Foi lançada nesta semana uma campanha para a inclusão da paracoccidioidomicose (PCM) ou blastomicose sul-americana, doença endêmica no Brasil e América Latina, na lista de doenças negligenciadas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A PCM é uma importante causa de mortalidade no Brasil, afetando predominantemente os trabalhadores rurais pobres ou pessoas que vivem em favelas urbanas em seu estágio de vida economicamente mais produtivo e requer regimes de tratamento muito longos. As sequelas de pele, pulmão e adrenais são frequentes, reduzindo a produtividade e a qualidade de vida dos indivíduos afetados pela enfermidade. As complicações são muitas vezes muito incapacitantes.
“A paracoccidioidomicose é negligenciada pela pesquisa translacional, e o cuidado de pacientes com a doença é subdesenvolvido quando se trata de diagnósticos, medicamentos e outras ferramentas de controle. O fornecimento de sorologia para referência de centros médicos e a organização de um registro nacional dos casos da doença em todos os estados do Brasil são ambos necessários como ponto de partida”, explica Arnaldo Colombo, médico infectologista, professor da Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e conselheiro sênior da Organização Internacional Global Action Fund for Fungal Infections (GAFFI).
A GAFFI é uma organização não governamental que trabalha pela causa de pacientes portadores de doenças fúngicas, com foco especial naquelas que acometem populações vulneráveis. Recentemente, pesquisadores do grupo, incluindo o professor Colombo, publicaram um artigo na Public Library of Science (PLoS) Neglected Tropical Diseases para que a paracoccidioidomicose (PCM) seja listada como Doença Tropical Negligenciada (DTN). As taxas de incidência da doença indicam de 1-4 casos por 100.000 habitantes/ano em áreas geográficas com endemicidade estável e de 9-40 casos por 100.000 habitantes/ano em áreas hiperendêmicas na região da Amazônia Ocidental.
A PCM atende aos critérios de DTN da Organização Mundial da Saúde (OMS) e se beneficiaria de tal classificação. O diagnóstico com detecção de anticorpos dessa doença precisa ser padronizado, sendo necessários melhores marcadores, assim como testes simples e rápidos. A pesquisa é imprescindível para otimizar o tratamento e minimizar as complicações, particularmente por meio de ensaios clínicos randomizados. Embora o Itraconazol seja o medicamento de primeira linha recomendado, ele não é fornecido gratuitamente na maioria dos centros médicos do Brasil e da América Latina.