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Em 2020, mais de três bilhões de pessoas em todo o mundo tiveram suas rotinas modificadas em decorrência da covid-19. O isolamento social e restrições de circulação foram medidas empregadas a fim de impedir a propagação do novo coronavírus. Isso deixou estudantes afastados fisicamente das escolas, e a tecnologia se tornou vital para permitir que as crianças interajam, acessem materiais educacionais e façam o que mais precisam: brincar.
Uma pesquisa recente, realizada pelo Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, investigou a associação entre as habilidades motoras, atividade física, uso de mídia e hábitos de tela e duração de sono em mais de 900 crianças em idade pré-escolar (4 a 6 anos).
“As crianças realizaram uma avaliação motora completa, com testes como manuseio de objetos, andar em linha reta, pular, ficar na ponta dos pés, imitação de gestos, noções de direita/esquerda, repetir frases e reprodução de estímulos visuais e auditivos”, explica Erika Felix, fisioterapeuta e doutoranda do Departamento de Psiquiatria da EPM/Unifesp, que conduziu a pesquisa.
Resultados alarmantes
Os pais ou responsáveis foram entrevistados e responderam um questionário para determinar o perfil de atividade física e duração de sono da criança. Os dados foram obtidos quanto aos locais e horários das brincadeiras, tipos de brincadeiras, percepções dos cuidadores sobre os níveis de atividade física das crianças, número de horas de sono durante a noite e o dia, uso da mídia de tela e alimentação enquanto assistia televisão (hábitos de tela) nos dias úteis e fins de semana, todos indicando perfis de atividade infantil. Havia quatro opções de resposta para o uso da mídia de tela: menos de 1h/dia; mais de 1h/dia até menos de 2h/dia; 2h/dia; ou mais de 2h/dia.
“Os resultados são alarmantes. Mais de 55% das crianças avaliadas faziam as refeições assistindo televisão, e 28% passavam longos períodos utilizando mídias de tela (assistindo televisão, jogando videogame, usando um computador, tablet ou telefone celular). Além disso, o uso excessivo de mídia de tela aumentou o risco de as crianças apresentarem habilidades motoras pobres, acentuou a inatividade física e diminuiu as horas de sono”, analisa Erika.
A justificativa para esses achados é de que a infância é um período crucial para o desenvolvimento motor e cognitivo e é significativamente influenciada pelo ambiente. “Assim, recomenda-se que crianças de até 11 anos realizem pelo menos 60 minutos de atividade física por dia, tenham 2 horas ou menos de uso de mídia de tela de lazer por dia e durmam de 9 a 11 horas por noite”, complementa a pesquisadora.
Contudo, com a interação social escassa devido à pandemia, o uso da tecnologia infantil aumentou significativamente. Crianças de todas as idades passavam, em média, cerca de 3 horas de seus dias nas telas antes desta crise, agora as usam por quase 6 horas. Na prática, o número real pode ser ainda maior.
“Por fim, temos que fazer o que é prático e possível no momento para sobreviver, e isso inclui, também para as crianças, em ter mais tempo de tela. Mas a supervisão dos pais é de extrema importância, enfatizando que o tempo na tela não deve substituir a atividade física e o sono suficiente para todos”, conclui Erika.