Por Valquíria Carnaúba
(Imagem ilustrativa)
O glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo, provocada pela degeneração das células ganglionares. A pressão intraocular está intimamente associada ao desenvolvimento e progressão da doença, e pode ser momentaneamente controlada por colírios específicos. Entretanto, o uso desses medicamentos costuma provocar consequências à saúde de seus usuários, como a doença de superfície ocular, relatadas pelos pacientes como ressecamento, irritação, queimação e visão turva. Os médicos pesquisadores do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) Renata Portela, Carolina Gracitelli, Denise de Freitas e Augusto Paranhos Jr. decidiram, então, levantar a incidência dessas doenças adversas entre indivíduos com glaucoma, comparando-a com a tendência de manifestação entre o grupo controle - voluntários com catarata.
Foram avaliadas 57 pessoas – 30 delas acometidas pelo glaucoma e as outras 27, por catarata – por meio dos questionários como o Índice de Doenças da Superfície Ocular (OSDI) e o Questionário de Função Visual do National Eye Institute (NEI VFQ), exames clínicos e análises específicas por meio de um equipamento denominado ceratógrafo - topógrafo de córnea que permite estudar a superfície ocular e a dinâmica palpebral. Um dos primeiros trazidos para o Brasil, o ceratógrafo permitiu aos pesquisadores da Unifesp viabilizar o primeiro estudo utilizando esse aparelho em pacientes com glaucoma, afim de investigar a doença de superfície nestes pacientes.
Enquanto os questionários avaliaram a qualidade de vida dos pacientes e sua percepção quanto a doenças da superfície dos olhos, os exames clínicos detectaram tempo de ruptura das lágrimas (BUT), quantidade de hiperemia na conjuntiva (aumento do fluxo de sangue) e quantidade ceratite na córnea (inflamação da córnea).
De modo geral, os resultados apontaram para uma pior qualidade de vida dos pacientes com glaucoma, além de uma maior percepção de doença de superfície no grupo glaucoma medido através do OSDI. Assim, o questionário OSDI revelou uma taxa geral de prevalência de doenças da superfície ocular de 71% no grupo de glaucoma, contra 29% no grupo de pessoas acometidas por catarata. Além disso, pelo exame feito no ceratógrafo os pacientes com glaucoma apresentaram índices mais altos de hiperemia conjuntival (inflamação da conjuntiva, membrana transparente e fina que reveste a maior parte do globo ocular) e de presença de ceratite (inflamação na córnea, a lente transparente que protege os olhos).
“Nossos achados não apenas confirmam a alta prevalência de achados clínicos de OSD em pacientes com glaucoma, mas também revelam novos parâmetros objetivos medidos pela análise pelo ceratógrafo. Neste momento com a ajuda do Dr. Gustavo Samico, já estamos coletando dados comparativos para relação entre as doenças de superfície ocular e número de medicações que cada grupo de pacientes com glaucoma usam. Temos uma tendência a subestimar a queixa de doença de superfície nos nossos pacientes com glaucoma e cada vez mais devemos prestar atenção nisso”, comemora Gracitelli, que integra o grupo de pesquisadores.