Por Denis Dana
O Laboratório de Neurociência do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) tem avançado num estudo que pode trazer importante contribuição no controle de males causados pela doença de Parkinson. Um grupo de pesquisadores está descobrindo que o consumo da própolis verde brasileira produz efeitos nos parâmetros cardiovasculares, representados pela frequência cardíaca e variabilidade da frequência cardíaca, bem como na neuroproteção dos neurônios dopaminérgicos. O estudo foi publicado recentemente na revista Nutrients.
“A relevância dessa descoberta está diretamente relacionada ao cenário acelerado do envelhecimento da população mundial. Hoje, os idosos correspondem a 8,5% do total de pessoas no mundo e esse índice deve chegar aos 17% em 2050. O envelhecimento é o fator de risco mais consistente para o desenvolvimento de um quadro neurodegenerativo, como o da doença de Parkinson, a segunda doença mais comum nos idosos, depois da doença de Alzheimer, ambas ainda sem cura, sendo a primeira a que mais cresce em prevalência, incapacidade e mortes”, destaca Carla Alessandra Scorza, professora da Disciplina de Neurociência do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da EPM/Unifesp, coordenadora do estudo.
Doença silenciosa
A doença de Parkinson é caracterizada pela morte de neurônios produtores de dopamina numa região do cérebro chamada substância negra, que faz parte dos núcleos da base. O diagnóstico da doença é totalmente clínico, quando aparecem os sinais motores da doença, como a lentidão anormal dos movimentos voluntários, o tremor de repouso, a rigidez muscular. E, quando isto acontece, já houve uma perda robusta dos neurônios dopaminérgicos, ou seja, cerca de 50-60% deles já morreram.
Além dos sinais motores, a doença de Parkinson também está associada a diversos sintomas não motores, que podem surgir antes do aparecimento dos déficits motores e podem servir como possíveis sinais de alerta para o desenvolvimento da enfermidade, incluindo as alterações cardiovasculares, o que aumenta a morbimortalidade e reduz a qualidade de vida das pessoas.
Ação neuroprotetora
No estudo desenvolvido pela Unifesp, um grupo de animais com a doença recebeu a própolis verde, por via oral, durante 40 dias; ao passo que, no grupo controle, os animais com a doença receberam água no lugar da própolis.
“A própolis é um composto natural com importantes propriedades biológicas e possui atividade antiinflamatória, antioxidante, imunomoduladora, antiviral, antimicrobiana, cicatrizante, entre outras. E, de modo importante, é um composto natural produzido pelas abelhas, um produto de baixo custo e fácil aquisição, que não indicaram efeitos colaterais negativos associados ao seu consumo. O produto deve ser padronizado para ser usado de forma funcional e medicamentosa, assim, utilizamos o extrato fitoterápico padronizado de própolis fornecido pela APISFLORA”, explica Carla.
Os resultados mostraram que a própolis reverteu a redução da frequência cardíaca e da variabilidade da frequência cardíaca associadas à doença de Parkinson, sugerindo o seu papel cardioprotetor. “Além disso, a própolis ofereceu ação neuroprotetora e reduziu a morte dos neurônios dopaminérgicos na substância negra e a degeneração das fibras no estriado”, ressalta Valéria Gonçalves, primeira autora do trabalho, realizado durante seu mestrado na disciplina de Neurociência.
“Outra vantagem foi o bloqueio da perda de peso indesejável, que é mais um efeito da doença de Parkinson. Nosso trabalho mostrou que os animais com a Doença e tratados com a própolis tiveram um ganho de peso significativo em relação àqueles que receberam água. Assim, em conjunto com os efeitos cardioprotetores, neuroprotetores e metabólicos, o estudo, que avançará mais, já nos sugere o importante potencial da própolis como terapia adjuntiva no tratamento da doença de Parkinson”, conclui a professora Carla Scorza.