Terça, 26 Fevereiro 2019 16:45

Empreender é preciso

Empresas de base tecnológica podem compartilhar tecnologia com a indústria e trazer retorno financeiro à universidade

Já parou para pensar que o seu projeto de pesquisa poderia resultar em uma nova tecnologia para o mercado, gerando ganho para a sociedade e retorno financeiro ao pesquisador e à universidade? Esse é um dos pontos em discussão na Política de Inovação Tecnológica da Unifesp, documento que está sendo elaborado sob a condução do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT/Unifesp) e que será submetido à aprovação do Conselho Universitário nas próximas reuniões.

A aprovação do Novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei nº 13.243/2016) trouxe a obrigatoriedade de que todas as Instituições de Ciência e Tecnologia disponham de Política de Inovação. Tal política tem como objetivo regulamentar, não só a propriedade intelectual, mas também definir as normas para compartilhamento de infraestrutura, remuneração de docentes em atividades esporádicas, iniciativas de estímulo ao empreendedorismo, interação com o setor produtivo e até a prestação de serviços, dentre outros elementos.

A diretora do NIT/Unifesp, Pollyana Varrichio, explica que a interação entre a universidade e a iniciativa privada no Brasil, mensurada por meio da concessão de patentes, é pequena se comparada com países desenvolvidos. “No Brasil o setor público é quem mais financia a inovação, enquanto nos países desenvolvidos isso é feito pela iniciativa privada. Nossa relação pedido/patente, em 2015, foi de 800 para 200. Na Coreia do Sul, por exemplo foram 40 mil pedidos e 20 mil concessões no mesmo período”. Na visão de Pollyana, as universidades brasileiras produzem muita pesquisa, mas estão “isoladas” do mercado.

A diretora aponta a importância de criar na instituição uma incubadora para abrigar empresas de bases tecnológicas, popularmente conhecidas como startups ou spin-offs. “O mundo caminha em parcerias e hoje a universidade pública brasileira precisa mostrar para a indústria e para a sociedade que ela consegue resolver problemas da sociedade”.

Crias da casa

Mesmo ainda não existindo formalmente uma incubadora, algumas iniciativas dentro da Unifesp já resultaram em patentes. Uma delas é a Implant Cell®, criada pelos docentes da Disciplina de Cirurgia Plástica da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) Monica e Silvio Duailibi e que atuará no ramo de tecnologia de terapias avançadas. O projeto participou, em 2018, de um curso promovido pela Biominas Brasil/Interfarma, sendo premiada como a startup mais dedicada e figurando entre as 10 melhores das mais de 200 que iniciaram o processo.

Monica explicou que o curso apresentou o horizonte do empreendedorismo, ainda pouco explorado pela academia, e sobre o que o mercado espera do pesquisador. “Questiono o investimento de anos de estudo voltando a pesquisa para a academia. Se quiser devolver à sociedade os recursos gastos na pesquisa, é necessário ter a linguagem do mercado para conversar com o investidor e oferecer essa tecnologia. Além de parcerias nacionais e internacionais, os recursos financeiros acabam sendo devolvidos para a instituição”. Isso não tira, no entanto, a importância da pesquisa acadêmica. “É exatamente o contrário. Para resolver os problemas da sociedade, o que é função do doutor, via de regra o pesquisador precisa de algum conhecimento básico que ainda não tem”, completa Silvio. A diretora do NIT/Unifesp explica que alguns campi da universidade já oferecem disciplinas ligadas ao empreendedorismo, mas que depende da coordenação de cada curso adicioná-las à grade curricular.

Nas principais universidades do mundo, a interação com a indústria é uma realidade e algumas das principais instituições públicas do Brasil, casos da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que já possuem incubadoras de startups. Para a diretora do NIT/Unifesp, esse é um processo necessário. “Os campi têm essa demanda, os pesquisadores estão cada vez mais próximos das empresas e isso é muito natural. Temos regras e legislações bem resolvidas para isso e não estamos dando a tecnologia para uma empresa, mas compartilhando-a e recebendo royalties”, completa Pollyana.

Lido 8153 vezes Última modificação em Sexta, 15 Março 2019 15:04

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