frutos de utopias que funcionaram. Por outro lado, há uma outra linha, que é a redução de danos. Você parte do princípio de que a sociedade tem muitos fatores de infelicidade e injustiça, sendo impossível remover todos. E se tentar uma solução radical e utópica, pode piorar a situação. Mas pode-se reduzir os danos e ser mais efetivo nisso, aceitando que a sociedade nunca será totalmente feliz e justa. O grande exemplo, hoje, de utopia nefasta é o da guerra às drogas. Essas são duas grandes linhas filosóficas, a utopia e a redução de danos, mas o que interessa é que são duas grandes linhas de políticas públicas: você pode pensar quando convém uma política utópica e quando convém uma política de redução de danos. O que quero com esse curso é que as pessoas que vão pensar as políticas públicas conheçam bem essas duas ferramentas, para saber quando aplicar uma ou outra. Já no próximo ano, quero montar um curso sobre a apropriação social do conhecimento, também na pós-graduação, que não será necessariamente ministrado por mim. Com esse curso, quero que os estudantes tenham uma visão muito clara de quem se beneficia com os avanços tecnológicos.

Ensino superior brasileiro, educação a distância e qualidade

Houve um aumento muito grande no número de estudantes no ensino superior brasileiro, durante os governos petistas, graças a várias iniciativas, como a reestruturação e a expansão das universidades federais [Reuni], o Fies [Fundo de Financiamento Estudantil] e a educação a distância. Todos esses fatores precisam ser melhorados, mas vou me deter no ensino a distância. Entendo que curso a distância no plano universitário não deve ser bom, não deve ser médio... ele deve ser excelente. Para isso, seria bom que houvesse dois ou três cursos de mesma denominação em todo o conjunto das universidades federais. Você teria um curso com melhores professores. E o curso a distância não tem problema em relação ao número de alunos ou localização geográfica. O ideal seria constituir uma rede com várias universidades com os melhores nomes. Assim, ele pode suprir as deficiências de cursos presenciais, pode atingir um público muito mais amplo do que temos hoje. Outro ponto é que ainda há uma demanda muito grande por títulos no Brasil. Muitos entram em universidades privadas que cobram mensalidades muito baratas, mas em troca fornecem um ensino ruim. Vale dizer que, enquanto a avaliação da Capes fecha mestrados e doutorados ruins, a avaliação do MEC não tem esse poder. Fechar um curso de graduação de má qualidade requer muitos anos. Então, embora seja necessário, é muito difícil garantir a qualidade do ensino superior, sobretudo particular.

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