Por Denis Dana
(Imagem ilustrativa)
Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo traz um importante alerta de como a pandemia do novo coronavírus pode impactar a saúde mental das grávidas, com resultados influenciando, inclusive, o período de parto e pós-parto das mulheres. Das 1.662 gestantes entrevistadas, foi constatada a presença de ansiedade materna moderada ou grave em quase 25% delas. O estudo foi publicado recentemente no Journal of Clinical Medicine.
Para chegar ao preocupante dado, o estudo coletou, entre os dias 1.º de junho e 31 de agosto de 2020, entrevistas com mulheres acima de 18 anos, com gestação igual ou superior a 36 semanas, em hospitais universitários públicos de dez cidades do Brasil: São Paulo, Campinas e Botucatu (SP); Florianópolis (SC); Porto Alegre (RS); Campo Grande (MS); Brasília (DF); Manaus (AM); Teresina (PI); e Natal (RN). As participantes responderam questões sociodemográficas, bem como um questionário específico, abordando seus conhecimentos e preocupações acerca da pandemia.
“Em 23,4% das entrevistadas observamos que a pandemia afetou a saúde mental das gestantes, com presença de ansiedade materna moderada ou grave. Preocupa-se que o aumento da ansiedade materna observado no estudo estava relacionado principalmente à confiança na autoproteção contra a covid-19, bem como relacionado a dúvidas quanto à presença de acompanhante durante o parto e a segurança da amamentação”, explica a professora Roseli Nomura, da EPM/Unifesp, coordenadora do estudo.
O trabalho revelou outras fontes de preocupação e insegurança com impactos na saúde mental das gestantes nas semanas que antecedem o parto: efeitos potenciais da infecção materna no feto e no recém-nascido; a necessidade da manutenção do isolamento social nesse período, isso além de preocupações também compartilhadas pela sociedade como um todo, como a restrição de liberdades individuais, risco de perdas financeiras, o declínio na qualidade de vida e mensagens conflitantes de autoridades governamentais. “Tudo isso pode somar como fatores de estresse e possivelmente desencadear crises de saúde mental”, alerta Nomura.
A professora ressalta que a experiência do parto em plena pandemia também sofre interferências. “No hospital, a retirada de itens pessoais, a redução do número de visitantes e acompanhantes, a redução do equipe de assistência ao parto, o uso de máscaras e equipamentos de proteção individual por todos os profissionais são medidas que possivelmente impactam nas expectativas dessas gestantes.”
De acordo com ela, a ferramenta mais eficaz para combater a ansiedade materna em tempos de pandemia é a informação. “Principalmente, no momento em que estamos vivendo uma alta no número de casos de covid-19, é fundamental que as autoridades públicas considerem intervenções imediatas e empenhem atenção na saúde da mulher, ofertando o máximo de recomendações e cuidados. A confiança em saber como se proteger da infecção e saber como amamentar seu bebê com segurança são medidas simples e eficientes na redução da ansiedade e, como resultado, um final de gestação e parto de maior qualidade, da forma como toda e qualquer mãe sonha”, conclui.