Por Denis Dana
(Imagem ilustrativa)
O avanço dos estudos sobre a covid-19 tem trazido como descobertas diversas consequências da presença do vírus em diferentes partes do corpo. Num estudo inédito, publicado recentemente no periódico inglês The Lancet, o Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, em conjunto com o Instituto da Visão, identificou que o novo coronavírus também pode provocar lesões anatômicas na retina, sob o risco de alterações oftalmológicas.
Até a publicação do estudo, o conhecimento era de que a manifestação da covid nos olhos se dava apenas pela conjuntivite. A descoberta foi possível após avaliação de 12 profissionais da saúde entre 25 e 69 anos, todos infectados com o novo coronavírus. “Examinamos as estruturas oculares dessas pessoas entre os dias 11.º e 35.º de infecção. Embora não tenha havido reclamação com relação à visão, os exames de fisiologia de retina revelaram alterações, lesões anatômicas que podem ter um correspondente funcional”, explica o professor da EPM/Unifesp Rubens Belfort Jr., um dos responsáveis pelo estudo.
Para o exame ocular dos pacientes, foram realizadas tomografia de coerência óptica (OCT), uma técnica de imagem não invasiva capaz de demonstrar alterações subclínicas da retina em condições sistêmicas como diabetes, doença de Parkinson e Alzheimer, além de infecções virais. “Nessa espécie de fotografia, identificamos lesões junto às células ganglionares. Essas células existem também no sistema nervoso central e são importantes no suporte às funções neurológicas. Alguns pacientes também apresentaram micro- hemorragias ao longo das arcadas retinianas”, descreve Belfort.
Após identificar essas alterações, o estudo terá sequência com o acompanhamento desses pacientes e de novos testes. “Apesar de a acuidade visual e os reflexos pupilares estarem normais em todos os olhos examinados, sem sinais e sintomas de inflamação intraocular, as lesões na retina demonstram associação delas com a covid. Mais além, os achados em células ganglionares podem estar associados a manifestações microvasculares ou de sistema nervoso central, correlacionando o novo coronavírus às alterações e sequelas no sistema nervoso”, conclui o professor da Unifesp.