(Imagem ilustrativa)
Um estudo feito em colaboração entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Greenland Institute of Natural Resources (GINR), da Groenlândia, e a Arizona State University (EUA), publicado na Biology Letters, uma revista científica da Royal Society, analisou o que ficou conhecido como o unicórnio dos mares. Trata-se do narval, uma espécie de baleia (Monodon monoceros) que possui um chifre na cabeça que pode chegar até três metros de comprimento nos machos.
O chifre, na verdade, é um dente canino que cresce de forma exagerada. De acordo com Alexandre Varaschin Palaoro, professor visitante do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, o dente atravessa a pele e fica exposto à natureza, podendo ser usado em diversas funções.
"O grande problema é saber quais são essas funções. O narval é um animal que não gosta de aparecer para as câmeras, passando boa parte da sua vida embaixo do gelo do Ártico. Portanto, fica difícil saber a função sem vídeos dos animais", explica Palaoro, que participou do trabalho.
Hipótese da reprodução
Muitos cientistas discutem se é uma estrutura usada para caçar, sentir o ambiente ou até brigar. O grupo de pesquisadores que realizou este estudo usou um conjunto de mais de 30 anos de coletas dessa espécie. Neste banco de dados, havia informações sobre o tamanho do animal, o tamanho do chifre e o sexo.
"Como machos são os principais portadores dos dentes, imaginamos que o dente tinha uma função sexual apesar do debate", destaca o professor.
Estudos em outros animais mostram que, se estruturas morfológicas possuem funções sexuais, a correlação entre o tamanho da estrutura e o tamanho do corpo será forte – mais até do que isso, a estrutura também será bem variável entre os machos.
"Com nosso conjunto de dados em mãos, testamos essa correlação entre o tamanho do dente e o tamanho do corpo. Para nossa surpresa, a correlação era muito forte: navais grandes possuem dentes muito maiores do que é esperado em uma correlação fraca. Além disso, é claro, a variação do dente também foi mais alta do que a variação em outras características desse animal, como a cauda, por exemplo", complementa Palaoro.
Desse modo, os pesquisadores demonstraram que o chifre do unicórnio é usado durante a reprodução. Provavelmente durante confrontos entre os machos ou para a seleção das fêmeas. Por um lado, os machos podem sinalizar para seus competidores “eu sou maior do que você”, havendo indícios de cicatrizes e alguns comportamentos que suportam essa hipótese. Por outro lado, as fêmeas podem preferir machos com chifres maiores, o que também é possível, mas precisa-se de mais informações para sabermos se isto é possível de ocorrer ou não.